Todos os sinais saídos de fontes da direita maranhense indicaram que, a exemplo de Brasília e São Paulo, bolsonaristas maranhenses vão usar o feriado cívico de hoje para dizer que também existem no cenário político estadual. São grupos isolados, que se articulam por redes sociais, mas sem uma liderança expressiva, alguém que passe credibilidade e até mesmo funcione como porta-voz local da cúpula nacional. A lógica sugere que esse líder poderia ser o senador Roberto Rocha (sem partido), que se apresenta como aliado de proa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas não há indício de que ele esteja à frente algum movimento de bolsonaristas em São Luís, Imperatriz ou Balsas, por exemplo. Quem até ontem agiu como chefe bolsonarista em terras maranhenses foi a deputada estadual Mical Damasceno, presidente regional do PTB, escolhida diretamente pelo chefe maior do partido, ex-deputado Roberto Jefferson, que está na cadeia por atentar contra a democracia.
Hoje, a banda bolsonarista da política maranhense tem três faces. A primeira é a expressada pelo senador Roberto Rocha, pela deputada Mical Damasceno e pelo prefeito de São Pedro dos Crentes e candidato a governador Lahesio Bonfim (PSL), que não formam um grupo unido nem estão articulados pela os atos deste 7 de Setembro. A segunda face é demonstrada pelo deputado federal Aloísio Mendes (PSC), que como prestigiado vice-líder do Governo na Câmara Federal, mas não se expõe em situações como essa. E a terceira face é a representada pelo deputado federal Edilázio Jr., que preside o PSD no Maranhão, que não esconde sua condição de bolsonarista, mas também não faz questão de escancará-la. Não há registro de que esses três segmentos tenham se juntado e reunido forças para mostrar prestígio ao presidente. Ao que parece – e a Coluna pode estar equivocada -, a manifestação será feita por militantes anônimos, alguns pastores, mas sem a presença de “graúdos da causa” no Maranhão.
Dispersos e sem um líder, os bolsonaristas de São Luís não chegam a formar um contingente capaz de atuar como um grupo o organizado com viés partidário, embora seja fácil identificá-lo pelo confuso viés ideológico que pregam, e principalmente pela zoada que fazem quando estão falando mal dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). E atuam de forma isolada, já que uma parte da direita, esclarecida e moderada, faz questão de deixar claro que não fecha com a linha de ação política do presidente da República. Um exemplo é a prefeita de Lago da Pedra, Maura Jorge, que já foi bolsonarista roxa, perdeu o encanto e hoje é filiada ao PSDB, pelo qual se elegeu, e agora está se alinhando ao projeto de candidatura do senador Weverton Rocha (PDT) ao Governo do Estado. Outros nomes, como o médico Alan Garcez, que chegou a sonhar com o Ministério da Saúde, não dá mais sinais de alinhamento total ao presidente Jair Bolsonaro.
Os diversos atos realizados por bolsonaristas em São Luís demonstraram, de maneira clara e inequívoca, que eles formam uma minoria que, se não tem força política nem eleitoral, é ativa o suficiente para mostrar suas convicções fazendo muito barulho. E nada vai acontecer, além de momentos de tensão aqui e ali, mas sem nenhuma consequência.
A menos que esteja fazendo uma leitura equivocada da realidade, o que parece não ser o caso, a Coluna se identificou integralmente com as expectativas do economista Joel Pinheiro da Fonseca, em artigo publicado ontem no jornal Folha de S. Paulo, disse que, independentemente do sucesso ou do fracasso dos bolsonaristas nos atos do 7 de Setembro, nada muda:
“O Congresso continuará se fartando de emendas. O Supremo continuará com o inquérito das fake news — ou, melhor dizendo, das milícias digitais. O voto impresso continuará fora da pauta. A inflação continuará a corroer o poder de compra da população. A situação ambiental continuará a se deteriorar. A educação continuará abandonada. A agenda econômica, antes tida como a graça redentora do desastre em todo o resto, continuará se resumindo a projetos eleitoreiros — novo Bolsa Família, reforma tributária desfigurada— e gambiarras para gastar sem violar o teto. Por fim, as investigações sobre o passado da família Bolsonaro, que aparentemente enriqueceu com esquemas milionários de desvio de dinheiro público, não vão deixar de revelar podres”.
PONTO & CONTRAPONTO
MP faz sua parte e recomenda medidas a prefeitos e ao secretário de Segurança
Em meio ao zumzum tenso que tomou de conta do País por causa do movimento feito pelo presidente Jair Bolsonaro para transformar o 7 de Setembro numa demonstração de poder – o que o governador Flávio Dino avalia como um “ensaio de golpe” -, o procurador geral de Justiça, Eduardo Nicolau, entrou no circuito e, com a responsabilidade que tem o Ministério Público nesse contexto de crise institucional, emitiu duas recomendações destinadas a garantir o direito de manifestação e, ao mesmo tempo, evitar que esse direito seja atropelado por abusos e atentado contra a ordem pública.
A primeira recomendação foi dirigida aos prefeitos, a começar pelo titular de São Luís, Eduardo Brande (Podemos): onde houver guardas municipais, sejam adotadas todas as medidas necessárias para assegurar a proteção dos bens, serviços e instalações municipais, durante as manifestações.
A segunda recomendação foi endereçada ao secretário de Estado da Segurança Pública, Jefferson Portella, no sentido de que sejam adotadas todas as medidas necessárias para assegurar a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
As recomendações mostram que o Ministério Público do Maranhão se encontra antenado com a realidade e ciente do seu papel como instituição cuja razão de ser é exatamente garantir o respeito às leis.
Disputa difícil pela presidência da Câmara Municipal de São Luís
Todas as evidências indicam que a sucessão na presidência da Câmara Municipal de São Luís, marcada para Abril do ano que vem, será bem mais difícil do que estão prevendo alguns observadores. Independentemente de quem vai se candidatar, a eleição será uma medição de forças poderosas. A primeira delas é o prefeito Eduardo Braide (Podemos), que certamente tem a sua preferência no bolso do colete e vai colocar as cartas na mesa na hora adequada. Ao mesmo tempo, o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), que na época estará assumindo o Governo, poderá, a pedido de aliados, mexer pedras apoiando um nome. O senador Weverton Rocha (PDT), pressionado pelo PDT, que tem no posto hoje ocupado pelo pedetista Osmar Filho sua última base de sustentação na Capital, vai tentar manter seu partido no comando da Casa, provavelmente negociando com o prefeito Eduardo Braide. E não será surpresa se até o governador Flávio Dino (PSB), que na época estará de desincompatibilizando para concorrer ao Senado, vier a colocar a mão no ombro de um candidato viável.
São Luís, 7 de Setembro de 2021.