Equilibrada, mas contundente, a reação do governador Carlos Brandão (PSB) à declaração preconceituosa contra o Nordeste, dada pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em entrevista publicada na edição de domingo do jornal O Estado de S. Paulo. O chefe do Executivo mineiro comparou estados nordestinos a “vaquinhas que produzem menos”, referindo-se às diferenças econômicas e fiscais entre os estados do Nordeste e os das regiões Sul e Sudeste. Na avaliação de observadores e políticos, o governador Romeu Zema foi preconceituoso e estimulou o discurso de ódio e separatismo usado por militantes da extrema-direita nas redes sociais. Na sua reação, sem citar nominalmente o colega mineiro, o governador do Maranhão defendeu a unidade nacional e afirmou que o ódio e a divisão “não tornarão o País melhor”.
Não foi a primeira vez que o governador de Minas Gerais se referiu de maneira preconceituosa aos estados do Nordeste. Há cerca de três meses, ele se referiu aos sete estados do Sul e Sudeste como “o Brasil que dá certo”, insinuando que os estados do Norte e Nordeste seriam o Brasil que não dá certo. Naquele momento, o governador Carlos Brandão reagiu criticando duramente a declaração e assinando uma Carta na qual ele e seus colegas nordestinos condenaram as declarações do mineiro.
Todas as avaliações feitas ontem por observadores políticos levaram à mesma conclusão: o governador Romeu Zema joga para agradar a direita, especialmente a banda bolsonarista, que é forte nos estados sulistas, com o objetivo de se credenciar como líder e substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como candidato a presidente da República. Suas declarações preconceituosas e agressivas têm sido feitas no âmbito do consórcio formado por governos do Sul e Sudeste (Cossud), onde encontra ambiente para atacar os estados do Nordeste e Norte, apostando em criar condições para se credenciar como líder daquelas regiões. Para ele, no Nordeste e no Norte poucos trabalham e a maioria vive do Bolsa Família.
O que os mesmos observadores não conseguem compreender é como o governador de um estado, que fica no centro do País e tem uma das regiões mais pobres do Brasil, o Vale do Jequitinhonha, onde pessoas morriam de fome antes do Bolsa Família, e que rascunha planos de se candidatar à Presidência da República, pode adotar um discurso dessa linha sem mensurar o peso eleitoral das regiões atacadas. Parece não ter assistido ao desastre eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 exatamente por conta do discurso preconceituoso contra a região.
Há alguns meses, Romeu Zema desembarcou discretamente em São Luís em busca de lideranças que se interessassem pelo partido dele, o Novo, conseguindo a filiação do ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim, segundo colocado na eleição em que o governador Carlos Brandão se reelegeu em um só turno. Não foi muito além disso, a começar pelo fato de que o Novo é um partido de direita, que vez por outra assume posições de extrema-direita e vem fazendo oposição cerrada ao Governo do presidente Lula da Silva (PT), em sintonia fina com o bolsonarismo mais radical. Há duas semanas, o Novo enviou a São Luís o mentor do partido, o cientista político de direita Felipe D`Ávila, que disputou a Presidência da República como linha auxiliar disfarçada do presidente Jair Bolsonaro.
Com seu discurso preconceituoso e estimulando a pregação do ódio, o governador Romeu Zema pode conquistar apoiadores no Sul e Sudeste na mesma proporção de que pode vir a ser fortemente rejeitado, a exemplo do que aconteceu. A reação equilibrada, mas firme, do governador Carlos Brandão nos dois episódios são sinais expressivos de que o governador mineiro atirou duas vezes nos próprios pés.
PONTO & CONTRAPONTO
Dino classifica de “absurdo” a declaração de Zema
Um dos fundadores do Consórcio do Nordeste, quando governador do Maranhão, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, classificou de “absurdo” a declaração do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, segundo a qual os estados nordestinos são “vaquinhas que produzem pouco”.
Na interpretação do ministro da Justiça e Segurança Pública, o governador Romeu Zema pode ter cometido um crime contra a pátria, à medida que sua declaração atiçou militantes da extrema direita, que usaram suas palavras para incitar o ódio e fazer pregação separatista nas redes sociais.
– Está na Constituição, no artigo 19, que é proibido ‘criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si’” – publicou o ministro da Justiça, acrescentando em seguida: “Traidor da Constituição é traidor da Pátria, disse Ulysses Guimarães”.
Na visão do ministro da Justiça, “é absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais”. Para ele, que vem pregando a união dos brasileiros contra o extremismo, incluindo as ideias separatistas a partir de um discurso de ódio, “precisamos de um Brasil forte”.
Ação alimentar de Roberto Costa pode virar programa de Governo
O Governo do Estado está estudando a possibilidade de transformar o “Frango na Mesa”, uma ação assistencialista criada pelo deputado Roberto Costa (MDB) em programa permanente com alcance em todo território maranhense. Quem revelou a iniciativa foi a presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale, ao participar da entrega de uma tonelada de frango a moradores de Bacabal.
“Eu vim a Bacabal conhecer o programa Frango na Mesa, que é um programa pioneiro do deputado Roberto Costa, para que a gente aprenda, conheça bem como funciona e leve para nossa região. É um programa que o governador Carlos Brandão está estudando para ver se expande para todo o Maranhão. Fiquei muito feliz de ver a acolhida, a receptividade, a empatia, a alegria em receber o alimento. É um gesto de carinho e atenção e está de parabéns o deputado Roberto Costa”, destacou a presidente Iracema Vale.
O Frango na Mesa foi criado em 2022 e começou mapeando as áreas onde havia carência maior de alimentos. De lá para cá, o programa já distribuiu mais de 50 mil toneladas de frango, sendo que 35 mil somente neste ano, alcançando mais de 20 mil famílias carentes ou de renda muito baixa. Bacabal foi o município onde a experiências foi lançada.
As declarações da presidente da Assembleia Legislativa aumentaram o entusiasmo do parlamentar com o Franco na Mesa: “Fico muito feliz em saber que o governador Carlos Brandão tem a intenção de levar o nosso programa Frango na Mesa para todo Maranhão. A presidente veio conhecer a nossa ação, quer levar para a sua região e vai compartilhar com o nosso governador a experiência que tivemos aqui de mais uma etapa de atenção e cuidado com a nossa gente garantindo o alimento na mesa”.
São Luís, 08 de Agosto de 2023.