Janela e migração são a confirmação de que, salvo exceções, partidos nacionais não têm consistência

 

Gil Cutrim, Duarte Júnior e Yglésio Moisés: guinadas partidárias sem preocupação com ideologia

A abertura da janela partidária, que permite que deputados estaduais e federais e vereadores troquem de partido sem correr risco de perder o mandato, é mais uma manifestação cabal de que o Brasil, mesmo estando sob uma democracia formal, está longe ser uma democracia política plena, na qual partidos movem a sociedade com o embate de ideias. A iminente migração do deputado federal Gil Cutrim do PDT, um partido de centro-esquerda, para o PSL, agremiação de direita integral, é um exemplo demonstrativo de que, salvo poucos casos, partido político no Brasil continua sendo apenas e tão somente legenda destinada a abrigar políticos de acordo com as suas conveniências. As agremiações não levadas em conta por suas ideologias – concepções que norteiam ações políticas -, doutrinas – métodos que movimentam essas ações – e programas – conjunto de metas e objetivos a serem alcançados. Correm rumores de que pelo menos meia dúzia de parlamentares podem migrar partidariamente.

O tabuleiro político-partidário do Maranhão é fértil nessa contradição. O caso do deputado federal Gil Cutrim ilustra bem essa realidade. Ele era do MDB, um partido de centro, com ramificações à direita e à esquerda, migrou para o PDT, que tem base ideológica de centro-esquerda, e agora caminha para abrigar-se no PSL, exemplo acabado da direita liberal. Um caso revelador de que o deputado federal, um jovem advogado que já foi prefeito de São José de Ribamar, não tem consistência ideológica, o que tornou sempre complicada sua permanência no PDT.

Outros exemplos recentes de migração surpreenderam. O deputado estadual Duarte Júnior, advogado esclarecido, deu uma guinada para a direita: deixou PCdoB, um partido de esquerda, ramificações à esquerda radical e ao centro-esquerda, para se filiar ao Republicanos, uma agremiação de direita liberal, que teve como ícone o mega-industrial mineiro José Alencar, vice-presidente no Governo de Lula da Silva (PT), e que no Maranhão é comandado pelo deputado federal Cléber Verde, tendo como referência o vice-governador Carlos Brandão. Nesta semana, o deputado Fábio Macedo deixou o PDT, pelo qual se elegeu em 2014 e se reelegeu em 2018, devendo, segundo rumores, bandear-se para a direita também ingressando no Republicanos. Esses casos dão-nos a impressão de que esses parlamentares estavam nos partidos errados e encontraram seus ambientes partidários.

Essa contradição tem longa história no Maranhão. Nos anos 90 do século passado, o mundo político foi surpreendido pela filiação do então ex-deputado Ricardo Murad, um político nitidamente de direita liberal, ao PSB. Também no PSB maranhense desembarcou, já neste século, o então deputado federal Roberto Rocha, que na pele de socialista militante, elegeu-se vice-prefeito de São Luís em 2012 e senador da República em 2014, tendo deixado o partido para retornar ao PSDB. Atualmente, rumores especulam que ele poderá ingressar no Aliança Brasil, agremiação bolsonarista em construção. Nenhum observador da política maranhense entendeu até hoje a filiação do delegado da Polícia Federal Raimundo Cutrim ao PCdoB por mais de seis anos – se elegeu em 2006 pelo PFL, se reelegeu em 2010 pelo DEM, passou uma chuva no PSD e finalmente desembarcou no PCdoB em 2013, após romper com o Grupo Sarney. Também surpreendente a migração do deputado Carlinhos Florêncio, um empresário e fazendeiro que se elegeu duas vezes deputado estadual pelo PHS e mudou para o PCdoB, com o qual não tem identidade ideológica.

Outros migrantes partidários estão saindo da direita para abrigar-se na esquerda. É o caso, por exemplo, do deputado Ricardo Rios, que se elegeu em 2014 pelo PEN, migrou depois para o Solidariedade e finalmente desembarcou no PDT, pelo qual se reelegeu em 2018. Ao mesmo tempo, alguns trocam de partido, mas se mantêm no mesmo campo ideológico. Dois exemplos: o radical de esquerda Marcos, que disputou o Governo do Estado várias vezes pelo PSTU, mudou para o PCdoB, enquanto o deputado federal Carlos Braide trocou o PMN pelo Podemos, permanecendo exatamente no mesmo campo, já que as duas siglas são quase que irmãs-siamesas no campo da direita liberal.

Ao confirmar que está deixando o PDT para ingressar no PSL – partido de direita que abrigou o presidente Jair Bolsonaro e agora está rompido com a ala bolsonarista -, o deputado federal Gil Cutrim diz que vai para “somar”. Talvez encontre lá a identidade partidária que não encontrou no PDT.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Weverton Rocha e Neto Evangelista se movem para viabilizar aliança PDT/DEM

Weverton Rocha e Neto Evangelista: cuidando para viabilizar a aliança PDT/DEM

O senador Weverton Rocha e o deputado estadual Neto Evangelista estariam iniciando articulações efetivas e decisivas para amarrar a aliança do PDT com o DEM para disputar a Prefeitura de São Luís. O presidente do PDT enfrenta no momento uma forte turbulência interna por conta da saída de vários deputados do partido, que será fortemente esvaziado no período da janela partidária. Enquanto isso, o deputado Neto Evangelista cuida de viabilizar o seu projeto, enfrentando também o mal-estar de ver seu partido ameaçado de encolher com as migrações previstas para o período da janela partidária. Ninguém duvida de que, mesmo que os dois partidos sejam esvaziados pela janela partidários, como indicam os rumores, uma aliança PDT/DEM em São Luís, tendo o deputado Neto Evangelista como candidato a prefeito com um vice pedetista, é um projeto, que tem condições de nortear a corrida ao Palácio de la Ravardière.

 

Lançado com festa pelo Solidariedade, Carlos Madeira se mantém em estado inercial

Carlos Madeira: pré-campanha ainda em estado inercial

Inicialmente visto como um projeto promissor, a pré-candidatura do ex-juiz federal Carlos Madeira a prefeito de São Luís pelo Solidariedade estaria presa num perigoso estado inercial. O partido abriu mão de nomes potencialmente fortes como Duarte Júnior, que bateu às suas portas, mas foi descartado, o mesmo acontecendo com Yglésio Moisés, que tentou ingressar na agremiação, mas também foi gentilmente despachado. O comando do Solidariedade apostou todas as suas fichas na candidatura do ex-magistrado, mas começa a se dar conta de que ambos podem ter cometido um monumental erro de avaliação. O sintoma mais claro de que as coisas não andam bem na pré-campanha de Carlos Madeiras foi a entusiasmada presença da deputada estadual Helena Duailibe no ato em que o PP anunciou apoio à pré-candidatura do deputado federal Rubens Júnior (PCdoB), evidenciando defecção na base do SD na Capital. Dentro e fora do partido correm avaliações segundo as quais Carlos Madeira dificilmente terá condições de enfrentar, de igual para igual, Eduard Braide (Podemos), Rubens Júnior (PCdoB), Duarte Júnior (Republicanos) e Neto Evangelista (DEM).

São Luís, 06 de Março de 2020.

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