Os problemas e os governos de São Luís e a relação deles com os governos do Estado foram tema de um forte e intenso debate travado ontem na Assembleia Legislativa pelos deputados Adriano Sarney (PV), oposicionista, e Othelino Neto (PCdoB), governista, tendo como pano de fundo o aniversário da cidade, que completará 403 anos na próxima terça-feira, 8 de setembro. Os dois trocaram farpas afiadas sobre as situações vividas no presente e no passado recente pela Capital do Maranhão, num embate verbal de frases fortes, ditas em tom enfático, mas dentro dos limites da civilidade que rege as sempre tensas relações entre oposição e situação numa sociedade politicamente aberta e democrática. Adriano Sarney atacou duramente a situação de São Luís, alvejando principalmente o governo do prefeito Edivaldo Jr. (PDT). Othelino Neto contra-atacou com a mesma ênfase, responsabilizando o Grupo Sarney pelos problemas que a cidade vem enfrentando nas últimas décadas.
A pretexto de antecipar saudação a São Luís pelo seu aniversário, o deputado verde Adriano Sarney jogou confetes verbais na cidade, definiu-se como “um filho apaixonado” de São Luís e destacando a importância histórica, estratégica e cultural da cidade. Em seguida, mudou o tom para fazer uma avaliação dura e negativa da situação atual da cidade, passando a elencar problemas que, segundo ele, a administração municipal não ataca por ser “despreparada”. O parlamentar verde bateu duramente na gestão do prefeito Edivaldo Jr., afirmando que “a cidade está abandonada e mal cuidada” e que a única obra da atual gestão “é a colocação de asfalto ´sonrisal` em algumas ruas”.
Adriano Sarney foi mais longe ao afirmar que a parceria entre da Prefeitura com o Governo do Estado, facilitada pela relação política do prefeito Edivaldo Jr. com o governador Flávio Dino (PCdoB) “só serviu até agora para colocar asfalto ´sonrisal` em algumas ruas com o dinheiro do BNDES” O seu discurso foi nessa linha, mas num tom bem mais agressivo, numa clara demonstração de que, mais do que saudar a cidade, o objetivo do pronunciamento era disparar chumbo grosso no prefeito de São Luís.
O discurso do deputado do PV levou o deputado comunista Othelino Neto à tribuna para rebatê-lo. O parlamentar governista não titubeou, e depois de elogiar a gestão do prefeito Edivaldo Jr., atacou fortemente seu adversário afirmando que “todos os problemas de São Luís foram causados pela perla ação criminosa e desumana do grupo de Vossa Excelência”. Afirmou que os governos do Grupo Sarney, especialmente os de Roseana Sarney (PMDB), sempre deram as costas para as administrações de São Luís que não se submeteram ao seu jugo. E elogiou o prefeito Edivaldo Jr. “por ter resistido às pressões e não ter se submetido a esse grupo”.
Othelino Neto afirmou que “São Luís agora tem o governo trabalhando pela cidade, junto com o prefeito, diferente do que acontecia no período em que o grupo Sarney passou no poder”. E se dirigindo diretamente ao deputado oposicionista, arrematou: “Não adianta tentar rasgar o passado. O grupo político comandado pelo senador Sarney é o culpado, o responsável pela pobreza do Maranhão e pela miséria instalada aqui. Como presidente da República, ele poderia ter levado o estado à prosperidade”.
Foram muitas as farpas disparadas por ambos os lados, numa demonstração de que pelo menos alguns líderes da nova geração de políticos têm visão larga, estão conscientemente posicionados e encaram debates técnicos e políticos de bom nível. No caso de ontem, São Luís saiu ganhando, já que foi analisada pelo viés administrativo e o viés político.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Mostrando novas regras
O deputado Eduardo Braide (PMN) ocupou ontem a tribuna da Assembleia Legislativa para relatar aos seus colegas as decisões tomadas terça-feira pelo do Senado da República em relação à reforma político. Com uma boa base técnica e uma visível preocupação analítica, o parlamentar destrinchou, ponto a ponto, as decisões da Câmara Alta principalmente sobre regras eleitorais. A detalhada explanação do deputado do PMN ganhou o formato de conferência, principalmente porque deputados que ainda não estavam informados sobre as mudanças, pediram a Braide que aprofundasse no detalhamento. Por mais de meia hora, o parlamentar relatou as mudanças feitas pelo Senado no projeto definido pela Câmara federal. Os deputados manifestaram preocupação com algumas regras, levando o deputado Paulo Neto (PSDC) a propor reunião com a bancada federal para oferecer sugestões.
Contas nos eixos
O deputado Hildo Rocha (PMDB) apresentou ontem na Câmara Federal uma proposta de Emenda à Constituição (PEC) que fixa prazo para que a Câmara Federal examine e julgue as prestações de contas do Governo Federal dentro da legislatura subsequente, e estabelece punição para o presidente da instituição caso o prazo não seja cumprido. Se aprovada e colocada em prática, a proposta de Hildo Rocha poderá ajudar muito no esforço do país para desfazer o labirinto em que se perdem as prestações de contas dos governos nas Casas legislativas e acabar com as nem sempre saudáveis atuações dos Tribunais de Contas. Um exemplo oportuno é o da prefeita da prefeita de Bom Jardim, Lidiane Leite, que parecia misturar recursos públicos e contas pessoais, em grande parte por causa da cumplicidade da Câmara Municipal e da ineficácia fiscal do Tribunal der Contas do Estado. Sem dúvida uma boa iniciativa, já que nas gavetas da Câmara Federal encontram-se adormecidas prestações de contas dos governos Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula e Dilma Rousseff aguardando exame, o que é, no mínimo, um absurdo.
São Luís, 03 de Setembro de 2015.