Surpresa em São Luís e em muitos municípios pode complicar o desenho do novo mapa político do Maranhão

 

segundo-turno
Ao lado da esposa Camila, Edivaldo |Jr. comemora suas votação, enquanto Eduardo Braide e sua família festejam desempenho que o levou para o segundo turno

A surpreendente definição do segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Luís, a espetacular reviravolta na tendência apontada em Imperatriz, os surpreendentes resultados em Caxias, Bacabal e Coroatá, o “massacre” ocorrido em Santa Inês e outros desfechos, que chamaram a atenção por terem sido improváveis, rascunharam um Maranhão político bem diferente do que as previsões iniciais riscaram. O governador Flávio Dino (PCdoB) avançou no seu projeto de poder, mas não o suficiente para montar uma estrutura política tão ampla e forte como esperava – a eleição de Assis Ramos (PMDB) em Imperatriz e a não liquidação da fatura em um só turno em São Luís refletem bem isso. O senador Roberto Rocha (PSB), que se movimentou para construir uma espécie de terceira via, não conseguiu suporte eleitoral para viabilizar seu projeto – perdeu o controle de Balsas para o PDT com o apoio do PCdoB, por exemplo. E o Grupo Sarney, que perdeu Pinheiro, por exemplo, ganhou Imperatriz – pelo menos aparentemente.

Poucas vezes São Luís viveu um embate eleitoral com um desfecho parcial tão espetacular, e no qual expectativas foram frustradas, trajetórias que pareciam consolidadas sofreram alterações radicais nos dois sentidos, e um projeto isolado, sem qualquer suporte partidário, se agigantou em apenas 10 dias e dois debates, e determinou que a escolha do prefeito da Capital será feita em dois turnos. O prefeito Edivaldo Jr. (PDT) se desdobrou como pôde e usou os recursos políticos ao seu alcance – o apoio de 13 partidos, o poder da máquina, o maior tempo de TV, um expressivo com junto de obras, a militância do PDT e o apoio determinado do governador do Estado – para conseguir 50% mais um dos votos válidos e fechar a corrida num só turno. Conseguiu apenas 45,66, e no contraponto, os demais candidatos fizeram de tudo para não deixar que a eleição morresse no primeiro turno, e conseguiram. E diferentemente do que muitos esperavam e pregavam, será o candidato do PMN, Eduardo Braide, que não conseguiu se coligar, que fez uma campanha isolado, à base do santinho e tapinhas nas costas, e que já no debate na TV Guará avisou que seria o adversário do prefeito Edivaldo Jr. num eventual segundo. Não deu outra: o primeiro turno terminou com o prefeito liderando com 239.737 mil votos. Eduardo Braide (PMN), que com 112.041 (21,34%), atropelou o candidato do PP, Wellington do Curso, que recebeu 103.951 (19,81%), e Eliziane Gama com 32.500, numa reviravolta que deve ser registrada uma das mais espetaculares que o calejado e sempre surpreendente processo eleitoral de São Luís já produziu.

O grande perdedor da primeira fase da disputa na Capital foi Wellington do Curso, que junto com ele arrastou o projeto do senador Roberto Rocha.  O candidato do PP vinha surfando numa onda crescente, mas o debate da TV Guará mostrou que, provavelmente por inexperiência política, ele andou trocando as bolas e acabou minado por Eduardo Braide, que se mostrou mais inteligente, articulado e bem informado. Ao mesmo tempo, se não foi para o segundo turno, Wellington do Curso também não tem do que reclamar, pois os 103,9 mil votos que recebeu podem lhe ter aberto o caminho para renovar o mandato de deputado estadual ou lhe dado um passaporte para a Câmara Federal.  Pior, muito pior, foi o desfecho para a deputada federal Eliziane Gama, que chegou a 57% das intenções de voto, sofrendo em seguida um processo de desidratação assombroso e jamais visto no Maranhão em situação semelhante. Fábio Câmara (19.045), Rose Sales (10.346), Cláudia Durans (4.299), Valdeny Barros (2.590) e Zéluiz Lago (482) devem se dar por satisfeitos, pois essa é a sua crua realidade.

Qualquer análise imparcial concluirá que, apesar da força com que emergiu das urnas, o prefeito Edivaldo Jr. foi “brindado” com o pior dos cenários, que é o de ter Eduardo Braide como adversário.  Serão 27 dias até a eleição. E nesse período haverá confrontos diretos, como o debate da TV Mirante, no dia 28. Braide precisará dos votos de todos os candidatos derrotados, enquanto Edivaldo Jr. precisará manter a calma e imaginar a resposta certa para cada indagação que lhe for dirigida durante o debate, e assim garantir que os seus eleitores de ontem sejam os mesmos amanhã, o que é rigorosamente improvável, pois o entendimento é o de que o segundo turno é uma nova eleição.

