O deputado Yglésio Moyses (PRTB) cumpriu ontem a ameaça que fizera à bancada dinista na Assembleia Legislativa. Em um explosivo discurso, que durou exatos 34 minutos, o parlamentar tornou públicos áudios e um print contendo conversas e troca de mensagens nas quais os deputados federais Márcio Jerry (PCdoB) e Rubens Jr. (PT), Diego Galdino, atual número 2 do Ministério do Esporte, e “um desembargador federal” se manifestam com falas endereçadas ao governador Carlos Brandão (PSB). O print explosivo mostra uma suposta conversa na qual o “desembargador federal” prevê que, caso o governador não fizesse os arranjos propostos por Márcio Jerry e Rubens Jr., em relação à corrida sucessória em Colinas e Barreirinhas, não chegaria “a abril”, ou seja, seria cassado, ou de alguma maneira afastado do cargo.
Ouvido em silêncio pela bancada dinista, o discurso de Yglésio Moyses teve efeito bombástico no plenário da casa e, horas depois, causou mudanças decisivas na equipe do Governo, com as demissões do jornalista Robson Paz da Secretaria das Cidades, onde representava o PCdoB, e Rubens Pereira, o Rubão, pai do deputado Rubens Jr., da Secretaria de Articulação Política. Tais mudanças consumaram o rompimento político dos dois deputados e dos ex-secretários com o governador Carlos Brandão. Mesmo não havendo qualquer fala ou postagem do ministro Flávio Dino nos vídeos e no print, o deputado Yglésio Moyses montou no seu discurso um roteiro no qual o atual ministro do Supremo Tribunal Federal aparece como o responsável pelo que ele revelou em tom de denúncia.
O Yglésio Moyses, que se movimenta para se firmar como a principal voz da direita bolsonarista no Maranhão, tendo como eixo principal sistemáticos ataques ao ministro Flávio Dino, disparando também chumbo grosso verbal contra os aliados do ministro dentro e fora da Assembleia Legislativa. O parlamentar do PRTB não revelou onde nem como obteve os vídeos e o print, limitando-se a dizer que é “bem relacionado em Brasília”. E demonstrou que, ao contrário do que disseram inicialmente os deputados Márcio Jerry e Rubens Jr., o material revelado não foi resultado de arapongagem, mas “um gesto de defesa a de quem estava sendo pressionado”. Na conversa com jornalistas, Yglésio Moyses previu que deve pagar preço alto pela publicização do material, mas completou com uma expressão emblemática: “Não estou nem aí”.
Em Brasília, no início da tarde, os deputados Rubens Jr. e Márcio Jerry ocuparam a tribuna da Câmara federal e reagiram ao explosivo ataque do deputado do PRTB. O petista Rubens Jr. confirmou a autenticidade dos vídeos, mas negou que as conversas tenham tido o caráter de chantagem direcionada ao governador Carlos Brandão, de quem foi aliado até ontem, quando seu pai pediu demissão da Secretaria de Articulação Política. O comunista Márcio Jerry se manifestou na mesma linha, reafirmando que as conversas existiram, mas não tiveram consequência.
É fato que, se houve a intenção de chantagear, o projeto foi um fracasso absoluto. Esse material foi produzido no início de 2024, e de lá para cá nenhuma das “exigências” feitas pela banda dinista foi atendida. Não houve acordo em Colinas, onde o candidato da família Brandão foi eleito com folga; e não houve também acordo em relação a Barreirinhas, onde o engenheiro Vinícius Vale (MDB), filho da deputada Iracema Vale e apoiado pelo governador Carlos Brandão, obteve uma vitória retumbante. As cinco exigências supostamente elencadas pelo desembargador federal foram ignoradas, e chegou abril de 2024 e o governador Carlos Brandão não caiu, tendo se mantido firme no cargo também em abril de 2025. E tudo indica que continuará no cargo em abril de 2026, se não sair para disputar o Senado.
Em resumo: com o discurso, o deputado Yglésio Moyses explodiu o que restava da última ponte que ainda ligava aliados do ministro Flávio Dino ao governador Carlos Brandão. E dificilmente se pode ver o movimento de ontem do parlamentar como obra do acaso ou uma ação isolada. A começar pelo fato de que ele aconteceu no momento em que o mundo político maranhense vive a expectativa de uma conversa decisiva do presidente Lula da Silva (PT) com o governador Carlos Brandão sobre a corrida sucessória no Maranhão.
PONTO & CONTRAPONTO
Mical Damasceno anuncia candidatura ao Senado
Os senadores Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PSD), que buscam a reeleição, o ministro do Esporte André Fufuca (PP), que está na briga por uma das cadeiras, assim como o ex-prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo (Mobiliza), que faz uma intensa pré-campanha, o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União), que foi lançado pelo seu partido, mas não disse ainda se será ou não candidato, e o ex-senador Roberto Rocha, que nem partido tem ainda, ganharam ontem um concorrente a mais: a deputada da extrema-direita bolsonarista Mical Damasceno (PSD).
A parlamentar surpreendeu meio mundo ao anunciar, em discurso na tribuna, que decidiu se candidatar a uma das vagas no Senado.
Sem parecer que estava blefando nem tentando valorizar exageradamente sua estatura política, Mical Damasceno anunciou que está abrindo mão de uma provável reeleição para a Assembleia Legislativa ou fazer uma tentativa de risco para a Câmara Federal, como ela própria admitiu há algum tempo.
Ela apresentou dois propulsores do seu projeto senatorial: o apoio líquido e certo de Jesus Cristo e o eleitorado evangélico, especialmente os militantes da Assembleia de Deus, a maior denominação pentecostal do Maranhão, que há tempos vem atuando quase que como um partido político.
Nessa seara, Mical Damasceno vai medir forças com a senadora Eliziane Gama, que tem na Assembleia de Deus o carro-chefe da sua locomotiva eleitoral.
A deputada Mical Damasceno carrega no momento uma contradição evidente. Ela é inteiramente alinhada ao governador Carlos Brandão, já tendo declarado apoio ao secretário Orleans Brandão (MDB) na corrida ao Governo do Estado, quando seu partido, o PSD, quer lançar o prefeito de São Luís, Eduardo Braide, ao Palácio dos Leões.
A expectativa agora é se a deputada manterá esse arrojado projeto senatorial.
Wellington emplaca projetos de apoio ao turista autista e ao envelhecimento saudável
Em meio à movimentação política que dominou parte da sessão de ontem, a Assembleia Legislativa aprovou dois projetos inclusivos, de autoria do deputado Wellington do Curso (sem partido).
O primeiro foi o PL nº 636/2023, que estabelece diretrizes para estimular o turismo voltado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seus familiares. De natureza inclusive, o PL visa assegurar que essas pessoas disponham de espaços adaptados, de modo a que elas usufruam de roteiros turísticos com segurança.
O parlamento estadual em seguida aprovou o PL 627/2023, também de autoria do deputado Wellington do Curso, que institui a Política de Atenção e Apoio ao Envelhecimento Ativo no Maranhão. O objetivo é garantir o envelhecimento saudável da população, por meio de ações que garantam qualidade de vida e incentivo à autonomia. O PL prevê ações de conscientização da sociedade sobre a importância do envelhecimento saudável, com atividades físicas, esportivas e culturais para combater o sedentarismo, que é o maior inimigo das pessoas idosas.
São Luís, 22 de Outubro de 2025.