Dino e Sarney ganham e perdem nos desdobramentos da guerra do impeachment da presidente Dilma

 

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Dino e Sarney ganham e perdem com impeachment de Dilma

Quem ganhou e quem perdeu no Maranhão com a mudança de comando – por enquanto interina – em Brasília? Ganharam ou perderam o governador Flávio Dino (PCdoB) e seu grupo? Ganharam ou perderam o ex-presidente José Sarney (PMDB) e seu grupo? Ainda é cedo para uma avaliação consistente, que só poderá ser feita depois que o cenário estiver definitivamente desenhado, com a definição do futuro da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), que poderá retornar ao cargo ou ser mandada definitivamente para casa. No momento, todos os envolvidos no jogo bruto pelo poder em curso na seara política brasileira, a primeira impressão é que, com a ascensão do vice Michel Temer (PMDB) ao comando interino da Nação, o ex-presidente José Sarney e seu grupo, que estavam quase mergulhados no ostracismo, retornam ao poder returbinados, e que o governador Flávio Dino, que vinha dando as cartas como o mais ativo e influente parceiro da presidente Dilma nos momentos mais agudos e decisivos da crise, perde força e entra numa espécie de nebulosa de futuro incerto. As aparências, porém, enganam, e só o passar dos dias e os seus desdobramentos dirão como ficará, efetivamente, o peso de cada uma das forças que hoje se batem pelo poder no Maranhão.

Flávio Dino perdeu, mas pode abrir canal com Temer – É absoluta e rigorosamente verdadeira a avaliação segundo a qual o governador Flávio Dino sofreu um duro revés com o tombo inicial da presidente Dilma. De uma hora para outra, a ponte que o levava a qualquer dia e hora ao gabinete presidencial e à Esplanada dos Ministérios, desabou. E com um agravante: Dino formou com o advogado da presidente e chefe da AGU, José Eduardo Cardozo, a dupla que se desdobrou para evitar o desmoronamento dos pilares de sustentação do Governo. Em meio a esse vale tudo, o governador do Maranhão adotou o bordão “É golpe!” com entusiasmo de um líder estudantil, mas com o cuidado sutil de não nominar nem satanizar os cabeças do movimento pela ruptura. Também foi óbvio que em seu discurso o governador não defendeu o PT nem os que em nome do partido formaram quadrilhas e assaltaram nichos de riqueza do país, como a Petrobras, por exemplo. Dino fez algumas críticas pontuais a procedimentos e atitudes da oposição e à Operação Lava Jato, mas deixando sempre muito claro que dá aval integral às suas investigações.

Um exame cuidadoso dos discursos feitos pelo governador verbalmente e nas redes sociais encontrará militante de esquerda Flávio Dino combatendo o processo de impeachment, que para ele é uma ação política sem consistência, sem amparo legal, sem crime que o justifique, portanto um autêntico golpe. Dino foi tão fiel ao seu entendimento que contribuiu de maneira decisiva para a opereta em que o presidente interino da Câmara Federal, deputado Waldir Maranhão (PP), sacudiu o país ao anular a sessão da Casa que autorizara o Senado a dar prosseguimento ao processo de impeachment. Na avaliação de muitos, esse foi seu único erro político. Não pela iniciativa em si, mas por não ter ele previsto as reações e as consequências de um ato tão impactante. Daí não haver dúvidas de que o governador tropeçou feio neste episódio e perdeu um pouco do brilho com que vinha atuando no processo, ainda que aqui e ali criticado por vozes da oposição.

Não há dúvidas de que o fato de permanecer na banda perdedora, de ver desabar a ponte que o ligava ao Palácio do Planalto, colocou o governador Flávio Dino numa situação delicada. Ao mesmo tempo, no entanto, sua atuação firme e coerente como voz quase solitária a defender o seu campo político e ideológico na guerra do impeachment deu-lhe expressiva projeção no tabuleiro político nacional. Tanto que pelo menos três interlocutores estão se movimentando para abrir um canal de comunicação entre o Palácio dos Leões e o Palácio do Planalto. O próprio governador já deixou claro que vai respeitar as diferenças e manter relações institucionais com o presidente em exercício Michel Temer, de quem sem travou boas e produtivas relações para cuidar dos interesses do Maranhão. (Um exemplo: foi o então vice-presidente Temer que bancou a nomeação de Dino para o comando da Embratur, num momento em que  o então deputado federal não tinha boas relações com a presidente Dilma.) O presidente Temer já teria dito ao deputado federal José Reinaldo que está aberto a uma convivência institucional com o governador do Maranhão, que pode ajudar como interlocutor da esquerda para garantir a governabilidade.

