Na segunda metade de Setembro, em meio à repercussão da pesquisa Ibope, a Coluna registrou que, após meses de preparação, a guerra pela Prefeitura de São Luís estava, de fato, começando, com a entrada em cena do jogo político pesado e decisivo, cujos movimentos poderiam alterar radicalmente a posição das peças no tabuleiro da disputa, no qual se destacava a liderança folgada, e aparentemente irreversível, do candidato do Podemos, Eduardo Braide. Nas duas semanas seguintes, três outras pesquisas confirmaram o cenário, levando este espaço a prever que uma luta titânica seria travada para mudar o curso desenhado pelos levantamentos. Ontem, o ambiente da corrida foi sacudido pelo primeiro movimento: a desistência do candidato do Solidariedade, Carlos Madeira, alcançado pelo coronavírus. Ato contínuo, sem vácuo temporal para não deixar dúvidas, Carlos Madeira e o seu partido declararam apoio a Rubens Júnior, candidato da aliança PCdoB-PT-Cidadania-PMB-DC. A manifestação abriu caminho para uma mexida forte na posição das peças no tabuleiro e, por via de desdobramento, nos rumos da contenda eleitoral. A campanha de Rubens Júnior passa a contar também com o apoio do vereador Afonso Manoel e da deputada Helena Duailibe, nomes fortes do partido em São Luís.
O apoio de Carlos Madeira e do Solidariedade a Rubens Júnior pode não representar uma turbinada imediata no seu percentual de preferências. Mas não há como negar que tem forte impacto político no contexto da disputa, podendo o candidato do PCdoB transformar esse cacife em intenções de voto ao longo da campanha. Ontem, do confinamento doméstico imposto pelo coronavírus, que também o infectou, Rubens Júnior festejou o apoio recebido, reforçando o estado de ânimo de três semanas atrás, quando, demonstrando tranquilidade e segurança impressionantes, comentou o resultado da pesquisa Ibope dizendo-se pertencer a um grupo político “vacinado” contra as pesquisas do instituto.
Na avaliação do candidato do PCdoB, a pesquisa DataIlha, divulgada na edição de ontem, e na qual aparece com 7,1% das intenções de voto, pressionando o candidato do DEM, Neto Evangelista (8,5%) e o candidato do Republicanos, Duarte Júnior (10,8%), dentro da margem de erro, sinalizou que sua candidatura começa a deslanchar. Esse retrato reforça o seu discurso de que, ao contrário do que muitos imaginam, a eleição se dará em dois turnos, e que ele será o adversário de Eduardo Braide na rodada final. Um dos seus trunfos – ele próprio confirma – é o apoio declarado do ex-presidente Lula da Silva (PT), que, como é sabido, tem apoio em grande fatia do eleitorado em São Luís. Avalia que os lulistas ludovicenses estejam pulverizados, mas que poderão atender ao chamamento do ex-presidente e apoiá-lo.
De fato, uma leitura mais cuidadosa e aprofundada do cenário redesenhado com a saída de Carlos Madeira e o apoio dele e do seu partido a Rubens Júnior o tornam um candidato muito mais competitivo. Isso porque nada indica que a repentina mudança no cenário beneficie Duarte Júnior ou Neto Evangelista ou outro candidato. E não há dúvida de que o apoio do ex-presidente Lula da Silva, que será ostensivo na propaganda no rádio e na TV, que começa amanhã, poderá fazer muita diferença a favor do candidato comunista apoiado pelo PT. Para começar, não há indicações de que Eduardo Braide, Duarte Júnior e Neto Evangelista tenham, além dos seus discursos, trunfos diferenciados para seduzir o eleitor indeciso e atrair eleitores já inclinados por outros candidatos ao longo da campanha no horário eleitoral gratuito nos meios eletrônicos de comunicação.
É claro que não se pode subestimar a liderança consistente exibida por Eduardo Braide até aqui, nem o potencial de Duarte Júnior e de Neto Evangelista, que podem crescer durante a campanha eletrônica. Por outro lado, qualquer tentativa de minimizar as perspectivas otimistas de Rubens Júnior neste momento pode resultar num duro erro de avaliação.
PONTO & CONTRAPONTO
Soma de fatores desfavoráveis tornou inviável a candidatura de Carlos Madeira
A decisão do juiz federal aposentado Carlos Madeira de sair da disputa para a Prefeitura de São Luís foi causada por uma série de fatores que, somados, tornaram inviável o seu projeto político-eleitoral. Para começar, Carlos Madeira perdeu muito tempo para escolher um partido, tendo conversado com quase todos que não lançaram candidatos, como o PT e o MDB, por exemplo. Quando se definiu pelo Solidariedade, faltaram-lhe tempo e instrumentos para montar uma estratégia que pudesse tornar sua candidatura competitiva. Depois, a pandemia levou o novo coronavírus aos seus pulmões, fragilizando sua saúde de maneira preocupante, a ponto de tê-lo levado à internação hospitalar e, depois, a amargar sequelas, como falhas de memória, por exemplo.
Carlos Madeira deixa uma boa impressão como político: correto, seguro, muito esclarecido, comprometido com causas nobres e com experiência em tomar decisões difíceis. Suas manifestações sobre São Luís e seus problemas revelaram um candidato bem informado e ciente dos imensos desafios que é administrar uma cidade com mais de 1,1 milhão de habitantes e com imensos problemas aguardando solução. Sua carta-renúncia mostra com clareza esses traços, reforçados pelo anúncio de que tão logo se restabeleça plenamente dos efeitos danosos da Covid-19 à sua saúde, ele vai se dedicar às atividades políticas. Com certeza tem condições de contribuir para o exercício da política saudával. Segue a íntegra da carta-renúncia:
Carta ao Povo de São Luís
A convite de amigos, e por sugestão de pessoas simples, representantes da periferia e da zona rural, decidi aceitar o desafio de concorrer à Prefeitura de São Luís nas eleições de 2020. Trouxe comigo as minhas origens, a história de vida, a minha biografia e o desejo de trabalhar ainda mais pela nossa cidade.
