Partiu ontem, em São Luís, aos 88 anos, vitimado pelo novo coronavírus, o advogado, jornalista, escritor e político Sálvio Dino, encerrando uma das mais ricas biografias entre os expoentes da geração de líderes maranhenses que enfrentou o vitorinismo e fez frente à ditadura militar. Ele amargou cassação de mandato, não se acanhou com o banimento da política, atuou pela volta da democracia, cumpriu vários mandatos parlamentares e foi prefeito, sempre com lealdade às regras do estado democrático de direito e da ética na política. Paralelamente, desenvolveu intensa e densa atividade profissional, intelectual e literária, que o imortalizou na cadeira 32 da Academia Maranhense de Letras. Sálvio Dino foi alcançado pelo novo coronavírus há alguns dias, procurou ajuda médica em Imperatriz, teve seu estado de saúde agravado, foi transferido para São Luís, mas não resistiu ao desgaste implacável imposto pela Covid-19, falecendo no Hospital Carlos Macieira, na manhã dessa segunda-feira. Sálvio Dino deixou quatro filhos: Nicolao Dino (procurador da República), Flávio Dino (ex-juiz federal e atual governador do Maranhão) e Sávio Dino (advogado), do primeiro casamento com Maria Rita Dino, e Saulo Dino (empresário), do segundo casamento, com Iolete Dino.
Sua morte repercutiu nos mundos político, jurídico e intelectual do Maranhão, tendo o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), decretado luto de três dias e divulgado Nota exaltando a memória do ex-parlamentar, enquanto o ex-presidente da República, José Sarney (MDB), lamentou a perda do amigo, do parceiro político e do intelectual que deixa uma valiosa contribuição à cultura maranhense. Também o ex-presidente Lula da Silva (PT) divulgou mensagem lamentando a perda e destacando a biografia de Sálvio Dino.
Natural de Grajaú, onde nasceu em 5 de Junho de 1932, filho do desembargador Nicolao Dino, Sálvio Dino Jesus Castro e Costa recebeu sólida formação intelectual, que culminou com o bacharelado em Ciências Jurídicas, tendo militado desde cedo na advocacia, que o levou, por concurso público, ao quadro de procuradores do Estado. Mas sua grande paixão foi a política. Defensor dos ideais democráticos e identificado com postulados da esquerda, seguindo uma das tendências da sua geração, da qual fazem parte expoentes como José Sarney, Neiva Moreira, Cid Carvalho, Henrique la Rocque, Newton Bello, Alexandre Costa, Lino Machado que atuou sob a influência do paraibano Victorino Freire, cuja atuação coronelista dividiu o Maranhão político em vitorinista e não vitorinista. Sálvio Dino militou sempre na segunda corrente, combatendo o vitorinismo, aliando-se depois a José Sarney.
Em 1954, ainda jovem, elegeu-se vereador de São Luís, reelegendo-se em 1958, para em seguida, em 1962, ganhar nas urnas o mandato de deputado estadual. Na Assembleia Legislativa, se notabilizou pelas ações como opositor implacável do governador Newton Bello. Pagou preço alto por suas posições políticas e ideológicas: na caça às bruxas que promoveu contra políticos democratas e de esquerda, a ditadura militar implantada pelo golpe de 1964 lhe cassou o mandato, numa investida que no plano estadual alcançou também o jovem deputado Benedito Buzar, e na esfera federal os deputados Neiva Moreira e Cid Carvalho. Sálvio Dino enfrentou inquérito, interrogatórios, sofreu ameaças durante os anos de chumbo, mas se manteve de pé. Retornou às lutas pelo voto em 1974, elegendo-se deputado estadual pela Arena – partido que abandonou em 1980 para se filiar ao PP, partido fundado por Tancredo Neves -, mantendo uma linha de ação independente, ainda que no campo liderado por José Sarney. Em seguida, foi prefeito de João Lisboa (1989- 1993 e 1997-2001), onde realizou gestão elogiada por aliados e adversários, principalmente no campo da correção. Tentou, sem sucesso, voltar à Assembleia Legislativa e à Prefeitura de João Lisboa.
