O PMDB realizou ontem sua convenção regional, confirmou a continuação do senador João Alberto no comando e, pelo menos até aqui, permanece como o maior partido do Maranhão, apesar da dura derrota que sofreu nas eleições de 2014. Ao mesmo tempo, o partido começa uma nova etapa da sua trajetória embalado também pela tensão causada pela crise decorrente da tentativa do ex-deputado Ricardo Murad de chegar ao comando partidário com uma chapa que, devido a irregularidades alegadas, acabou indeferida. A força de João Alberto dentro do partido foi confirmada: dos 175 líderes pemedebistas aptos a votar, 132 – o equivalente a 75% do eleitorado – compareceram à convenção e todos sufragaram a chapa liderada pelo senador. Entre eles, nomes de peso do partido como a ex-governadora Roseana Sarney, o senador Edison Lobão, o deputado federal João Marcelo, o deputado estadual Roberto Costa e o suplente de senador Lobão Filho, que mais uma vez confiaram o comando do partido ao presidente.
Do ponto de vista político, o PMDB sai dessa convenção como um partido forte, muito organizado, mas com fissuras internas que só poderão ser fechadas num grande processo de reconciliação e entendimento. Do contrário, a agremiação corre o risco de entrar num processo de autofagia que poderá levá-lo a um grave enfraquecimento. Essa ameaça à unidade partidária ganhou forma na maneira dura e agressiva com que o ex-deputado Ricardo Murad, derrotado, se manifestou ontem em relação à convenção – ele chamou a reunião partidária de “missa de sétimo dia”. Outro sintoma foi o provocador discurso do deputado federal Hildo Rocha, feito quando os votos já estavam sendo conferidos – ele criticou o grupo e disse que vai continuar brigando na Justiça para desfazer o processo eleitoral. Foi rebatido no ato pelo deputado estadual Roberto Costa e deixou a sede do partido implacavelmente vaiado.
Para muitos incentivadora discreta do projeto de Ricardo Murad de tomar conta do partido, e para isso teria avalizado a movimentação do deputado federal Hildo Rocha, que reza na sua cartilha, a ex-governadora Roseana Sarney foi à convenção, respaldou a chapa única, mas deixou claro que quer um PMDB mais agressivo em relação ao governo Flávio Dino (PCdoB). Ou seja, quer que o partido atue na polêmica linha da deputada Andrea Murad – obviamente traçada pelo ex-deputado Ricardo Murad – de atacar todos os dias, todas as horas e em todos os discursos, independente da consistência do argumento usado para atacar. O recado foi endereçado aos deputados Roberto Costa – que lidera o partido na AL com equilíbrio -, Nina Melo e Max Barros, que raramente se manifestam em relação ao governo.
Se tal situação coloca o comando partidário em estado de alerta, cria também graves dificuldades para o ex-deputado Ricardo Murad. Sem um grande acordo interno – que é defendido por vozes mais moderadas como o senador Edison Lobão e o próprio ex-presidente José Sarney -, Murad tende a ficar isolado dentro do partido, sem margem de manobra para viabilizar seus projetos, como o de ser o candidato do partido à Prefeitura de São Luís. Para alguns observadores, ele poderia até ganhar o apoio do partido para entrar na briga na Capital, mas sua primeira exigência foi a de que lhe fosse entregue a presidência do PMDB de São Luís. Não conseguiu e a partir daí declarou guerra ao comando partidário.
Depois do que aconteceu por causa da convenção, poucos são os que apostam num acordo. O comando partidário liderado por João Alberto dificilmente baixará a guarda para qualquer projeto que envolva Ricardo Murad. E pelo mesmo motivo, parece difícil que Murad se desarme para sentar numa mesa de conversações de paz com a direção pemedebista. Mesmo que essa negociação venha a ser articulada por José Sarney. Vale dizer que ele tentou acalmar as coisas nos dias que antecederam a convenção, mas Ricardo Murad não lhe deu ouvidos, preferindo manter a estratégia do combate.