Os caminhos que percorri nesses meses de pré-campanha e os primeiros dias de candidatura oficializada não foram fáceis, porque, ao lado de um time de pessoas sérias, éticas, combativas e independentes, compreendi que a luta só valeria a pena se todos abraçassem um projeto de mudança efetiva para São Luís, com uma arrojada pauta de justiça social para todas as áreas da administração municipal.
A pré-campanha foi interrompida ainda no início, por quase três meses, com as restrições decorrentes da pandemia. E no meio do caminho, antes mesmo da nossa convenção partidária, fui alcançado pela Covid-19.
Fiquei por duas semanas em isolamento, cumprindo a quarentena até receber a confirmação de que a carga viral estava zerada. Perdi cerca de oito quilos em 12 dias de hospital. Mesmo frágil fisicamente, tomei a decisão de retomar os compromissos de campanha em respeito ao povo, ao partido Solidariedade e à nossa militância.
Não sabia que o pior ainda estava por vir. Dia após dia a fadiga foi me consumindo e comprometendo a minha fala e o meu raciocínio. Só depois fui informado pelo médico que acompanha o meu caso, Dr. Serafim Gomes de Sá, de que a minha dificuldade respiratória era apenas mais uma das muitas consequências possíveis do coronavírus, aquilo que a ciência está chamando agora de Síndrome pós-Covid.
Quem conhece a minha história sabe que jamais me esquivei de responsabilidades. Mas, aconselhado pela minha esposa, pelos meus filhos e por médicos que acompanham o meu caso clínico, e em nome da minha saúde, tive que tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida: abrir mão de um projeto que hoje reputo coletivo, porque não é mais do Madeira, mas de tantas e tantas pessoas espalhadas pelos bairros e pela zona rural dessa cidade que tanto amo.
Informo, portanto, que hoje retiro a minha candidatura a prefeito de São Luís, por não ter condições físicas de dar continuidade à intensa agenda de compromissos que eu, antes de qualquer outro candidato, fiz questão de não apenas assumir, mas de registrar publicamente em cartório.
Chego até aqui sem qualquer decepção ou mágoa, mas com muita gratidão aos meus familiares e tantos amigos. Agradeço o apoio de todos que trabalharam comigo até agora – equipe de coordenação, militância e candidatos a vereador. Agradeço a compreensão dos nossos eleitores, sobretudo. Agradeço ao Capitão Jeremias, meu companheiro de chapa, pela caminhada leal e destemida.
Agradeço ao meu partido, o Solidariedade, pela acolhida e pelas trincheiras de luta que conseguimos erguer, juntos, em tão pouco tempo. Continuarei na política, como presidente do diretório municipal de São Luís, e no momento oportuno reiniciarei minha jornada partidária na busca permanente por dias melhores para o nosso povo. Porque, como Martin Luther King, continuo acreditando que “pior que o grito dos maus é o silêncio dos bons”.
Como aprendizado, levo para a vida a lição de que, para recuar de uma batalha, é preciso antes de tudo ter humildade e sabedoria para reconhecer os riscos. Faço opção por cuidar da minha saúde. E, se puder oferecer apenas um conselho, direi a todos: cuidem-se! O vírus ainda está no nosso meio e as sequelas da Covid-19 são imprevisíveis. Que Deus nos proteja!
José Carlos do Vale Madeira
Projeto de Othelino Neto de proibir produção e venda de cerol e linha chilena vira lei
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), teve mais um projeto de sua iniciativa transformado em lei estadual, com a sansão, ontem, pelo governador Flávio Dino (PCdoB), da Lei 11.344/2020, que proíbe no estado a fabricação comercial e a venda de cerol, substância constituída de vidro moído e cola, muito utilizado na prática de soltar pipas. A lei também proíbe a fabricação e a comercialização da chamada “linha chilena”, que é um fio encerado com quartzo moído, algodão e óxido de alumínio, ou quaisquer outros produtos que possuam elementos cortantes utilizados na linha de pipas.
À primeira vista, criar uma lei estadual para proibir a fabricação e o uso do “cerol” ou da “linha chilena” pode parecer uma preocupação menor. Mas a verdade é que registros feitos nas emergências hospitalares revelam ser grande o número de pessoas que se ferem, muitas gravemente, em contato com esses materiais. Esses acidentes ocorrem com muita frequência nos períodos em que a brincadeira com pipas é mais intensa, como nos meses de maio e junho, por exemplo. E as maiores vítimas são ciclistas e motociclistas, e também os soltadores de pipas, muitas vezes feridos com gravidades por causa do uso do cerol e da linha chilena.
Ao propor o projeto de lei, o deputado Othelino Neto justificou a proposta com o seguinte argumento: “Apesar de não termos dados oficiais, sabemos que há uma incidência grande de acidentes envolvendo linhas de pipas com cerol, que podem provocar lesões e ferimentos graves ao entrar em contato com a pele. É um risco muito grande para as crianças e adolescentes que participam da brincadeira de soltar pipas, assim como para motociclistas, ciclistas e pedestres”.
A lei sancionada pelo governador Flávio Dino estabelece que o Instituto de Promoção e Defesa do Cidadão e Consumidor do Maranhão (Procon/MA) será o órgão responsável pela fiscalização da comercialização da venda de cerol e de “linha chilena”.
São Luís, 08 de Outubro de 2020.