Depois de várias tentativas mal articuladas dos seus cardeais de encontrar uma fórmula para resolver sua aguda crise interna, o braço maranhense do MDB volta a ser campo de guerra entre uma cúpula desgastada, que teima em continuar no comando, e a nova geração, que está decidida a colocar o partido no eixo da realidade. Agora, diante do fracasso da proposta mais recente – o deputado federal João Marcelo para presidente e o deputado federal Hildo Rocha para vice -, a ideia de buscar um nome de consenso para suceder ao senador João Alberto na presidência parece inviabilizada. E nesse contexto, o deputado estadual Roberto Costa, principal pregador da ideia de renovação, avisa: se o nome de consenso não for encontrado até o final do mês, ele lançará sua candidatura a presidente, de modo que a escolha do novo líder do partido seja feita pelo voto direto em convenção partidária.
Roberto Costa avalia essa situação já está se prolongando muito, causando maior desgaste ao partido. “Não podemos perder mais tempo. Temos uma nova realidade no Estado e no País e as eleições municipais estão a menos de dois anos. O MDB maranhense não pode ficar perdendo tempo com discussão sem resultado. Gostaria de apoiar um nome de consenso, mas estou pronto para ser candidato e resolver isso pelo voto na convenção do partido, que na minha opinião tem de ser realizada já em Fevereiro – declarou o deputado Roberto Costa à Coluna com a convicção de quem está determinado a desatar o nó que amarra o debate dentro do MDB.
No final do ano passado, logo após as eleições, a cúpula emedebista – formada pelo ex-presidente José Sarney, a ex-governadora Roseana Sarney e os senadores João Alberto e Edson Lobão – foi provocada a buscar um caminho para a sucessão de João Alberto na presidência do MDB. Recém-saída de uma dura derrota eleitoral, a ex-governadora Roseana Sarney anunciou seu propósito de assumir o comando do partido. O deputado Roberto Costa reagiu propondo que a direção do MDB fosse entregue a um membro da nova geração – o presidente nacional da Juventude do MDB, Assis Filho, o prefeito de Imperatriz, Assis Ramos, o deputado federal Victor Mendes, ou ele próprio, Roberto Costa. A começar pelo fato de contrariar direta e frontalmente Roseana Sarney, a proposta de Roberto Costa causou um enorme impacto dentro do MDB, levando inclusive o deputado federal Hildo Rocha, que apoiou o “não” à ex-governadora, a se colocar no leque das opções defendendo a disputa pelo voto.
Dominada pela cultura de escolher dirigentes pelo conchavo e não pelo debate e pelo voto, a banda “madura” da cúpula emedebista iniciou um lento e ardiloso esquema partidário para impedir a ascensão de Roberto Costa e uma eventual eleição de Hildo Rocha. A fórmula foi a seguinte: colocar o jovem João Marcelo na presidência – o que na prática manteria João Alberto no controle do partido – e Hildo Rocha na vice, mantendo Roberto Costa “exilado” na presidência do MDB de Bacabal. Só que esqueceram de combinar com Hildo Rocha. A informação vazou e, ao tomar conhecimento dela, Hildo Rocha reagiu “cuspindo bala”, criticando o conchavo e reafirmando que é candidato a presidente. A fórmula surpreendeu igualmente o deputado Roberto Costa, que também reagiu com firmeza, reafirmando sua proposta de que o comando do MDB seja entregue à nova geração, ficando os velhos caciques como “oráculos”, que seja encontrado um nome de consenso ou que a escolha seja feita pelo voto dos convencionais.
Roberto Costa usa um argumento fatal: no momento em que o Maranhão vive uma nova realidade política e em que o Brasil está sendo politicamente virado pelo avesso, não dá para manter um partido como o MDB preso a velhas fórmulas, a conceitos que não se enquadram na realidade. Ele concorda que o partido seja mantido na Oposição, mas rejeita o ranço, o ataque pessoal, a postura raivosa, que só expõem a fragilidade do partido. Para ele, as lideranças têm de ouvir as bases emedebistas, os prefeitos, saber o que eles estão achando disso tudo, quais são as suas expectativas e o que eles esperam do partido. Eu quero abraçar a posição da maioria.
