Revista e líder uruguaio mostram como a crise no Brasil está sendo vista por direita e esquerda em todo o mundo

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Dilma: crise que a tem como pivô está em discussão no mundo inteiro entre vozes de direitas e de esquerda

 

Dois registros da versão online do jornal Folha de S. Paulo mostram com clareza que a crise no Brasil tem basicamente duas versões, uma conservadora, de concepção capitalista, que sataniza a presidente Dilma Rousseff (PT), apontando-a como o principal responsável por tudo o que esta acontecendo no país, e outra progressista, inspirada nas bases do socialismo democrático, que enxerga erros de política econômica e de gestão cometidos pela presidente da República, mas afirma que o que está acontecendo no Brasil é, na verdade, efeitos da grande crise sistêmica do capitalismo. As duas visões criticam, cada uma a seu modo, a atuação da classe política e não veem o impeachment da chefe da Nação como solução para o gigantesco trauma político-econômico a que o País está sendo submetido. A visão conservadora, que é defendida pela revista britânica The Economist, em matéria na qual afirma que o Brasil foi traído pela sua classe política e, por isso, defende “eleições já”, enquanto a visão mais progressista estão nas palavras do ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, um septuagenário ex-guerrilheiro, que deu ao mundo um exemplo de como deve ser um chefe de Estado e de Governo e se tornou um ícone da esquerda democrática. Os textos a seguir são registros jornalísticos simples, sem arroubos analíticos ou interpretativos, mas dão bem a medida do debate sobre o Brasil em todo o mundo.

Brasil foi traído por Dilma e por classe política, diz revista The Economist
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Capa de The Economist: denuncia que o Brasil foi vítima de traição de Dilma e da classe politica

A revista britânica “The Economist” dedicou um texto de sua edição impressa desta semana para a “grande traição” que o Brasil sofreu, tanto pela presidente Dilma Rousseff quanto pela classe política. A publicação defende novas eleições. A votação do impeachment no domingo (17) na Câmara dos Deputados é um dos mais estranhos momentos entre as cenas bizarras que o Congresso testemunhou nos últimos anos, de acordo com a publicação. Como exemplo, há os confetes jogados pelo deputado Wladimir Costa (SD-SP) e as dedicatórias, durante os dez segundos de votação de cada parlamentar, a religiões, cidades de origem e causas envolvendo pets e corretores de seguro.

A reportagem, que é a capa da edição da Améria Latina, avalia que a votação veio num “momento de desespero”. Há forte recessão, previsão de queda do PIB, altas taxas de inflação e desemprego. A responsabilidade, de acordo com a revista, deve ser atribuída a Dilma e aos políticos, envolvidos em corrupção e negligência. Para a revista, que já pediu a renúncia da presidente, o “Brasil não pode chorar” por Dilma, já que a incompetência de seu primeiro mandato fez a economia ficar incomparavelmente pior. O que é alarmante, segundo o texto, é que “aqueles que estão trabalhando pela remoção dela são muito piores”.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é investigado no esquema de corrupção da Petrobras e, dos 21 deputados envolvidos na Lava Jato, 16 votaram pelo impeachment, lembra o texto. “Cerca de 60% dos parlamentares são acusados de algum crime”, completa. A revista britânica é esperançosa ao afirmar que o Brasil tem “reservas de tolerância” e que as investigações da Lava Jato são fruto da maturidade do país e de uma nova e bem-educada classe média, que se nega a se envolver com a impunidade.

Defendendo novas eleições, o texto aponta que apenas “novos líderes e novos legisladores podem realizar as reformas fundamentais que o Brasil necessita”, principalmente num sistema político propenso à corrupção e num descontrole da despesa pública. Para a publicação, é improvável que mudanças passem pelo Congresso, mas, como o texto indica, os eleitores não devem se esquecer desse momento, já que, no fim, eles terão a chance de ir às urnas e eleger algo melhor.

