Com exceção do PDT, que já tem o prefeito Edivaldo Jr. como candidato à reeleição, e do PPS, que já definiu a candidatura da deputada federal Eliziane Gama, os grandes partidos só vão bater martelo definindo candidatos ou alianças depois que o Senado anunciar o resultado do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), em meados ou no final de maio. Até lá, o que houver de conversa sobre a corrida para a Prefeitura de São Luís no PMDB, no PSDB, no PT e no PSB será apenas chama de fogo brando para alimentar o cenário, porque nenhum desses partidos vai se posicionar em meio a um processo de deposição presidencial que pode mudar radicalmente a posição de cada um deles no contexto nacional e, por via de desdobramento, no dia a dia dos municípios. Há entre eles expectativas alvissareiras de chegar ao poder, o que lhes dará ânimo para planejar campanhas otimistas, como também existe possibilidade de chegarem ao fim da crise atirados no mais profundo limbo político, o que os obrigará a lutar com unhas e dentes pela sobrevivência.
O PMDB é o partido mais envolvido com a crise, o que explica sua indefinição na escolha do candidato que mandará para as ruas para enfrentar o prefeito Edivaldo Jr. e a deputada Eliziane Gama. A explicação para essa postura é simples e ganhou forma depois que o pedido de impeachment chegou ao Senado da República e com previsão quase unânime de que seguirá em frente, com o afastamento e julgamento final da presidente Dilma Rousseff. Se esse desfecho se confirmar e o vice Michel Temer se tornar presidente, o PMDB ganhará nova musculatura e entrará na briga com força descomunal. Nesse cenário de volta ao poder, o partido finalmente decidirá se mandará para a guerra pelo voto a deputada Andrea Murad ou o vereador Fábio Câmara, dois quadros da nova geração pemedebista. Se a presidente Dilma Rousseff sobreviver ao impeachment, o PMDB enfrentará sérias dificuldades, podendo inclusive não lançar candidato, o que contrariará a maior fatia do partido.
A situação do PSDB é a mesma. Muito criticado por supostamente estar tentando levar os tucanos para uma aliança com Edivaldo Jr., o presidente regional do PSDB, vice-governador Carlos Brandão, está, na verdade, evitando tomar uma decisão precipitada antes do desfecho do impeachment. Brandão avalia que se a presidente Dilma cair, o PSDB ganhará força, participando ou não do Governo do pemedebista Michel Temer. Nesse caso, terá força política para tomar qualquer decisão, inclusive a de lançar candidato, o que, se ocorrer, resultará de uma briga entre o deputado federal e ex-prefeito João Castelo, o deputado estadual licenciado e secretário de Estado de Desenvolvimento Social Neto Evangelista, e o deputado estadual Sérgio Frota. Mesmo se o desfecho do impeachment for favorável à Dilma, o partido terá de escolher entre ir para a briga ou poupar fôlego numa aliança com o prefeito Edivaldo Jr., como quer o governador Flávio Dino (PCdoB).
O PSB vive mais ou menos o mesmo drama, agravado por uma disputa interna de consequências imprevisíveis. Rompido com a presidente Dilma Rousseff e agora na oposição, o PSB aposta alto numa sobrevida no novo cenário, mesmo sabendo que se a presidente escapar à degola do seu mandato, os socialistas estarão com um pé no purgatório, podendo até mesmo reatar a relação com o PT. Mas se a presidente cair, PSB vai cobrar poder. No Maranhão, duas correntes do partido travam uma guerra sem trégua pelo poder, sendo uma delas comandada pelo presidente Luciano Leitoa, prefeito de Timon, e outra pelo senador Roberto Rocha, que tem o controle do partido em São Luís. E no meio dessa briga o deputado estadual Bira do Pindaré, que se lançou candidato, mas depende do aval do senador Roberto Rocha, que não o quer candidato. Vozes ligadas ao senador andaram soprando que a candidatura de Bira do Pindaré não irá a lugar algum.
