“Todo mundo diz que a política só tem porta de entrada. Eu dizia que tem porta de entrada e porta de saída. Mas, na realidade, eu entrei e não quero sair. Eu sou política, vou continuar sendo política, e estou pensando agora, em 2022, em voltar a ter um cargo eletivo. Vou colocar meu nome para que as pessoas possam analisar. A princípio, estou pensando em me candidatar a deputada federal. Já fui deputada federal e gostei. É por aí. Eu não vou largar a política”.
Com essa declaração, dada neste sábado (24) ao programa “Café com Leane Lago”, da TV Band, a ex-deputada federal, ex-senadora e ex-governadora Roseana Sarney (MDB), 67 anos, confirmou – ao que parece, em definitivo – o seu retorno ao grande tabuleiro da política estadual, agora como pré-candidata à Câmara Federal, como revelou esta Coluna, em primeira mão, na edição de 29 de Janeiro. Além de se identificar com o ambiente dominante na Câmara Baixa, onde o embate político é mais duro e o processo de articulação é mais intenso, Roseana Sarney planeja ser eleita com uma votação expressiva, suficiente para “puxar” outros candidatos emedebistas, na perspectiva de retornar à Brasília liderando uma minibancada para reforçar a representação do MDB.
O projeto da ex-governadora de retornar à política é bem mais amplo, e passa, primeiro, pela etapa de assumir o controle do braço maranhense do MDB, o que deve acontecer em Junho, de acordo com uma articulação interna pela qual o partido realizará uma convenção extraordinária para elegê-la presidente, encerrando a longeva presidência do ex-governador João Alberto. Esse processo foi acordado com a ala jovem do partido, liderada pelo deputado estadual Roberto Costa e com o próprio João Alberto. Ela quer liderar o partido nas eleições do ano que vem, certa de que a soma do seu prestígio com a sua experiência, associados à força da militância da ala jovem, podem levar o MDB a recuperar nas urnas pelo menos parte do que perdeu nas eleições de 2014 e 2018. No primeiro, o seu grupo foi tirado do poder na turbulência da dura derrota do sarneysismo, que foi esmagado pela estrondosa vitória anunciada da aliança liderada por Flávio Dino (PCdoB), e no segundo, sofreu a mais dura das suas derrotas.
A opção por concorrer a uma cadeira na Câmara Federal é uma prova inconteste de que a ex-governadora navega agora no mar da experiência. Se se movesse por impulso, encantada, por exemplo, por pesquisas recentes, que a apontam como detentora de pelo menos 25% de intenções de voto para o Governo do Estado, poderia cometer o erro primário de se lançar candidata ao Palácio dos Leões, o que muito provavelmente a levaria para sua terceira derrota nessa disputa. Ou entrar na corrida ao Senado, enfrentando ninguém menos que o governador Flávio Dino, que já admitiu que será este o seu caminho em 2022, e com a vantagem de ser o franco favorito para a vaga, segundo todas as sondagens feitas até aqui.
Depois de um mandato de deputada federal (1991-1993), meio de senadora (2007-2009) e quatro de governadora (1995-1998, 1999-2002, 2009-2014), tendo também amargado duas derrotas nessa caminhada (2006 e 2018), Roseana Sarney sabe que o tempo do sarneysismo passou e que a volta do grupo ao comando do Estado é uma possibilidade remota demais para ser tentada agora, quando o movimento liderado pelo governador Flávio Dino encontra-se no auge do seu prestígio, reunindo as condições para eleger o governador e o senador – que deverá ser o próprio líder. E quando confirma seu retorno ao campo de batalha pelo voto usando o seu poder de fogo pessoal para fortalecer o que restou do seu grupo, ela demonstra que é hoje, de fato, uma política madura, com noção exata da realidade na qual está inserida.
Qualquer avaliação séria e isenta certamente concluirá que o retorno da ex-governadora ao tabuleiro das disputas, atuando como líder partidária e se preparando para disputar votos, enriquece o jogo na política do Maranhão.
PONTO & CONTRAPONTO
Ações de Dino na Justiça podem deixar Bolsonaro em situação complicada
O governador Flávio Dino anunciou que está acionando mais uma vez a Justiça contra uma decisão do presidente Jair Bolsonaro (a caminho do Partido da Mulher Brasileira). O motivo da ida ao Supremo Tribunal Federal agora é contra a decisão do presidente de, por meio do torniquete financeiro, obrigar o IBGE a adiar o Cento 2021, que levantaria dados essenciais para o País.
-Diante do descumprimento da Constituição pelo governo federal, com o cancelamento do Censo, já orientei a PGE do Maranhão a ingressar na Justiça. Há impactos em políticas sociais e na repartição das receitas tributárias, ameaçando os princípios federativo e da eficiência -, escreveu no Twitter, uma das suas redes sociais.
A iniciativa do governador gerou insatisfação de bolsonaristas, que a criticaram. Uma reação habitual nessas situações. Eles parecem não compreender que, em vez de resumir sua insatisfação com ameaças e xingamentos, como faz o presidente, o governador do Maranhão bate na porta que todo cidadão de bem tem de bater nesses casos.
O governador Flávio Dino já acionou o presidente Jair Bolsonaro várias vezes na Justiça, entre elas uma por injúria, reagindo à inverdade dita por ele para justificar sua não ida a Balsas, no ano passado. Nos dois casos, todas as avaliações técnicas indicam que as ações movidas pelo governador do Maranhão reúnem os elementos essenciais para colocar o presidente da República em situação delicada.
Rocha poderá completar sua trajetória partidária no Partido da Mulher Brasileira, rebatizado “Brasil 35”
Depois de uma longa e diversificada trajetória partidária, na qual iniciou encarnando o liberalismo como membro do PL, para em seguida experimentar o legado de Ulisses Guimarães e se juntar a José Sarney no PMDB, dar mais um passo à frente jurando fidelidade à social-democracia no PSDB, e surpreender por um bom tempo fazendo de conta de que havia se convertido ao socialismo como membro e chefe do PSB no Maranhão, e voltar a se fantasiar de tucano até o início deste ano, quando virou um “sem partido”, o senador Roberto Rocha poderá agora embarcar no tal “Brasil 35”, ex-Partido da Mulher Brasileira (PMB), que trocou de identidade para abrigar o presidente Jair Bolsonaro. Já se especula até que, se, de fato, essa operação for confirmada por Jair Bolsonaro, e o senador vier a segui-lo, Efigênia Tavares, que comanda o agora “Brasil 35” no Maranhão, poderá ter de abrir mão do posto de comando, para – quem sabe? – virar vice-presidente.
São Luís, 25 de Abril de 2021.