Direita pode tirar Dilma do cargo, mas não solucionará a crise, diz Mujica
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Mujica vê no Brasil crise sistêmica do capitalismo

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica afirmou nesta quinta-feira (21) que a direita não vai solucionar a crise no Brasil tirando a presidente Dilma Rousseff. “A direita pode pensar que magicamente, ao tirar Dilma, consertará a crise. Não podem. Pode consertar a crise em um país sem conciliar o capital com o trabalho? Não, não pode”, disse o uruguaio em Ouro Preto, onde foi homenageado com o Grande Colar, grau máximo da Medalha da Inconfidência.

Ele afirmou ainda que há hoje no Brasil uma ilusão de que a presidente Dilma seria a responsável pela retração econômica quando, na verdade, crises fazem parte do capitalismo e, portanto, são sistêmicas. “O Brasil se encontra hoje no ponto mais baixo da crise do próprio capitalismo. Este é um problema do sistema, mas quando há dor na sociedade, precisam encontrar em quem colocar a culpa. Vai passar um tempo e o brasileiro vai perceber que nada é tão mau nem tão bom.”

Mujica também foi questionado se o impeachment da petista pode ser considerado golpe. “Há um ditado popular no Uruguai que diz: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.” Ele defendeu ainda o voto popular e disse que ele jamais deve ser esvaziado. “As pessoas se equivocam, mas ainda assim são elas as que têm o direito de se equivocar [ao votar] porque são elas as que pagam impostos”, afirmou ele, frisando que ele não abordaria o aspecto institucional ou legal do Brasil.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Dino reage a crítica por uso de redes sociais
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Dino: uso de redes sociais é forma de prestar contas

No forte discurso que fez na homenagem aos deputados federais que votaram contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff – só foram quatro dos nove: Waldir Maranhão (PP), Weverton Rocha (PDT), Rubens Jr. (PCdoB) e Zé Carlos (PT) -, o governador Flávio Dino (PCdoB) se defendeu da provocação, feita por um juiz de direito, segundo a qual passa mais tempo twittando do que governando. Pelo tom que deu ao assunto, o governador deixou no ar a impressão de que a alfinetada o incomodou. Sem se referir ao caso em si, mas sem conseguir esconder do que se tratava, disse que usa redes sociais para prestar contas do que seu governo está fazendo, o que é uma forma inovadora de se relacionar com a sociedade. E informou, em tom elevado e enfático, que trabalha todos os dias “pelo menos 14, 15 horas”. E aproveitou para estocar governantes passados, que dormiam até tarde por causa “do champanhe” que ingeriam durante a noite. A reação do governador pareceu um desabafo às críticas que aqui e ali o alcançam por causa do uso que ele faz das redes sociais, principalmente o twitter.

 

Rocha propõe voto de bancada no impeachment
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Rocha propõe voto de bancada

O senador Roberto Rocha (PSB) está propondo que os senadores do Maranhão devem votar em bloco no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Rocha, porém, não sugere a posição a ser adotada pela bancada. Ele próprio ainda não definiu como votará, tendo sido até agora especulado que ele acompanhará a posição do seu partido, que é a favor do impeachment. A posição do PSB contém o ranço magoado deixado por seu líder maior, Eduardo Campos, que tentou ser o candidato do PT, mas foi rejeitado porque Dilma e seu grupo fincaram pé pela reeleição, tendo deixado Lula sem argumento para “rifar” presidente do seu partido para apoiar a candidatura de um aliado. Desde então as relações nunca mais foram as mesmas. E o senador Roberto Rocha representa hoje esse estado de ânimo. Ele tem conversado com os senadores Edison Lobão e João Alberto, ambos do PMDB, que se encontram entre a cruz e a espada em relação à presidente Dilma. Os dois querem apoiar a presidente, mas o PMDB os mantém sob forte pressão para que acompanham a decisão do partido, que é pelo impeachment. Os três senadores podem votar pelo impeachment, mas os dois pemedebistas não o farão por motivos que não terão qualquer relação com a proposta do representante socialista.

 

São Luís, 21 de Abril de 2016.

 

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