Reeleito, o senador João Alberto disse ontem que não quer confusão e que sua preocupação agora é preparar o PMDB para as eleições municipais.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Dedicação e frutos reconhecidos
O senador João Alberto foi eleito pela 11ª vez presidente do PMDB do Maranhão, o que equivale dizer que ele está há duas décadas no comando do partido e iniciou ontem mais dois anos. A reeleição é o reconhecimento de um trabalho duro, intenso e correto que ele desenvolveu desde que assumiu o controle do partido em substituição ao ex-deputado federal Cid Carvalho, um dos seus fundadores, mas que caiu em desgraça apanhado pela CPI dos Anões do Orçamento, no início dos anos 90 do século passado. Depois de passar duas décadas como MDB e na oposição ao Grupo Sarney no Maranhão, o PMDB começou sua migração para a situação quando o então senador José Sarney rompeu com os militares, abandonou a Frente Liberal que fundara e ingressou no partido para ser candidato a vice de Tancredo Neves. João Alberto, então deputado federal, seguiu o futuro presidente, aliando-se a antigos adversários como Renato Archer, Cid Carvalho, Mauro Bezerra, e o mais ativo deles, Epitácio Cafeteira, entre muitos outros. No final do seu governo, Cafeteira deixou o PMDB, e logo em seguida Cid Carvalho negou o partido para Sarney se candidatar a senador pelo Maranhão, obrigando-o a sair candidato pelo Amapá. Dois anos depois, Cid Carvalho foi tragado pela CPI do Orçamento e perdeu o mandato de deputado federal, abrindo um grande vazio no comando do PMDB, o que permitiu ao Grupo Sarney assumir o controle do partido, tendo o senador entregado a direção ao então ex-governador e futuro senador João Alberto, que assumiu formalmente a direção no final de 1994. Político obstinado, que dedica todos os seus dias às ações políticas e à vida partidária, João Alberto transformou o PMDB numa máquina partidária azeitada, organizada administrativa e financeiramente, com toda a sua documentação em ordem e obrigações em dia. A reeleição foi a confirmação dessa história.
Difícil de entender
Muita gente experiente do meio político não está conseguindo entender a posição do atuante deputado federal Hildo Rocha na disputa interna do PMDB. Político tarimbado, que conhece como poucos o caminho das pedras partidárias no Maranhão, Rocha – que não demonstrava qualquer interesse na refrega pemedebista -, de repente entrou em cena como defensor e porta-voz do projeto do ex-deputado Ricardo Murad de chegar ao comando do partido através de uma chapa inconsistente liderada pela inexperiente deputada Andrea Murad. Sem qualquer argumento sólido, Hildo Rocha entrou na briga batendo forte no senador João Aberto e na direção partidária, como alguém que estava cumprindo uma tarefa. Nada do que disse teve efeito e seus atos para suspender ou adiar a convenção foram parar no arquivo. O que chama a atenção é que não há registro de ligação política forte do deputado com Ricardo Murad e nem que seja desafeto de João Alberto. Até porque Hildo Rocha é liderado fiel da ex-governadora Roseana Sarney e, até onde se sabe, só se dobra às suas orientações. Daí a perplexidade que causa sua postura agressiva reafirmada ontem, que resultou numa vaia estridente de pemedebistas invocados. Deputado federal atuante, que vem aos poucos se destacando por suas propostas e tarefas congressuais – atualmente preside comissão especial da Reforma Tributária, com larga projeção -, soa estranho que Hilda Rocha faça papel de tolo numa opereta sem futuro. Mais ainda porque ele, sim, com o mandato embalado por mais de 125 mil votos, poderia ter encabeçado um movimento dentro do partido, lançado uma chapa e ido para o embate democrático. Mas ser porta-voz de políticos sem mandato, isso não faz sentido em qualquer avaliação isenta.