Visita de Ana Paula e Othelino a Braide pode ser o embrião de uma aliança de oposição para 2026

Ana Paula Lobato, Eduardo Braide e
Othelino Neto: embrião de uma aliança?

O mundo político foi surpreendido pela visita da senadora Ana Paula Lobato (PDT) e do deputado Othelino Neto (Solidariedade) ao prefeito Eduardo Braide (PSD), no Palácio de la Ravardière, na manhã de terça-feira. Oficialmente, foi uma visita de cortesia institucional, comum na relação de parlamentares com executivos. A conversa, travada em clima de descontração, versou sobre relações institucionais, investimentos para São Luís e o cenário político no Maranhão de agora e a sua projeção para 2026. Visitantes e visitado nada revelaram sobre o teor do colóquio que mantiveram por aproximadamente meia hora, mas fizeram questão de tornar públicos fotos e vídeos mostrando o clima quase efusivo que marcou o encontro.  

O que poderia ser um fato normal, o evento ganhou forte peso simbólico importante, a começar pela distância política e partidária que separa o casal parlamentar do prefeito da Capital. E também pela circunstância de que a senadora Ana Paula Lobato, o deputado Othelino Neto e o prefeito Eduardo Braide não são aliados políticos nem parece que guardam afinidades partidárias e ideológicas. Mas como em política tudo é possível, a aproximação se explica pelo fato de o casal parlamentar e o prefeito da Capital estarem agora situados na oposição ao Governo do Estado, adversários, portanto, do governador Carlos Brandão (PSB).  

A visita ganha mais relevância política à medida que aconteceu há menos de uma semana depois da surpreendente eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, na qual o deputado do Solidariedade se lançou candidato de oposição e saiu da urna chancelado por 21 votos – incluindo o seu –, a mesma votação da presidente e candidata à reeleição Iracema Vale (PSB), que venceu pelo critério da maior idade.  Naquela eleição, o deputado Fernando Braide (PSD), irmão do prefeito Eduardo Braide – que foi candidato a 1º secretário, decidindo momentos antes da votação – teve papel destacado na articulação que acabou rachando a base governista, que deveria votar em massa na presidente Iracema Vale, mas atraiu mais de uma quinzena de votos governistas para o candidato de oposição.

Não há dúvida de que a senadora Ana Paula Lobato e o deputado Othelino Neto manifestaram interesse pelos problemas de São Luís, sinalizando a possibilidade de apoiar a gestão bem-sucedida do prefeito reeleito. Mas o que pesou, de fato, na conversa foram as expectativas para as eleições de 2026, nas quais o prefeito Eduardo Braide é apontado como pré-candidato ao Palácio dos Leões. A evidência da força desse item na conversa ficou clara numa declaração do deputado Othelino Neto, após deixar o Palácio de la Ravardière. “Conversamos muito sobre São Luís e o Maranhão. Muito sobre 2026”, declarou o parlamentar ao jornalista John Cutrim.

Levando-se em conta o fato de o prefeito Eduardo Braide ter sido reeleito com votação retumbante e já ser apontado como pré-candidato ao Governo do Estado, já atuando para estadualizar seu nome, e que o deputado Othelino Neto está à frente do movimento oposicionista na Assembleia Legislativa, apoiado pela fatia dinista do plenário, o desdobramento da visita de terça-feira pode ser o embrião de uma aliança de oposição para as eleições de 2026 no Maranhão. O prefeito Eduardo Braide é mais contido, mas o deputado Othelino Neto, que está jogando mais aberto, não deixa dúvidas quanto a isso.

O prefeito de São Luís, a senadora e o deputado sabem que a formação de uma frente de oposição não é tarefa fácil, uma vez que depende do aval de prefeitos. O PSD do prefeito Eduardo Braide só elegeu ele próprio, o mesmo acontecendo com o Solidariedade do deputado Othelino Neto, enquanto a aliança governista, comandada pelo governador Carlos Brandão, saiu das urnas com mais de 130 prefeitos e um exército de vereadores, e conta ainda o imensurável poder de fogo dos Leões, que é difícil, muito difícil, de enfrentar.

PONTO & CONTRAPONTO

Indefinição para 2026 faz com que as especulações sejam intensificadas na disputa para o Senado

Carlos Brandão vai dar o norte de uma disputa que pode
envolver Eliziane Gama, Weverton Rocha, André Fufuca,
Juscelino Filho, Pedro Lucas Fernandes, Josimar de
Maranhãozinho, Detinha e até Roseana Sarney

A surpreendente eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa colocou nas rodas de conversa no meio político uma série de itens, entre eles a eleição para o Senado em 2026. O tema ganhou força com o resultado das eleições municipais, andou esquecido por alguns dias, mas tornou a ganhar na última semana. E nessas conversas, a conclusão, via de regra, é a de que podem ocorrer dois cenários.

O primeiro cenário, imaginado na campanha de 2022: o governador reeleito Carlos Brandão (PSB) sairá em abril de 2026 para disputar uma cadeira no Senado, passando o Governo para o vice Felipe Camarão (PT), que disputará a reeleição. Nesse caso, a segunda vaga na chapa senatorial da aliança poderia ter a senadora Eliziane Gamas (PSD), o senador Weverton Rocha (PDT) ou o deputado federal e ministro do Esporte André Fufuca (PP). Nomes como o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) ou a deputada federal Detinha (PL), o deputado federal e ministro das Comunicações Juscelino Filho (União Brasil), poderiam concorrer em faixa própria.

No outro cenário, no qual o governador Carlos Brandão permaneceria no Governo até o final do mandato, a disputa pelas duas vagas de senador seria aberta à participação de mais nomes. O ministro André Fufuca seria candidato na chapa do candidato governista, tendo o senador Weverton Rocha ou a senadora Eliziane Gama na segunda vaga. Outros nomes disputariam avulso, como os deputados Josimar e Detinha e o ministro Juscelino Filho.  Nesse jogo até a deputada federal Roseana Sarney (MDB) poderia entrar, assim com o deputado federal Pedro Lucas Fernandes.

Como se vê, a imprecisão do cenário político de 2026 neste momento faz com que as possibilidades sejam amplas na corrida às duas vagas de senador.

Revelação da trama para matar Lula, Alckmin e Morais põe a extrema-direita num beco sem saída

Jair Bolsonaro: situação ainda
mais complicada agora

A prisão de quatro oficiais superiores do Exército – um general, e três coronéis – envolvidos numa suposta trama para tomar o poder em dezembro de 2022 com o assassinato do presidente eleito Lula da Silva (PT) e do seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal (STF) e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), agrava, muito seriamente, a situação já crítica do já inelegível ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e coloca a direita radical numa espécie de beco sem saída no cenário político nacional.

Isso porque o discurso de negar o golpismo e insistir que “tudo é armação” contra o ex-presidente pode ter perdido a réstia de consistência que vinha mantendo, ainda que as vozes da direita radical continuem a sua propagação.

O que veio à tona nesta terça-feira, pela via de um relatório da Polícia Federal, tem o peso de pá de cal, porque parece fechar o roteiro do golpe fracassado, cujo roteiro seria impedir a posse do governo legitimamente eleito com a tomada do poder pelos militares.

Os fatos se interligam: o primeiro passo em 7 de setembro de 2023, a tentativa de invasão da sede da PF em Brasília, tentativa de explosão de uma bomba num caminhão-tanque nas imediações do aeroporto de Brasília, duas reuniões do ainda presidente Jair Bolsonaro para convencer comandantes militares a apoiar o projeto de golpe, a revelação da minuta do golpe encontrada na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, a declaração do candidato derrotado a vice-presidente, general Braga Neto, dizendo a apoiadores que ainda havia “esperança”, mesmo depois dos eleitos serem diplomados, a injustificável viagem do ainda presidente Jair Bolsonaro para Miami (EUA), a permanência de apoiadores dele acampados em Brasília pedindo intervenção criminosa dos militares, o quebra-quebra golpista do 8 de janeiro, para citar os fatos mais destacados. E, mais recentemente, a bomba no STF detonada por terrorista que se matou, e, duas semanas depois, a revelação estarrecedora da trama para assassinar o presidente e o vice-presidente eleitos e do, na época, presidente do TSE, isso depois de uma eleição limpa, sem um só questionamento em todo o País.

Demonstrando incapacidade de combater o bom combate político, a ala extrema-direita mantém a obstinada posição de não admitir suas ações golpistas, parecendo não perceber que o caminho é a disputa democrática, decidida pelo voto da maioria. E isso nada tem a ver com defesa de extrema-esquerda, que no fundo é a mesma coisa – embora desde a redemocratização de 1985, nenhum ato de terrorismo da extrema-esquerda foi registrado no País, mesmo nos governos de direita como o de Collor de Melo, o de centro-esquerda, com espírito liberal, de Fernando Henrique Cardoso e dos de esquerda democrática de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Essa ação politicamente nociva, só colocou a cabeça de fora no governo de Jair Bolsonaro, que, está registrado, foi o seu maior incentivador.

Só que agora, diante do resultado das investigações da Polícia Federal, não bastará apenas negar. Os envolvidos, a começar pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, terão de provar, por A mais B, que a Polícia Federal está inventando tudo isso. E a primeira consequência é o envio do projeto de anistia para o espaço.

São Luís, 20 de Novembro de 2024.

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