Orador culto e contundente e tribuno implacável, talento que mostrou já na Câmara Municipal de São Luís, Sálvio Dino, no primeiro mandato de deputado estadual pelo PDC, se notabilizou pelos bem construídos e contundentes discursos com os quais bombardeava o Governo vitorinista de Newton Bello, travando estridentes embates com o líder governista de então, deputado Major Pereira dos Santos (PRP), que tentava rebater os ataques com discursos agressivos. A contundência e a riqueza discursiva, somada à competência como legislador, decorrentes também da sua formação e atuação como advogado, foram marcas reconhecidas como parlamentar. Voltou a atuar politicamente dando um suporte experiente às candidaturas do filho Flávio Dino (PCdoB), governador reeleito do Maranhão.
O novo coronavírus ceifou uma vida intelectual intensa, que enveredou pelo conhecimento filosófico dando base ao advogado, pelos mergulhos na História que lhe deram os meios para resgatar fatos e momentos importantes da trajetória maranhense, como a restauração do roteiro que marcou a passagem da Coluna Prestes no Sul do Maranhão. Sálvio Dino foi também intenso no jornalismo como bom articulista e bom cronista, e um excelente contador de histórias e “causos”, produzindo um rico acervo de impagáveis registros da vida e da política interiorana, que fez com competência ao longo de anos nas páginas do jornal O Estado do Maranhão. O pesquisador de fatos históricos, o cronista, o contista e o cintador de “causos” deixam nada menos que 13 títulos, entre eles “Leões, um palácio de histórias, lendas, mitos & chefões”, “Verdes sertões e vida”, “Nas barrancas do Tocantins”.
Em meados do ano passado, já sem o viço de outros tempos, mas com a lucidez e a verve de sempre, Sálvio Dino foi um dos oradores da sessão especial na qual, por iniciativa do presidente Othelino Filho, a Assembleia Legislativa “devolveu” a ele, a Benedito Buzar e a outros os mandatos cassados pela ditadura militar. Surpreendeu os presentes com um forte e comovente discurso, reafirmando-se democrata e defendendo princípios e crenças que moldaram sua identidade cultural e ideológica, revivendo, por preciosos e oportunos minutos, o orador brilhante que fora nas lutas políticas que travou no tempo em que viveu.
PONTO & CONTRAPONTO
Cenário da disputa em São José de Ribamar é de completa indefinição
A entrada do ex-prefeito Júlio Matos (PSDB) na corrida à Prefeitura de São José de Ribamar, já sendo apontado como líder folgado na primeira pesquisa, acendeu alerta vermelho no comando da campanha do prefeito Eudes Sampaio (PTB), antes apontado como quem caminhava tranquilo para uma reeleição sem sobressalto. O impacto do “fator” Júlio Matos, apoiado de um lado pelo chefe tucano, senador Roberto Rocha, e pelo ex-prefeito Gil Cutrim (PDT), seu irmão, o deputado Glaubert Cutrim (PDT) e seu pai, o conselheiro do TCE Edmar Cutrim, mudou completamente o ritmo da corrida. Principal avalista e apoiador da candidatura do prefeito Eudes Sampaio, o ex-prefeito Luís Fernando Silva, começou a se movimentar de verdade, inclusive participando de inaugurações, levando junto o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos). Ontem, embalado pelo novo cenário, o vereador Beto das Vilas, confirmou sua candidatura pelo Republicanos ao participar da inauguração da nova sede do partido na Cidade do padroeiro num ato comandado pelo chefe maior do partido no Maranhão, deputado federal Cléber Verde, que começa a retomar sua vida política depois do brutal assassinato dos seus país, no mês passado. Observadores da cena política em São José de Ribamar, que antes tinham norte, dizem agora que o retrato do momento é o de completa indefinição.
MDB deve divulgar hoje seu candidato a prefeito e quem indicará como vice
É grande nos bastidores da corrida sucessória a expectativa em relação ao anúncio que o comando do MDB prometeu para hoje sobre alianças e escolhe de vice. Inicialmente, o articulador político do partido, deputado Roberto Costa anunciou que até o dia 15 de Agosto a posição do partido a respeito de coligação e de escolha de vice. No vencimento do prazo, Roberto Costa adiou o anúncio para hoje, deixando claro que indicação do vice seria condição básica para qualquer aliança. Essa posição foi reafirmada no final da semana. Os comandos das mais diversas pré-candidaturas aguardam duas informações: qual o candidato terá o apoio do MDB e quem o partido indicará como candidato a vice.
São Luís, 25 de Agosto de 2020.