– Minha posição na Assembleia Legislativa será a da maioria do partido. É por isso é que, se não houver consenso, vou disputar a presidência no voto. Disso eu não abro mão – declarou Roberto Costa, com a ênfase de quem sabe o que sabe o que está fazendo e com a autoridade política de um dos poucos membros do partido que saíram vencedores da devastadora guerra eleitoral do ano passado.
PONTO & CONTRAPONTO
Famem: ato de Erlânio Xavier não impressiona Cleomar Tema, que intensifica campanha
Ao contrário do que muitos esperavam, o grande ato de lançamento da chapa “Humberto Coutinho”, liderada pelo prefeito de Igarapé Grande, Erlânio Xavier (PDT), para disputar o comando da Famem, não impressionou o presidente da entidade e candidato à reeleição Cleomar Tema (PSB). A reação dele foi a de quem foi empurrado para a briga, ou seja, tomar gosto pela corrida e intensificar sua campanha. Nas contas de um prefeito que esteve no lançamento, mas ainda não decidiu em quem votará, o cenário da disputa ainda está indefinido à medida que pelo menos “uns quarenta” prefeitos estão esperando que uma melhor definição do poder de fogo de cada candidato. Avalia que o movimento liderado por Erlânio Xavier é consistente e pode se fortalecer ainda mais, principalmente por conta da “força” que ele está recebendo do senador eleito Weverton Rocha (PDT), de quem é aliado de frente. A fonte, porém, alerta que é precipitação pura subestimar o poder do fogo do presidente Cleomar Tema, um político traquejado, “com muitas eleições nas costas” e que conhece como poucos os humores dos prefeitos maranhenses. “Não estou dizendo que ele vai ganhar a eleição, mas o Tema sabe o que faz, e não estaria em campanha se não achasse que pode vencer a eleição”. Ontem, Erlânio Xavier intensificou sua corrida pelo apoio dos prefeitos, enquanto Cleomar Tema manteve sua estratégia de operar a partir do seu QG, onde vem recebendo prefeitos que o apoiam. Um deles foi o prefeito de Paço do Lumiar, Domingos Dutra (PCdoB), que não só declarou apoio ao projeto de reeleição do presidente, como defendeu a formação de um consenso em torno do seu nome.
Sem interessados de peso, PSL pode continuar sob o comando de Chico Carvalho
Uma situação não prevista começa a tomar forma no braço maranhense do PSL: depois de semanas e semanas quase descartado, o vereador Chico Carvalho pode continuar no comando do partido de Jair Bolsonaro no Maranhão. A ex-prefeita Maura Jorge não conseguiu até agora firmar uma posição de comando, apesar da sua intensa incursão pelas entranhas do novo Governo, devendo no máximo ganhar um cargo na máquina federal. O deputado federal eleito Pastor Gildenemyr não tem perfil de líder partidário e só agora desembarcou no partido. Único deputado estadual eleito pelo PSL no estado, Pará Figueiredo não demonstrou até agora o menor interesse por questões partidárias e tudo indica que não pretende se envolver com essa área. E o médico Alan Garcez só parece interessado em ocupar um espaço na máquina do Ministério da Saúde. Fora do partido, o deputado federal reeleito Aluísio Mendes tem dado mostras de que poderá vir a controlar o PSL, não sendo descartada também o interesse do senador Roberto Rocha, que já declarou apoio ao Governo de Jair Bolsonaro e poderá vir a desembarcar do PSDB. Esse cenário de indefinição desenha com cores fortes a possibilidade da velha e esperta raposa de São Luís continuar dando as cartas no PSL maranhense.
São Luís, 18 de Janeiro de 2019.