Mais uma missão da Câmara Federal deverá desembarcar em São Luís nas próximas semanas com um objetivo recorrente: colher informações sobre o cancelamento do projeto de implantação da Refinaria Premium I no município de Bacabeira. A missão agora será da CPI da Petrobras, que atenderá a requerimento da deputada federal Eliziane Gama (PPS), que pretende colocar em pratos limpos uma série de informações não bem explicadas acerca do fracasso do projeto. Uma delas, que pode entornar de vez o barril, são declarações do doleiro Alberto Yousseff, colhidas pela CPI, em Curitiba, na semana passada, afirmando que teria havido pagamento de propina para viabilizar o projeto da Refinaria.
Vale recordar que a deputada Eliziane Gama já participou de pelo menos três incursões de grupos parlamentares no Maranhão no esforço para por à limpo o imbróglio que nasceu para ser um gigantesco complexo de refino de petróleo, mas que acabou como um descampado onde foram sepultados R$ 2,3 bilhões e que deu origem a um escândalo avassalador. Nenhuma das iniciativas surtiu qualquer efeito prático. Por um motivo muito simples: não existe instância de decisão no Maranhão em relação ao projeto da Premium I. A parte que coube ao Governo do Estado está detalhadamente explicada, o que dispensa a vinda ao Maranhão de qualquer missão investigativa.
O que motivou a deputada Eliziane Gama a propor a vinda da CPI ao estado foram as declarações do doleiro Alberto Yousseff sobre suposto suborno envolvendo o projeto. Por mais verdadeiras que sejam as declarações do doleiro – e não há porque duvidar -, não há motivo para se imaginar que, vindo a São Luís, os deputados federais da CPI encontrarão algum mapa que os levem aos responsáveis pelos desvios. Para começar, nenhum dos responsáveis maiores pelo projeto opera no Maranhão, o que significa dizer que, do ponto de vista essencialmente prático, a CPI nada tem a fazer em São Luís ou em Bacabeira. Daí a suposição de que será perda de tempo e, indo mais além, de dinheiro.
Há, porém, outros vieses embutidos no requerimento da deputada Eliziane Gama. Um deles é sua determinação em encontrar elementos que confirmem as denúncias de Alberto Yousseff incriminando a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) e o senador Edison Lobão (PMDB). Ao mantê-los sob as luzes da suspeita, a deputada os mantém também afastados do tabuleiro político e do cenário pré-eleitoral que está sendo desenhado em São Luís.
Em relação a Roseana Sarney, Eliziane Gama quer inviabilizar qualquer participação da ex-governadora, seja como candidata à Prefeitura de São Luís – uma hipótese que só não está descartada porque a política é imprevisível -, seja como articuladora de uma aliança partidária que lance um candidato capaz de fazer-lhe sombra. Em relação ao senador Edison Lobão, Eliziane Gama avalia que mantendo-o sob pressão desestimula uma eventual candidatura do empresário e suplente de senador Lobão Filho.
Outro viés é que até aqui líder nas preferências do eleitorado para a Prefeitura de São Luís, Eliziane Gama atua com o aval da cúpula nacional do seu partido, o PPS, para usar todos os trunfos que possam, de alguma maneira, fortalecer sua pré-candidatura ao Palácio de la Ravardière. Nesse ambiente, correm informações não confirmadas de que em breve ela voltará suas baterias para o seu principal adversário, o prefeito Edivaldo Jr. (PTC). E o fará já preocupada com sinais que indicam que ele está retomando o fôlego com a disposição de atropelar quem se colocar como obstáculo à sua reeleição.
É nesse contexto de menos interesse sobre o cancelamento do projeto da Refinaria Premium I e mais sobre a corrida sucessória para o Palácio de la Ravardière que a deputada Eliziane Gama traça a rota da CPI da Petrobras na direção de São Luís.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Pancada no PMDB
A TV Guará veiculou nesta semana uma série de três reportagens especiais focadas em supostas ações de corrupção eleitoral envolvendo o PMDB do Maranhão. A primeira, veiculada no telejornal de quarta-3feira, reportou uma doação para o partido feita por empresas que trabalharam para o governo Roseana Sarney. Os recursos foram repassados aos seus candidatos em 2010. A segunda sugere que os recursos que bancaram as campanhas da deputada Andrea Murad (PMDB) e do deputado Souza Neto (PTN) (fotos) teriam saído da Secretaria de Estado da Saúde. Na terceira, o foco é a campanha da deputada Andrea Murad, que tem feito oposição dura ao Governo do Estado.
Partido vai reagir
O comando estadual do PMDB não quis emitir juízo de valor sobre as reportagens da TV Guará. O presidente em exercício do partido, ex-deputado Remi Ribeiro, disse à coluna que sob o coando do senador João Alberto o PMDB é rigoroso em relação aos recursos que financiam as ações do partido. Afirmou que a prestação de contas da agremiação foi aprovada sem reservas pela Justiça Eleitoral. Remi Ribeiro informou também que o PMDB vai pedir as gravações para avaliar o conteúdo, para decidir o que fazer. “O PMDB é um partido sério”, disse o presidente em exercício.
São Luís, 15 de Maio de 2015.