O governador Carlos Brandão (PSB) mandou de vez para o espaço a estratégia de só se manifestar sobre a corrida para a sua sucessão, a disputa para as duas cadeiras no Senado e os preparativos para as eleições gerais, no início do ano que vem, sob o argumento de que 2025 seria inteiramente dedicado ao trabalho. Numa guinada radical, ele decidiu antecipar o debate sucessório em nada menos que seis meses, mergulhando sem reservas nas declarações políticas, que alteraram radicalmente o cenário político estadual. O ponto culminante da virada até aqui foi a entrevista ao portal de notícias Metrópoles, na qual confirmou, letra por letra, o seu projeto de permanecer no cargo e eleger o sucessor, da sua relação, hoje rompida, com o ex-governador e atual ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino,
Até pouco tempo reticente e cauteloso diante de indagações diretas de jornalistas sobre o ambiente pré-eleitoral do Maranhão, o mandatário maranhense decidiu colocar as cartas na mesa, fulminar as dúvidas, e iniciou um jogo de largo alcance. Sem qualquer reserva, anunciou que fica no cargo até o final do mandato, abrindo mão de um mandato quase certo de senador, e comunicou ao mundo que vai apostar todas as suas fichas na candidatura do secretário de Assuntos Municipalistas, seu sobrinho e braço direito Orleans Brandão (MDB), com a previsão de que a aliança governista elegerá os dois senadores, fará uma forte bancada federal e mais da metade da Assembleia Legislativa.
A mudança de atitude começou no início de junho, em Cajapió, onde, ao falar numa inauguração de obra, sinalizou pela primeira vez, publicamente, o propósito de lançar seu sobrinho candidato à sua sucessão. Mesmo tendo sido uma manifestação clara, direta, a declaração foi suficiente para assanhar os bastidores da política. De lá para cá, o governador veio num crescendo, explicitando cada vez mais o seu projeto de poder, animando seus aliados, entre eles a presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale (PSB), e o prefeito de Bacabal e presidente da Famem, Roberto Costa (MDB), por exemplo.
À medida em que foi abrindo o jogo e confirmando o projeto de candidatura do secretário de Assuntos Municipalistas, o governador Carlos Brandão foi dinamitando as bases que sustentavam o projeto de candidatura do vice-governador Felipe Camarão (PT). Mais do que isso, atraiu para a aliança que controla forças até então distanciadas do seu Governo, como o senador Weverton Rocha (PDT), que conseguiu se tornar a primeira opção do grupo brandonista, e o deputado Aluísio Mendes, que agregou à base governista o poder de fogo do Republicanos no Maranhão. Na sequência entraram na locomotiva governista a Federação União Progressista, com as pré-candidaturas dos deputados federais André Fufuca (PP) e Pedro Lucas Fernandes (União) ao Senado. Ontem à noite, o PSDB, liderado pelo secretário-chefe da Casa Civil, Sebastião Madeira, se reuniu, com a presença do seu presidente nacional, Marconi Perillo, para declarar apoio a Orleans Brandão.
Como acontece em toda grande virada política, a guinada produziu um custo, que deve ser a perda do PSB, que lhe deve ser tirado nos próximos dias. A experiência nesse jogo o fez preparar terreno para eventuais rebordosas, e disso resultou assumir o controle do MDB, para se garantir e aos seus aliados mais próximos. A crise instalada no PSB mostra que Carlos Brandão tinha razão quando acionou o seu irmão, Marcus Brandão, para assumir o controle do MDB no estado. Assim, se deixar o PSB nos próximos dias, como está rascunhado, terá o MDB como sua reserva estratégica e o seu porto seguro.
Chama a atenção o fato de o governador Carlos Brandão comandar a produção do atual cenário político maranhense sem perder o link que o mantém como aliado de primeira linha do presidente Lula da Silva (PT) e figurar na lista dos bons companheiros do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) nas fileiras do PSDB em outros tempos.
PONTO & CONTRAPONTO
Post de Camarão criticando a família Bolsonaro foi interpretado como tendo um segundo alvo
O vice-governador Felipe Camarão (PT) saiu em defesa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, agredido pela insanidade ideológica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele publicou o seguinte nas suas redes sociais:
“Deixaram o Brasil de lado para lutar pela impunidade familiar! Ainda bem que o eleitor brasileiro não aceita mais esse jogo em que a prioridade é a manutenção do poder familiar! Precisamos nos unir contra quem prefere o mal dos brasileiros para sustentar o poder familiar e a impunidade! O nosso Judiciário é livre! O nosso povo é livre! O que estão fazendo com o ministro Alexandre de Moraes não é um ataque pessoal, é um ataque à soberania do Brasil! Eu luto por um país livre e soberano!”
Não há qualquer dúvida de que o alvo do seu petardo é a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que vem cometendo a insanidade de prejudicar o País em troca de uma anistia que não vai acontecer.
Mas alguns observadores entenderam que por tabela o vice-governador também tentou alvejar o comando do Palácio dos Leões.
Bonfim tenta ganhar espaço em São Luís provocando Braide, mas o prefeito o ignora
Pré-candidato do Novo ao Governo do Estado, o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes Lahesio Bonfim parece empenhado em escalar o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), como seu adversário preferencial. Depois de vários gestos tentando se aproximar do prefeito, o ex-prefeito agora anda procurando oportunidades e motivos para provoca-lo, como aconteceu recentemente, quando ele criticou a demissão de Júnior Vieira da Secretaria Municipal de Esportes, ligado ao deputado Aluísio Mendes (Republicanos).
O problema de Lahesio Bonfim é que ele não consegue ocupar um espaço considerável no eleitorado de São Luís. Ele se mudou para a Capital com esse propósito, e agora tenta estocar o prefeito Eduardo Braide, tentando estabelecer um conflito político que lhe dê visibilidade no eleitorado ludovicense.
O prefeito Eduardo Braide tem experiência e inteligência política suficientes para ignorar completamente as provocações do ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, deixando-o falando no vazio, como aconteceu em todas as tentativas que lhe foram dirigidas pelo candidato do Novo.
Lahesio Bonfim está convencido de que se conseguir estabelecer um confronto verbal direto com Eduardo Braide, ganhará visibilidade na Capital, onde o prefeito se reelegeu em um só turno, faz uma gestão com elevados índices de aprovação e, sem ser candidato declarado, está disparado na liderança da corrida ao Palácio dos Leões. Logo, seria pura ingenuidade reagir ao candidato do Novo. E Eduardo Braide não é ingênuo.
São Luís, 31 de Julho de 2025.