Em meio à turbulência que tomou conta do Congresso Nacional, em Brasília, por causa da delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista, que colocou a cabeça do presidente Michel Temer (PMDB) sob o risco de rolar e pulverizou, de maneira implacável, a carreira do senador Aécio Neves (PSDB) e manchou indelevelmente a família do consagrado presidente Tancredo Neves, representantes dos dois lados que se confrontam no tatame político do Maranhão se destacaram. De um lado, o ex-presidente José Sarney (PMDB), que, procurado pelo presidente em desespero, atuou nas sombras para aconselhá-lo a não renunciou. De outro, os deputados Weverton Rocha (PDT) e Rubens Jr. (PCdoB), que atuaram fortemente como articuladores e porta-vozes dos partidos de oposição que vêm tentando articular um movimento para depor o presidente pemedebista, seja por um processo de impeachment. José Sarney atuou como uma espécie de oráculo sustentado por quase sete décadas de vida pública ininterrupta, enquanto que Weverton Rocha e Rubens Jr. representam os segmentos da esquerda moderada, que vêm mostrando-se como parte da elite da nova geração de congressistas, com atuações eficientes.
Do alto da condição de decano da política brasileira e com um cabedal que tem como item mais reluzente o mandato presidencial no qual comandou a transição da ditadura para a democracia, José Sarney tem sido uma fonte segura de consultas do presidente Michel Temer desde antes da mudança o Palácio do Jaburu para o Palácio do Planalto. Aproximados pelo PMDB, Michel Temer se valeu dos conselhos de José Sarney em todos os momentos de tensão que antecederam e ao longo do seu mandato claudicante. Quando a bomba da JBS estourou, no início da noite do já histórico 17 de Maio, pegando o atual mandatário com a guarda aberta, por encontrar-se festejando, eufórico, os primeiros sinais consistentes de recuperação na economia, Michel Temer tentou reagir sozinho, mas perdeu-se na primeira nota. Durante a noite, ao dar-se conta de que fora jogado num atoleiro, procurou José Sarney.
Montado na experiência de ter vivido alguns momentos em que fora confrontado com situações em que renunciar parecia o único caminho – como na crise dos decretos fantasmas que alcançou na presidência do Senado -, José Sarney sabia que o jogo era político e aconselhou o presidente a encher-se de coragem e resistir. Michel Temer compreendeu a equação, e quando, no início da tarde de ontem, os telejornais da Globo e Globo News já tinham sua renúncia como certa, o presidente mandou um recado duro e desconcertante: “Não renunciarei!” No meio político todos enxergaram as digitais de José Sarney na reação do presidente.
No outro polo do turbulento cenário de Brasília, o deputado federal Weverton Rocha, que comanda o PDT na Câmara Federal como um líder atuante e controvertido, destacou-se como um dos articuladores de um movimento agressivo dos partidos de esquerda pela renúncia ou deposição, via impeachment, do presidente delatado. Saído da melhor escola brizolista, o jovem parlamentar maranhense habilmente transformou ontem o gabinete da Liderança do PDT habilmente. E na condição de anfitrião comandou a histórica reunião, que resultou numa nota na qual PDT, PT, PCdoB, PSB, PSOL e Rede exigiram saída de Michel temer da presidência da República, andando com os próprios pés (renúncia) ou sendo mandado embora (impeachment). Sua atuação foi tão efetiva e decisiva, que Weverton Rocha acabou o dia escalado pelos lideres do movimento para ler a nota e dar as explicações em concorrida coletiva de imprensa. Por sua atuação nesse primeiro momento, o deputado Weverton Rocha demonstrou que, se não tropeçar, sua trajetória política vai longe.
Com a mesma intensidade do colega de bancada Weverton Rocha, movimentou-se o deputado federal Ruben Jr., que atua como vice-líder do PCdoB e ocupa o prestigiado posto de coordenador da bancada maranhense. O jovem parlamentar se movimentou para mobilizar a sua bancada, ajudou na organização de reuniões, participou na elaboração de notas e de pedidos de impeachment, teve seu momento mais destacado quando escalado para explicar, em concorrida coletiva de imprensa, o pedido de deposição do presidente Michel Temer pela via congressual, tendo protocolado um pedido de impeachment na Câmara Federal. Mesmo atuando em sintonia fina com o governador Flávio Dino, que o tem como um dos baluartes da base política do seu Governo e como seu porta-voz no Congresso Nacional.
O fato é que, ainda como coadjuvante, o Maranhão está no centro da crise. De um lado com a atuação do mais experiente e influente políticos maranhense de todos até aqui. E do outro com a movimentação focada e politicamente produtiva de dois rebentos da nova geração de políticos maranhenses.
PONTO & CONTRAPONTO
Bancada maranhense no Senado está fechada com Temer
A bancada do Maranhão no Senado está fechada com o presidente Michel Temer. Formada pelos senadores João Alberto e Edison Lobão, ambos PMDB, partido do presidente, e pelo senador Roberto Rocha, cujo partido, o PSB, fazia parte da base aliada do Governo, mas pulou fora quando a bomba estourou.
Como a maioria dos integrantes do PMDB, o senador João Alberto sofreu forte impacto quando a notícia da delação do dono da JBS veio à tona. Preferiu não fazer nenhum juízo e aguardar mais detalhes. As novas informações não o fizeram mudar de posição em relação ao caso: ele decidiu dar total apoio ao presidente Michel Temer, seguindo rigorosamente a linha de ação do ex-presidente José Sarney. Mesmo afastado do centro do furacão político por um tombo doméstico que resultou na fratura de uma clavícula, o senador Edison Lobão mandou avisar que está com ele e não abre, posição que tomou depois de ouvir o ex-presidente José Sarney.
A situação mais incômoda é a do senador Roberto Rocha, que seguia a orientação do seu partido de apoiar o Governo, estreitando laços com o palácio do Planalto. Ocorre que com o estouro da crise levou o PSB a romper com o Governo. Diante da situação, o senador Roberto Rocha preferiu não se manifestar. Não se sabe se ele continua apoiando o presidente Michel Temer ou quer a sua saída. Há quem avalie que essa crise é o momento e o motivo adequado para Roberto Rocha decidir a sua situação partidária, permanecendo no PSB ou migrando para o PSDB.
Flávio Dino acompanha crise equilibrando-se como chefe de Estado e como líder político
O Palácio dos Leões vem acompanhando atentamente o desenrolar da crise que pode derrubar o presidente Michel Temer. Adversário assumido do Governo do PMDB, embora mantenha sempre uma janela aberta para alimentar a necessária relação institucional com o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios, o governador Flávio Dino conserva-se firme no campo político e ideológico, alimentando relações cada vez mais próximas com o ex-presidente Lula da Silva e com o PT. Como chefe de Estado, Flávio Dino se mantém na condição ética de aguardar o desenrolar dos fartos, avaliando o momento certo para se manifestar, se for o caso. Como líder partidário, apoia as ações do seu partido, o PCdoB, que está na linha de frente do grupo partidário que no Congresso Nacional cobra a renúncia do presidente ou a sua deposição por impeachment.
São Luís, 18 de Maio de 2017.