Por mais que a realidade seja diferente nesse ou naquele estado, não há a menor sombra de dúvida de que a corrida para a Presidência da República terá influência forte, em alguns casos, decisiva, na disputa pelos Governos estaduais. No Maranhão, o cenário é um pouco diferente da média dos estados. Essa diferença começa com o fato de que o governador Flávio Dino (PCdoB), não depende de um candidato presidencial para turbinar sua candidatura à reeleição, enquanto seu adversário mais forte, a ex-governadora Roseana Sarney (MDB), dependerá, de maneira quase decisiva, de um aliado forte na corrida ao Palácio do Planalto. Nesse contexto, há candidatos presidenciais fortes, que puxarão candidatos a governador sem cacife para fazer o inverso, assim como o páreo também será marcado por candidato a governador com o mesmo peso do candidato a presidente e vice versa. A Coluna examinou os casos possíveis e encontrou um cenário, se não exatamente conturbado, fortemente indefinido, mas com algumas situações que começam a ganhar forma.
O governador Flávio Dino deve caminhar para as urnas sem depender da força de candidato presidencial. E isso se explica pelo fato de que o seu partido, o PCdoB, deve lançar a deputada estadual gaúcha Manuela D`Ávila. No caso, ela dependerá do governador para obter algum resultado eleitoral no Maranhão. Se o ex-presidente Lula puder concorrer, fará uma dobradinha, ainda que informal, com Flávio Dino no Maranhão. Em caso contrário, a aliança poderá ser firmada com Ciro Gomes, candidato do PDT, que entrará na campanha maranhense para dar lastro político à candidatura senatorial de Weverton Rocha. E numa hipótese remota, mas possível, poderá compor com a candidata Marina Silva (Rede). É possível que venha até a fazer uma aliança informal com o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, caso ele ingresse no PSB e venha a ser lançado candidato a presidente. Flávio Dino poderá, finalmente, repetir a proeza de 2014, quando deixou a corrida presidencial em aberto na sua campanha.
A ex-governadora Roseana Sarney poderá fazer uma campanha sem candidato presidencial, mas todas as avaliações feitas até aqui seu projeto de voltar ao Palácio dos Leões terá, maior viabilidade se ela tiver como aliado um candidato presidencial alguém vinculado ao Palácio do Planalto, sendo ou não do MDB. Roseana, portanto, poderá ter como parceiro o próprio presidente Michel Temer (MDB), que na intimidade já admite concorrer à reeleição; e poderá fazer dobradinha com o atual ministro da Fazenda, Meirelles, que deve ingressar no PSD ou no MDB para disputar o Planalto. Numa hipótese remota, terá o apoio do senador Ronaldo Caiado, que deve ser candidato a presidente pelo DEM. Daí o rumor de que a ex-governadora só baterá o martelo sobre sua candidatura quando tiver definido o quadro de candidatos presidenciais do seu campo político.
A candidatura do senador Roberto Rocha (PSDB) a Governo será rigorosamente amarrada ao projeto do partido no âmbito nacional. Assim, Rocha fará dobradinha com o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que será o candidato dos tucanos a presidente da República. E se, numa hipótese quase impossível, o PSDB não lançar candidato, Roberto Rocha disputará o Governo do Estado atrelado ao nome que o comando nacional definir. Roberto Rocha pensar numa aliança com o candidato do PPS, comandado no estado pela deputada federal Eliziane Gama. Há quem diga que esse nome poderá ser o apresentador Luciano Huck, que disse ao ex-presidente FHC que não será candidato, mas parece que não se livrou direito da mosca azul.
Se mantiver seu projeto de disputar o Governo do Estado, livrando-se da acusação de que está “abrindo estrada” para Roseana Sarney, a ex-prefeita de Lago da Pedra, Maura Jorge, terá como parceiro o senador paranaense Álvaro Dias, que até aqui está vem mantendo sua pré-candidatura a presidente pelo Podemos, tendo no estado apoio do deputado federal Aluísio Mendes.
O professor Odívio Neto, que deve ser confirmado candidato do PSOL ao Governo do Estado, ainda não sabe quem será o candidato do partido a presidente da República. Acredita que será o fluminense Guilherme Boulos, que disputa a indicação do partido com Plínio de Arruda Sampaio Jr.. Na sua avaliação, a julgar pelo andar na carruagem, Boulos será o candidato do partido, e se essa tendência se confirmar e ele, Ovídio Neto, for confirmado candidato a governador, os dois farão dobradinha firme no estado.