Ontem, após o anúncio do resultado, Edivaldo Jr. e Eduardo Braide disseram que a escolha deles para o segundo turno foi coisa de Deus e do povo de São Luís. Que bom que estão pensando assim, porque com esse respaldo divino e o aval do eleitorado poderão fazer campanhas politicamente corretas e chegar ao fim da jornada como as mãos limpas.

PONTO & CONTRAPONTO

Três desfechos emblemáticos

As eleições de ontem produziram três casos emblemáticos no Maranhão, exatamente porque as urnas contrariaram previsões e comprometeram a credibilidade de institutos de pesquisas. São cenários difíceis de ser lidos, exatamente por envolver uma série de ingredientes que não são fáceis de assimilar.

assis-ramos
Assis Ramos: o herói da virada em Imperatriz

O primeiro caso é Imperatriz, onde o governador Flávio Dino e seus aliados mais próximos jogaram todo o peso político que puderam reunir na plataforma da candidata do PDT, Rosângela Curado. Mas o eleitorado não gostou dessa pressão sobre ele e resolveu colocar o processo pelo lado do avesso elegendo o candidato do PMDB, Assis Ramos, numa reviravolta espetacular. Além de eleger o pemedebista, o eleitorado dali quis o poderoso e influente ex-prefeito Ildon Marques em segundo plano e a candidata do governo e de mais 18 partidos, Rosângela Curado, na terceira colocação. Não bastasse tudo isso, o eleitorado de Imperatriz ouviu os apelos do prefeito Sebastião Madeira (PSDB) e deu 20% dos votos para Ribinha Cunha (PSC), um candidato sem força alguma, mas que foi embalado pelo prestígio do prefeito que o lançou. E a mais surpreendente conclusão: a Prefeitura de Imperatriz caiu nas mãos do Grupo Sarney, ainda que Assis Ramos tenha agido como um político que não se dá muito bem com esses rótulos.

ricardo-1
Ricardo Murad: derrota e perda de comando em Coroatá

O segundo caso é Coroatá. O conjunto de ações políticas e administrativas do Governo naquele município terminaram por desestabilizar o poderoso e bem articulado ex-deputado Ricardo Murad (PMDB). A campanha da mulher dele, Tereza Murad, à reeleição foi marcada desde o início por trombadas com o Palácio dos Leões. A retórica agressiva do ex-deputado Ricardo Murad e os ecos do seu pensamentos transformados em discursos que não esconderam  o fato de que  enfrentou na verdade o governador Flávio Dino. Há quem diga que a derrota de Ricardo Murad passou a ser programada como uma prioridade nos planos políticos elaborados no Palácio dos Leões. Luiz da Amovelar Filho (PT), um jovem empresário sem maiores talentos, filho do ex-prefeito Luiz da Amovelar, recebeu todos os estímulos do braço político do Governo para fazer frente à poderosa estrutura montada por Murad. Funcionou, e o ex-todo-poderoso secretario de Saúde do Governo Roseana Sarney teve sua fortaleza dinamitada e finalmente dominada. O desfecho deixou no ar uma indagação: qual será o próximo passo político de Ricardo Murad, agora que não tem Governo nem Prefeitura?

dutra
Domingos Dutra: vitória de um guerreiro

O terceiro caso é Paço do Lumiar, aonde o PC do B vai se instalar sob o comando do ex-deputado federal Domingos Dutra, que derrotou nada menos que o poderoso esquema político da família Aroso, nessa guerra representada pelo ex-prefeito Gilberto Aroso. Não foi tarefa fácil. Dutra fez uma campanha nas ruas, conversando direto com o eleitorado e mostrando que tem tudo para conseguir viabilizar suas propostas, e lembrando que parte delas poderá ser viabilizada por sua relação política com o Governador Flávio Dino, que pode ser considerado o padrinho da sua candidatura. A eleição de Dutra pode significar o fim do reinado dos Aroso e a saída de Paço do Lumiar de uma espécie de letargia que não o identifica como o oitavo mais importante, município maranhense.

 

São Luís, 03 de Outubro de 2016.

 

Um comentário sobre “Surpresa em São Luís e em muitos municípios pode complicar o desenho do novo mapa político do Maranhão

  1. Boa tarde caro Ribamar, tenho o maior respeito pelas suas analises sempre imparciais e com muita responsabilidade, dessa forma gostaria de saber qual a sua avaliação sobre o resultado geral das eleições no Maranhão, independente do resultado que virá de São Luís no segundo turno, do ponto de vista do palácio dos leões?

Deixe um comentário para Imparcial Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *