
A deputada Iracema Vale (PSB será presidente da Assembleia Legislativa até o dia 31 de dezembro de 2026. O seu segundo mandato foi confirmado ontem pelo Supremo Tribunal Federal, que numa decisão fulminante de 10 votos a zero, reconheceu a legalidade da sua reeleição, disputada com o deputado Othelino Neto, então filiado ao Solidariedade, alcançada no pleito de 13 de novembro do ano passado, que resultou em empate de 21 a 21, mas foi desempatada a seu favor pelo critério regimental da maior idade. Formalizada na manhã de ontem, a decisão da Suprema Corte devolveu à Assembleia Legislativa a estabilidade perdida a pouco mais de um ano, quando o Solidariedade foi à Suprema Corte questionar o critério de desempate por meio de uma ADIN, e só devolvida ontem, com a decisão da Corte validando a eleição.
Com um discurso denso e enfático, feito na sessão ordinária realizada logo após a publicação da decisão, consumada com o voto do ministro-presidente Edson Fachin, a presidente Iracema Vale festejou “o fim da instabilidade”, lembrando que a ação lhe impôs um período de forte pressão, comparando o processo judicial ao processo em que se usa cinzas para produzir diamantes. E sem citar nomes nem apontar adversários, Iracema Vale disparou: “Alguns queriam me silenciar, alguns queriam que desistisse, alguns tentaram mostrar que no Maranhão uma mulher, uma deputada, poderia ser derrubada por pressão política. Mas nessa decisão, o Supremo disse: Não, aqui não. Não cabe mais isso no Brasil”.
Controlando a emoção e centrada para não criar constrangimento nem tripudiar nos 21 que votaram no deputado Othelino Neto (PSB), ainda que até agora não se saiba exatamente quem são, Iracema Vale disse que decisão da Corte Suprema não foi uma preferência por ela, mas “respeito à legalidade, à tradição dessa casa e à estabilidade que o Maranhão precisa”. E completou: “O Supremo decidiu pela segurança jurídica e pelo respeito às escolhas democráticas do nosso parlamento”.
E afirmando que, apesar das pressões que sofreu nesse período de instabilidade e incertezas, viveu “com o coração tranquilo, cheio de paz e com a consciência tranquila”, porque tinha certeza de que estava com a razão e com a convicção de que “ninguém está acima da lei, mas ninguém está abaixo do seu direito”. E garantiu que o processo, apesar dos desgastes, serviu como um grande aprendizado.
– Uma decisão por 10 a 0 não deixa dúvidas, mas um recado: quem venceu não fui eu, mas a Assembleia Legislativa do Maranhão. Venceu o respeito às regras, a democracia interna, a Casa do Povo. E quando a democracia vence por 10 a 0, quem ganha é o Maranhão – declarou.
A decisão da Suprema Corte encerra, de fato, um longo período de instabilidade na Assembleia Legislativa, que não comprometeu o funcionamento da Casa, mas causou incertezas e momentos de tensão, que só foram superados pela serenidade demonstrada pela presidente e os demais membros da Mesa Diretora. Ao mesmo tempo, tal situação, que gerou muitas interrogações nos bastidores, foi superada pela presidente Iracema Vale com seguidas demonstrações de habilidade – pela capacidade de administrar o conflito sem alarde – e coragem – demonstrada no enfrentamento político e judicial da questão.
Ao longo do último ano, a presidente do parlamento estadual deu seguidas demonstrações de coerência. O mais expressivo foi o cuidado estratégico de não misturar a questionamento da sua reeleição com as ações judiciais relacionadas ao processo de escolha de conselheiros do TCE, que vem deixando a Casa de mãos atadas, bem como a ação que resultou na demissão de várias ocupantes de cargos comissionados sob a acusação de nepotismo. Essas pendências aguardam solução, mas a tendência é a de que a presidente da Assembleia Legislativa será igualmente vitoriosa.
Numa observação mais específica, ficou claro que, em vez de sofrer desgaste, a presidente Iracema Vale não só consolidou o seu segundo mandato presidencial, como também engordando consideravelmente sua importância política. E com isso aumentando o seu espaço no cenário político maranhense, com cacife para participar das grandes decisões relacionadas com as eleições de 2026.
PONTO & CONTRAPONTO
Escolha para relatar indicação de Messias para o Supremo deu a Weverton prestígio e dor de cabeça
A indicação para relatar a indicação do advogado geral da União, Messias, para a vaga no Supremo Tribunal Federal aberta com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso foi, ao mesmo tempo, uma prova do seu prestígio na casa como líder da bancada do PDT, e uma tremenda batata quente que lhe colocaram nas mãos.
A indicação veio do presidente do Senado, senador Davi Alcolumbre (União/AP), com quem o senador maranhense mantém relações estreitas há muito tempo. Dizem até que Weverton Rocha teve participação importante na mobilização da base governista para a volta do senador amapaense à presidência do Senado e do Congresso Nacional.
O lado azedo da indicação é que o próprio Davi Alcolumbre parece disposto a criar embaraços à indicação – contrariado porque tentou sem sucesso emplacar o senador Rodrigo Pacheco -, que na avaliação de analistas políticos sofre uma grande rejeição, com sério risco de rejeição. Weverton Rocha tem o desafio de elaborar um parecer consistente a favor do indicado e trabalhar junto aos senadores para viabilizar a aprovação. Mas quem o conhece diz que ele vai dar conta do recado.
Vale lembrar que foi Weverton Rocha quem relatou a indicação do então senador Flávio Dino para a Suprema Corte, tendo sido ele aprovado com apenas 47 dos 81 votos.
PCdoB ainda impõe a Brandão condições para reatamento político
A Manifestação do braço maranhense do PCdoB condicionando o seu apoio ao governador Carlos Brandão (sem partido) e seu Governo à retirada da pré-candidatura de Orleans Brandão (MDB) ao Governo do Estado e à renúncia do mandatário para se candidatar ao Senado, com a ascensão do vice-governador Felipe Camarão (PT) ao comando do Governo parece uma mera peça de retórica política escrita pelo deputado federal Márcio Jerry, presidente estadual do partido.
Primeiro, todos os indícios e gestos dizem que o governador Carlos Brandão não parece interessado num acordo dessa abrangência, até porque, pelo que tem discursado, ele tem reforçado o projeto de fazer o seu sucessor. Além disso, o projeto de candidatura do secretário de Assuntos Municipalistas está ganhando volume, devendo se tornar irreversível em pouco tempo.
E depois tem um óbice que o PCdoB precisa superar. A legenda comunista é parte de uma federação junto com PT e PV, não podendo tomar decisões dessa natureza sem acertar os ponteiros com esses dois partidos. Até porque grande parte do PT e a totalidade do PV estão alinhadas ao Governo Brandão.
O deputado Márcio Jerry é um político inteligente e habilidoso, com capacidade de alimentar uma situação que parece insustentável. Só que as diferentes entre dinistas e brandonistas alcançaram um patamar que torna o racha irreversível.
Mas daqui até abril há tempo suficiente para tudo possa acontecer na seara governista.
São Luís, 27 de Novembro de 2025.