No mesmo cenário há candidatos presidenciais cujos partidos não lançaram nomes para o Governo do Estado. É o caso do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Seu apoiador no Maranhão é o coronel da reserva José Ribamar Monteiro Segundo, fundador e líder duma certa “União da Direita Maranhense”, que se mostra interessado em se candidatar ao Governo do Estado para fazer dobradinha com o coronel do Rio de Janeiro. Outro presidenciável que ainda não tem um suporte definido no Maranhão é Marina Silva (Rede). Seu quadro mais importante no estado era o ex-juiz Márlon Reis, um dos autores da Lei da Ficha Limpa, que migrou para Tocantins, onde será candidato a governador pela Rede. Ao que se sabe, o partido não tem ainda candidato a governador no Maranhão, o que abre caminho para uma aliança com Flávio Dino ou com o candidato tucano Roberto Rocha
O quadro é ainda marcado pela indefinição, devendo ganhar um desenho mais definido a partir de março, quando terminará o prazo para a troca de partido, quando, finalmente, todas as pendências partidárias serão resolvidas. Para o bem ou para o mal.
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Especial
Benedito Buzar chega aos 80 brindando o Maranhão com obra que resgata muito da sua memória política
Uma das personalidades mais destacados do universo cultural e político maranhense nas últimas décadas, o jornalista, pesquisador, professor universitário e ex-deputado estadual Benedito Buzar emplacou seu 80º aniversário, o equivalente a nada menos que 2.400 meses de uma existência rica e produtiva, apesar dos contratempos que teve de superar. Deputado estadual com pouco mais de 20 anos, Benedito Buzar teve sua incipiente, mas promissora, carreira política golpeada pela ditadura. Mas em vez de abatê-lo, o golpe deu força ao jornalista que marcaria época, e ao pesquisador dos fatos políticos, que ao longo de décadas resgataria e consolidaria parte da memória política do Maranhão. Buzar mergulhou nos imprecisos e desorganizados acervos documentais e conversou com os grandes nomes da segunda metade do século XX, reunindo material para remontar, por exemplo, a “Greve de 51”, que passou a ser a principal referência sobre o assunto. Nas suas incursões cada vez mais profundas nos registros espalhados dos fatos, Buzar os resgatou, alinhavou-os e presenteou a memória política do Maranhão como o denso e definitivo “Vitorinismo”. O seu faro de jornalista e sua disciplina de pesquisador incansável deram aos maranhenses “Os Prefeitos de São Luís no Século XX”, outro registro cabal da sua lavra. Outras obras em livros, reportagens alentadas e crônicas, todos ricos em informação e roteirizados por um sempre eficiente e honesto resgate dos fatos. Longe dos métodos acadêmicos amarrados às equações dialéticas, por isso arrogantes e fechados, que privilegiam contextos e desprezam fatos, Benedito Buzar produziu uma obra direta, de fácil assimilação, baseada no factual e que é fruto de perfeita simbiose na qual o jornalista investiga com faro de pesquisador e o pesquisador relata o resultado da investigação com a linguagem e a objetividade do jornalista. O saldo das suas décadas de trabalho está registrado em livros e em colunas de jornal, reconhecido por todos como uma contribuição maiúscula para a memória do Maranhão. O jornalista e pesquisador Benedito Buzar também contribuiu para a evolução do jornalismo político na TV com o célebre programa “Maré Alta”, na TV Ribamar, levado ao ar nos anos 80. E o hoje professor aposentado deixou uma marca na consolidação do Curso de Administração de Uema. Secretário de Estado da Cultura no Governo João Alberto (1990/1991), Buzar deflagrou o processo que resultou na reforma do Teatro Arthur Azevedo. Ultimamente, Benedito Buzar vem batalhando para manter de pé a mais importante associação cultural do Maranhão, a Academia Maranhense de Letras, que preside há três mandatos consecutivos. O melhor de tudo é registrar que este descendente de libaneses bem humorado – e bem casado com a igualmente bem sucedida professora Solange Buzar, com quem forma um casal apaixonado há mais de meio século – chegou aos 29.200 dias de existência saudável, e intelectualmente ativo, inquieto e curioso como sempre, dando todas as demonstrações de que o seu legado como jornalista-pesquisador ainda não está completo. E a mais eloquente demonstração disso é a sua coluna domingueira em O Estado do Maranhão – que, vale registrar, o homenageou com toda justiça, dedicando-lhe, com a ênfase devida, o caderno Alternativo deste fim de semana.
Que venham os 90 e os 100. Ele merece. É isso aí.
São Luís, 17 de Fevereiro de 2018.