De todos os partidos que “seguram” definição, o de situação mais complicada é o PT. Algumas vozes do petismo maranhense vêm pregando a candidatura própria como um caminho para a reabilitação política e eleitoral, independentemente do que venha a acontecer no processo de impeachment. Avaliam que o partido tem muitas feridas abertas por esse longo período de aliança com o PMDB, quando sofreu perdas graves, como o deputado Bira do Pindaré, hoje no PSB, e o ex-deputado federal Domingos Dutra, hoje no PCdoB e candidato a prefeito de Paço do Lumiar. Marcado por divisões internas, o partido tem dois rumo possíveis em São Luís: lançar candidato próprio e correr o risco de ser trucidado nas urnas ou embarcar numa aliança com o PDT em torno da candidatura do prefeito Edivaldo Jr.. Qualquer outro cenário será puro devaneio. Mas, mais do que os demais partidos, o PT depende do desfecho do processo de impeachment para definir seu rumo. Se a presidente Dilma Rousseff se safar do impedimento, o PT pode lançar candidato e entrar na briga para valer; mas se a presidente for mandada para casa, dificilmente o partido lançará candidato.
Esse compasso de espera favorece diretamente ao prefeito Edivaldo Jr., que não está limitado e acelera o passo em ritmo de campanha, inaugurando e anunciando obras. Beneficia também, em certa medida, a deputada Eliziane Gama, que, como o prefeito, não tem sua candidatura condicionada ao futuro da presidente Dilma Rousseff.
PONTO & CONTRAPONTO
Uma coisa, outra coisa I
Quem acompanhou as reuniões da Comissão Especial da Câmara Federal que gerou o polêmico relatório favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e assiste agora às reuniões da Comissão Especial do Senado tem a clara noção da diferença do que é uma Casa legislativa manobrada por políticos espertos e manipuladores e uma Casa legislativa onde a postura é radicalmente diferença. A Câmara se moveu pela manipulação, com a esmagadora maioria orientada por seus chefes, principalmente o presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o que levou aos mais 350 deputados “pró-impeachment” a protagonizar um espetáculo da pior qualidade, alvo de crítica da maioria dos brasileiros, votando por filho, pais, parente, esposa, marido corrupto, coronel torturador, cachorro, vaca, e por aí vai. A maioria dos deputados federais revelou que não leu o relatório, que não tinha noção clara do que estavam decidindo e se mostraram preocupados em mostrar serviço aos seus chefes. No Senado a situação é completamente diferente. O trabalho da Comissão Especial do Senado é outra coisa, mais sereno, mais equilibrado, com um nível de debate elevado, com momentos de tensão, com afirmações duras, com ataques fortes, mas em nenhum deles a extrapolação dos limites. E essa serenidade verificada na Comissão do Senado.
Uma coisa, outra coisa II
O ambiente de civilidade política verificado nas reuniões da Comissão do Impeachment no Senado da República permitiu o surgimento de duas situações absolutamente distinta das verificadas na Comissão e no plenário da Câmara Federal. Primeira, um debate de nível elevado, duro, com ataques e defesas, mas rigorosamente dentro dos limites de relações respeitosas. Segunda, acusadores e defensores da presidente Dilma Rousseff tiveram tempo de sobra para expor e defender os seus pontos de vista. Nesse contexto, acusadores Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. e os defensores o advogado geral da União José Eduardo Cardozo, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e a ministra da Agricultura, Kátia Abreu puderam apresentar seus argumentos com tranquilidade sem a pressão violenta verificada na Câmara Federal, onde as reuniões foram sempre tumultuadas e manipuladas. Sem o tumulto, os acusadores tiveram de se enquadrar nas regras e, por isso, seus argumentos encolheram, fazendo com que Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr. se perdessem na acusação, deixando a oposição visivelmente preocupada e até decepcionada. Já ontem, a defesa pôde, finalmente, bater forte com as suas teses, o que preocupou ainda mais os senadores do PSDB. No final da reunião ontem, a impressão deixada foi a de que o movimento contra o impeachment ganhou força.
São Luís, 29 de Abril de 2016.