Sarney ganhou, mas só tem sua experiência para ajudar o presidente em exercício – O ex-presidente José Sarney está saindo da crise como um dos vencedores. Como o mais importante cacique do PMDB, a quem todos ouvem nos momentos traumáticos, o ex-presidente da República é respeitado, tem trânsito em todas as correntes políticas do campo da direita liberal e do centro, mas deve enfrentar a partir de agora a hostilidade do PT e seus aliados. Sarney tenta administrar essa transição de aliado de primeira hora da presidente Dilma Rousseff, avalista que foi da aliança PMDB/PT, até a banda pemedebista desembarcar da base do Governo e apoiar o impeachment. O ex-presidente se manteve discreto, quase não foi visto fora de casa em Brasília, mas a movimentação intensa da ex-governadora Roseana Sarney em busca de votos a favor do impeachment deixou claro que o velho e tarimbado cacique embarcou no projeto do PMDB de chegar ao poder com o vice-presidente Michel Temer.

Se mostrou influência dentro do PMDB, o ex-presidente José Sarney não exibiu força na montagem do ministério. Se por um lado se aliou ao PV para respaldar a escolha do líder verde na Câmara Federal, deputado Sarney Filho, para o Ministério de Meio Ambiente – que na verdade foi uma indicação do seu partido -, por outro, Sarney perdeu, juntamente com o PMDB, a influência que mantinha no setor elétrico com a entrega do poderoso Ministério de Minas e Energia ao PSB. Durante mais de duas décadas, o ex-presidente deu a última palavra no setor elétrico, tempo em que fez dois ministros – Silas Rondeau e o senador Edison Lobão, ambos escolhido diretamente pelo ex-presidente. O último ministro, senador Eduardo Braga (PMDB), não reza muito na cartilha do ex-presidente, mas manteve como encontrou os espaços controlados por Sarney no setor elétrico.

Ninguém duvida de que o ex-presidente José Sarney terá influência nada desprezível no Governo Michel Temer, prova disso é que horas antes de tomar posse, o então ainda vice suspendeu sua agenda para fazer uma visita ao ex-presidente na residência do experiente conselheiro. Mas nesse momento, o que vale mesmo para o presidente em exercício da República é poder político efetivo, que se traduz em votos no Congresso. Além de alguns deputados federais controlados por Roseana Sarney e dois senadores – que já não seguem integralmente a sua orientação – José Sarney pouco tem a oferecer nessa seara, o que reduz o seu poder de fogo.

Nesse contexto, o peso do ex-presidente poderá aumentar ou diminuir de acordo com as circunstâncias. Daí a conclusão parcial de que neste Governo do PMDB José Sarney deverá influenciar muito, mas não mandará tanto quanto.

PONTO & CONTRAPONTO

Lobão deve abrir caminho para Lobão Filho votar no impeachment
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Lobão vai abrir vaga para Lobão Filho

O senador Edison Lobão (PMDB) baterá martelo sobre a licença de 121 dias, tempo em que sua vaga será ocupada pelo primeiro suplente, Lobão Filho. O pemedebista está muito incomodado na condição de magistrado no processo de impeachment da agora presidente afastada Dilma Rousseff (PT). O xis da questão é a condição de ex-ministro de Minas e Energia do primeiro governo dela, período em que os dois estreitaram laços de amizade. Como demonstrou claramente no discurso de pouco mais de dois minutos com que votou pela admissibilidade do processo de impeachment, deixando claro, porém, que aquele não será o seu voto no julgamento final, do qual ele não quer PMDB, o que significará voto certo pela perda do mandado da presidente. Lobão Filho tem sinalizado que não se sente compromissado com a presidente e que por isso dará um voto independente, que tudo indica que será pelo impeachment.

 

São Luís, 14 de Maio de 2016.

2 comentários sobre “Dino e Sarney ganham e perdem nos desdobramentos da guerra do impeachment da presidente Dilma

  1. O governador e o Maranhao perdeu em todos os sentidos, agora so resta o Presidente Jose Sarney corrigir a lambanca que o governador fez durante o processo de cassacao da presidente.

  2. Presidenta Dilma teve 55 votos p/ permissão de investigação do seu governo:
    1- Basta 2 senadores achar que ela não teve culpa ela volta; e já existem vários senadores arrependidos

    2-Como ela não tem + a caneta, o + importante é como chegará o governo interino do Temer ao final dos 180 dias e tudo leva crer que estaremos pior que hoje

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