Comissão parlamentar visita área da refinaria para nada

 

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O ato festivo de lançamento da Refinaria Premium I e o que restou cinco anos e R 1,5 bilhão depois

 

Não se discute o direito e a prerrogativa de uma Comissão Externa da Câmara Federal desembarcar no Maranhão e visitar, com motivação investigativa, o cenário desolador em que foi transformada a área onde seria construída a Refinaria Premium I, da Petrobras, no município de Bacabeira. A visita da Comissão foi válida em todos dos aspectos, menos naquele sobre o qual recaiu a maioria das interpretações: os deputados vieram ao Maranhão em busca de culpados pelo fracasso do projeto. Claro está que o que os trouxe aqui desta vez, por mais autorizado que seja o grupo parlamentar, foi, principalmente, um movimento politicamente esperto dos deputados federais Eliziane Gama (PPS), e Weverton Rocha (PDT), ela de olho nos dividendos eleitorais, ele funcionando como contrapeso na atração das câmeras jornalísticas.

O que aconteceu, de fato, foi mais um evento em que, movida por interesses difusos, a instituição legislativa tenta atropelar o Ministério Público e a Polícia Federal, atraindo os holofotes. Isso porque via de regra o  resultado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) tem sido inócuo.  E, a menos que haja uma mudança radical de curso, com depoimentos esclarecedores, a CPI da Petrobras caminha na mesma direção, servindo apenas como palanque para deputados em busca de espaço.

Até agora a CPI da Petrobras não produziu um resultado sequer, por mais insignificante que fosse, para contribuir com a investigação que vem sendo realizada pelas instituições que têm esse mister como razão de ser, o Ministério Público e a Polícia Federal. Tem somente se valido exatamente de informações colhidas a duras penas por MP e PF para alimentar o show parlamentar. As sessões para tomada de depoimentos foram até aqui rigorosa e absolutamente frustrantes. A começar pelo fato de que todos os convocados com algo a dizer sobre o assunto ali chegaram munidos de decisões judiciais que lhes asseguram o direito de ficar em silêncio. O resultado foram longas e inúteis sessões de perguntas sem resposta, provocações, xingamentos, chantagem emocional, agressões verbais de toda natureza, condenações antecipadas, e, em alguns casos, discursos defensivos de aliados, que para ali foram exclusivamente montar barreiras de proteção. E tudo sem a menor preocupação com a evidência de que o bate-boca é uma guerra política entre situação e oposição. Basta observar atentamente os discursos dos deputados maranhenses que integram a CPI: Eliziane Gama, Weverton Rocha e Aluísio Mendes (PTdoB).

Eliziane Gama trabalha em dois planos. No plano parlamentar, ela adotou com entusiasmo o discurso do PPS, que integra a oposição comandada pelo PSDB e pelo DEM e cujo propósito é desmoralizar e liquidar o PT e o governo da presidente Dilma Rousseff. No plano político, a deputada usa todas as brechas para se projetar nacionalmente, em pré-campanha à Prefeitura de São Luís. O deputado Weverton Rocha dosa, com muita habilidade, seu o discurso de acordo com as circunstâncias, ora como investigador implacável, ora como governista combatendo a oposição e ora como maranhense indignado. Já o deputado Aluísio Mendes é governista e age como policial experiente, dando pitacos aqui e ali, mas deixando a investigação para a sua turma da Polícia Federal.

E por essa conjugação de razões, a Comissão Externa da Câmara Federal, integrada também por deputados cearenses, cumpriu seu roteiro, comeu poeira no descampado de Bacabeira, seus integrantes repetiram seus discursos de indignação a jornalistas, e o grupo partiu sem ter acrescentado uma só vírgula ao que já foi apurado e revelado por PF e MP. Foi sem ouvir, por exemplo, a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), que poderia dizer alguma coisa, mas passa temporada sabática em Miami, e o ex-ministro de Minas e Energia, senador Edison Lobão (PMDB), um dos avalistas do projeto fracassado, e que por ironia trabalha a menos de um quilômetro da sede da CPI em Brasília e já disse o que pretendia dizer num discurso que poderia servir de roteiro para a Comissão.

E vale chamar a atenção para o fato de que o Governo do Estado, que tem tudo a ver com o assunto, se manteve distante, o que é explicado pelo fato de o governador Flávio Dino (PCdoB) ter uma visão diferenciada e mais pragmática do problema. Tanto que, enquanto os deputados se mostravam para as câmeras, ele e sua equipe ouviam palestra do ministro de Assuntos Estratégicos, o controvertido economista e filósofo Mangabeira Unger, sobre o que fazer para transformar o Maranhão num estado econômica e socialmente forte. Nesse pacote entra um projeto mais modesto, e por isso mais viável, de refinaria, concebido pelo governador José Reinaldo Tavares e esquecido nas gavetas da Petrobras.

No mais, os culpados pelo descampado de Bacabeira já estão identificados. E os motivos do fracasso também.

São Luís, 18 de Abril de 2015.

Um comentário sobre “Comissão parlamentar visita área da refinaria para nada

  1. Prezado Corrêa, reafirmo nossa rápida conversa na loja de conveniências ontem. Seu blog se diferencia pela análise lúcida e imparcial dos fatos políticos. Parabéns!

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