Sucessão: declaração de Lula surpreende, mas Dino reafirma a clareza da sua posição

Flávio Dino é aliado forte de Lula da Silva, mas tem independência e estatura política para escolher rumo e não se submeter a decisão com a qual não concorda

“Nós defendemos a candidatura do Flávio Dino. Agora, o companheiro Flávio Dino tem o candidato dele, que é o vice, que é do PSDB. Ele sabe que é difícil pra gente apoiar o PSDB. E temos lá a candidatura do Weverton. Então, eles vão ter que se acertar lá para facilitar a nossa vida”. A declaração, recente, do ex-presidente Lula da Silva (PT), divulgada em redes sociais, foi interpretada pelos aliados do senador Weverton Rocha (PDT), pré-candidato ao Palácio dos Leões, como um xeque-mate no governador, e recebida com surpresa por aliados do vice-governador Carlos Brandão (PSDB), que tem mantido um bom relacionamento com boa parte do PT.

Coincidência ou não, ontem, em meio à repercussão das palavras de Lula da Silva, o governador Flávio Dino (PSB), ao ser indagado, em Imperatriz, sobre a disputa que se dá no grupo partidário que lidera, respondeu na bucha, sem pestanejar, como que reagindo com um aviso direto e sem rodeio às palavras do líder petista: “Como eu manifestei na última oportunidade, eu tenho uma posição muito clara, muito nítida de apoio a pré-candidatura do vice-governador Carlos Brandão”.

Soou estranho que o ex-presidente Lula da Silva, do alto da sua experiência e da sua habilidade, tenha feito essa declaração como se fosse uma espécie de Poncio Pilatos. Pareceu não ter se dado conta de que, se a declaração foi dada com a intensão de acalmar os ânimos e sugerir uma solução negociada, na verdade ela contribuiu para colocar lenha numa fogueira cujas labaredas os dois grupos estão tentando inibir. Afinal, a tal dificuldade que ele alega existir para apoiar a candidatura de Carlos Brandão tem mais a aparência de pretexto para alinhar o PT à candidatura do senador Weverton Rocha, o que poderia – e poderá – ser feito normal e tranquilamente, sem a necessidade de qualquer alquimia política. Flávio Dino e Carlos Brandão reconhecem a importância política do PT, o querem na aliança, mas também não o enxergam como uma nau partidária sem a qual haverá naufrágio.

Ao fazer sua declaração pilateana, que soou mais como “eles que se virem”, o ex-presidente pareceu esquecido de que, colocados numa balança honestamente aferida, ele deve muito ao governador Flávio Dino, que, por sua vez, lhe deve muito pouco, quase nada. A história recente é testemunha, e registra com clareza o envolvimento ostensivo e determinado do governador na luta dos setores progressistas contra as tentativas de destruir o ex-presidente e seu partido. Mesmo não tendo recebido o apoio do PT em 2014, quando o partido apoiou a candidatura do então suplente de senador Lobão Filho (PMDB), Flávio Dino foi um dos principais defensores da presidente Dilma Rousseff (PT), articulando movimento dentro e fora do Congresso Nacional para evitar o impeachment em 2016. Em 2018, colocou a candidatura do desconhecido candidato petista Fernando Haddad debaixo do braço e contribuiu decisivamente para que ele tivesse no Maranhão a segunda maior votação proporcional do País nos dois turnos.

O Maranhão e o Brasil são testemunhas da determinação e da intensidade com que o governador Flávio Dino correu o País em defesa do ex-presidente Lula da Silva, denunciando o processo, o julgamento e a prisão dele como uma farsa, questionando duramente as decisões do então juiz federal Sérgio Moro, chefe-maior da Lava Jato. Isso sem contar com sua participação em movimentos, conferências, debates e eventos diversos destinados a alimentar a defesa do líder petista, a quem visitou em duas ocasiões na prisão, em Curitiba. E com um detalhe: não há registro de que o governador Flávio Dino tenha dito uma só frase de alegação das suas atitudes ou condicionando sua movimentação a uma compensação política.

Não bastasse isso, o PT esteve presente nos seus sete anos de Governo, sem limitações ou condicionamento, mesmo com participação limitada na base governista na Assembleia Legislativa – atualmente só tem um deputado, Zé Inácio, que é vice-líder do Governo. E com um detalhe: nesse período, o vice-governador Carlos Brandão – assim como o senador Weverton Rocha, vale destacar -, incorporou integral e ativamente o discurso do governador Flávio Dino a favor, primeiro, da então presidente Dilma Rousseff, e depois, do líder petista. E vale indagar: o que fez Lula da Silva por Flávio Dino nesse período, além de algumas declarações de amizade política? Pouco ou quase nada. Até porque não foi necessário.

O ex-presidente Lula da Silva e o PT podem se posicionar como acharem mais conveniente no tabuleiro político do Maranhão, com o direito democrático de escolher entre Weverton Rocha e Carlos Brandão, numa decisão politicamente pragmática. Agora, se optar por uma decisão politicamente correta e justa, terá de tratar o governador Flávio Dino com a estatura política que ele construiu, sem rasura. Dono de um faro político apurado, o ex-presidente Lula da Silva pode avaliar a fala e colocar o bonde nos trilhos.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Josimar de Maranhãozinho pode disputar vaga de deputado estadual

Josimar de Maranhãozinho  

Em meio aos tremores que vêm minando sua base política, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) está mergulhado em reflexões, buscando o passo eleitoral que ele próprio vai dar. Ainda afirmando que será candidato a governador, o parlamentar sabe que esse é um rumo que não bate com a sua situação, principalmente pelo fato de que dificilmente se daria bem nas urnas. Outra possibilidade seria disputar o Senado, mas as pesquisas mais recentes desaconselharam esse caminho. Como já decidiu que não quer mais ser deputado federal, por não haver se adaptado à rotina da Câmara Baixa, já tendo inclusive lançado a candidatura da sua esposa, a deputada estadual Detinha (PL), à sua vaga naquela Casa do Congresso Nacional, resta a Josimar de Maranhãozinho concorrer a uma cadeira na Assembleia Legislativa. Será que vai mesmo?

 

Roseana arranha credibilidade com jogo sobre candidatura

Roseana Sarney

A Coluna estava certa quando, há algumas semanas, observou que a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) corria o risco de ter sua credibilidade abalada se continuasse mudando seu projeto eleitoral a cada semana, ora candidata ao Governo do Estado, ora à Câmara Federal. O vai-não-vai foi tão frequente que muitos acreditaram ser a sua palavra final a declaração, dada há cerca de duas semanas, reafirmando sua pré-candidatura à Câmara Federal. Apesar das reservas, muitos acreditaram que sua trajetória entraria agora numa pista retilínea e regular. Só que a reviravolta anunciada nesta semana, com ela levantando a possibilidade de se candidatar ao Governo atendendo a pedidos no MDB, funcionou como mais um desvio de rota, agora também como uma ducha de água fria na sua credibilidade política. Tanto que agora ninguém a levou a sério, o que a colocou numa situação de também não ser levada a sério se voltar a se dizer pré-candidata a deputada federal.

São Luís, 20 de Janeiro de 2022.

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