Quebrando a regra que norteou a posse de governadores maranhenses nas últimas décadas, com a posse formal na Assembleia Legislativa e a investidura no cargo ocorrendo no mesmo dia 1º de janeiro, o governador Carlos Brandão (PSB) foi empossado para o novo mandato na 9ª hora do primeiro dia do ano, e deixou para hoje, o 6º dia, data dedicada aos Reis Magos, a passagem da faixa dele para ele mesmo. Pelo que está roteirizado, será uma grande festa, com os atos formais no Palácio dos Leões e uma série de eventos, entre eles vários shows musicais a céu aberto para milhares de pessoas, apoiadoras e não, porque essa distinção ficou no resultado das urnas eletrônicas. Carlos Orleans Brandão Júnior, 64 anos, veterinário de formação e político profissional envergará por sobre o ombro a faixa que simboliza o poder legitimado por uma eleição em turno único, e em relação a qual não houve uma só réstia de questionamento.
O governador festeja o início do seu próprio mandato com uma mensagem de agradecimento e com a prerrogativa de exercê-lo plenamente ao longo dos próximos quatro anos, motivado pela força política que concentra e pelas boas perspectivas administrativas, segundo a sua própria avaliação.
No campo político, o governador Carlos Brandão dá a largada no mandato embalado por um lastro de poder pouco visto em tempos recentes no Maranhão. Ele saiu das urnas com quase dois milhões de votos, e no comando de uma base fiel de pelo menos 30 dos 42 deputados estaduais, e com uma bancada federal majoritariamente alinhada, incluindo dois dos três senadores. Não bastasse isso, nesse exato momento, pelo menos 190 dos 217 prefeitos – incluindo os de Imperatriz, Caxias, Codó, Bacabal, Santa Inês e Paço do Lumiar, por exemplo – estão de bem com o Palácio dos Leões.
No plano federal, o governador Carlos Brandão é aliado de primeira hora do novo Governo da República, inteiramente sintonizado com o presidente Lula da Silva (PT). Nesse contexto, tem como maior em mais importante aliado o senador eleito Flávio Dino (PSB), recém investido no poderoso e influente cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, tendo também canal aberto com o ministro das Comunicações, o deputado federal Juscelino Filho (UB), e ainda relacionamento amigável com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Geraldo Alckmin (PSB), relações que lhe asseguram trânsito fácil e produtivo nas fontes de recursos da Esplanada dos Ministérios.
Carlos Brandão vai governar um Maranhão ainda pobre, com índices econômicos e sociais muito baixos, com a maioria dos seus 7,5 milhões de habitantes vivendo modestamente, e pelo menos 2 milhões inscritos no Bolsa Família, e com imensos desafios a serem vencidos em educação, saúde, segurança, infraestrutura. Mas é também um Maranhão que vem vivendo um forte processo de mudança, que começa a explorar efetivamente as suas riquezas naturais e os seus tesouros culturais e a sua posição geográfica privilegiada, avançando em frentes como o turismo, o agronegócio, e a corrida espacial, por exemplo, com o alargamento do seu horizonte social e econômico. Um cenário que ganhou tons mais fortes nos dois últimos Governos, liderados pelo agora senador Flávio Dino (PSB) e nos quais teve participação efetiva e cujas linhas gerais tem agora o desafio de manter. “Com melhorias”, como ele próprio declarou.
Vale acentuar que o governador Carlos Brandão dá a largada no seu Governo num contexto que lhe é favorável em todos os aspectos. Isso porque, ao contrário do seu antecessor, Flávio Dino, que nos últimos quatro anos enfrentou a trágica pandemia da Covid-19 e a obsessiva hostilidade política e administrativa do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu governo, Carlos Brandão vai encarar os desafios em situação inversa. Conhece o mapa das dificuldades e dos recursos que dispõe para enfrentá-las, e tem o domínio da máquina administrativa.
Reúne, portanto, as condições para deslanchar pelos próximos 1.454 dias. E sem o direito de errar.
PONTO & CONTRAPONTO
Rumores preveem para hoje desfecho sobre Mesa da Assembleia
Não será surpresa se até o final da tarde desta sexta-feira, em meio às comemorações pelo início do novo Governo, alguém autorizado anunciar o desfecho das articulações para definir a disputa pela presidência da Assembleia Legislativa.
Nos bastidores, aliados da deputada eleita Iracema Vale (PSB) asseguram que a situação está definida e que a parlamentar, que tem o apoio do governador Carlos Brandão, será eleita presidente, com larga maioria de votos, no dia 1º de fevereiro. Por seu turno, apoiadores do presidente Othelino Neto (PCdoB), sem exibir o entusiasmo dos adversários, afirmavam ontem que até o início da noite não havia definição e que chefe do Poder Legislativo mantinha sua candidatura.
Uma voz neutra e bem informada disse à Coluna acreditar que a situação está definida em favor da deputada eleita Iracema Vale. Mas com o presidente Othelino Neto saindo bem do episódio.
Eduardo Braide e Paulo Victor fazem reunião sobre pauta
O prefeito Eduardo Braide (PSD) se reuniu ontem com o novo vereador-presidente Paulo Victor (PCdoB), para tratar da pauta a ser votada pela Câmara Municipal na sessão extraordinária convocada para essa sexta-feira. Não foi uma conversa tensa, mas também não foi marcada por rasgos de amabilidades. Não houve maiores debates sobre a proposta orçamentária da Prefeitura para o ano já em curso, que já deveria ter sido aprovada no final do ano passado. O ponto crítico é a emenda à Lei Orgânica aumenta os percentuais de emendas parlamentares para os vereadores. Tudo indica que uma crise foi evitada.
Foi o primeiro teste no relacionamento do prefeito Eduardo Braide com o vereador-presidente Paulo Victor, que tende a ter altos e baixos. E a explicação está no fato de que ambos devem disputar a Prefeitura em 2024. O prefeito trabalha com a perspectiva da reeleição, enquanto o presidente da Câmara investe para chegar ao Palácio de la Ravardière.
Em Tempo: Eduardo Braide e Paulo Victor não trataram da terceira matéria a ser discutida e votadas hoje: a emenda-jabuti que inverte a regra que proíbe membro da Mesa Diretora da Câmara Municipal a se licenciar para exercer funções executivas sem perder o cargo – mudança fora da curva e que não encontra similar na Assembleia Legislativa nem nas duas Casas do Congresso Nacional.
São Luís, 06 de Janeiro de 2023.