A segunda reunião do Fórum de Governadores do Nordeste (2019/2022), que será realizada em São Luís e terá como ponto alto a criação do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Nordeste, deve ganhar uma dimensão política bem maior com o suporte de uma Frente Parlamentar de Defesa do Nordeste, reunindo deputados federais e senadores dos nove estados nordestinos e de outras regiões. A Frente está sendo articulada por parlamentares da região, entre eles o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB) e o senador Weverton Rocha (PDT), que estão na linha de frente do movimento, que tem o governador Flávio Dino (PCdoB) como um dos principais líderes. Devem desembarcar quinta-feira em São Luís os governadores do Piauí, Wellington Dias (PT), Ceará, Camilo Santana (PT), Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), Paraíba, João Azevedo (PSB), Bahia, Rui Costa (PT), Alagoas, Renan Filho (MDB), Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) e Sergipe, Belivaldo Chagas (PSD). Todos estão “fechados” com o projeto de mobilização política regional e com a criação do Consórcio Nordeste, com base na Carta dos Governadores do Nordeste, que divulgaram na primeira reunião do Fórum, realizada em Brasília, semanas após a instalação dos novos Governos.
O Fórum de Governadores do Nordeste nasceu das dificuldades de relacionamento dos Governos da Região com o Governo do presidente Michel Temer (MDB), iniciado em 2017, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), e ganhou força com o resultado das urnas de 2018. Com a derrota fragorosa de Jair Bolsonaro (PSL) em todos os nove estados nordestinos – a começar pelo Maranhão, onde o candidato do PSL teve pouco mais de 30% dos votos – os governadores, quase todos ligados a partidos de esquerda, avaliaram o cenário e concluíram que a região sofreria restrição do novo Governo, posicionados na extrema direita. Diante desse contexto, consolidaram o Fórum, que realizou sua primeira edição em Janeiro, em Brasília. A reunião de quinta-feira, além de mais um passo na consolidação do Fórum, resultará numa medida prática da maior importância, que é a criação do Consórcio Nordeste, imaginado para ser um instrumento capaz de garantir uma relação mais efetiva entre os Governos da região e produzir resultados práticos.
O Consórcio cria mecanismos para que os estados possam firmar parcerias, turbinar resultados administrativos e economizar recursos financeiros. Isso será possível por meio de compras compartilhadas entre os Estados, com o que obterão a redução de custos. Além disso, os estados poderão firmar parcerias em áreas como infraestrutura, tecnologia e inovação, segurança pública, administração prisional e proteção do meio ambiente. E além de criá-lo, os governadores reafirmarão os termos da Carta de Brasília, na qual cobram soluções não traumáticas para a Previdência, programas destinados à criação de empregos e à geração de renda. Haverá também discussão mais profunda e abrangente sobre áreas como segurança pública, sobre o novo Fundeb e sobre temas como a revisão do Pacto Federativo, com a redefinição do papel dos estados e dos municípios.
A consolidação do Fórum dos Governadores do Nordeste será mais consistente com o suporte político da Frente Parlamentar formada, em princípio, por representantes da Região no Congresso Nacional. Os nove estados nordestinos são representados por 27 senadores e 151 deputados federais. Não há como garantir a adesão de todos, mas é possível que pelo menos 15 senadores e 100 deputados venham a integrar o movimento, que poderá ser reforçado com o apoio de parlamentares das regiões Norte e Centro-Oeste, por exemplo. Frente Parlamentar não é uma organização formal, é um movimento que mobiliza congressistas dos mais diferentes vieses partidários e ideológicos em torno de um tema. No caso, a Frente a ser criada terá como foco a defesa do Nordeste e o apoio ao Fórum de Governadores da Região. E a previsão do deputado federal Márcio Jerry, que é engajado nos esforços políticos do governador Flávio Dino em favor do Maranhão e da Região, é a de que é possível formar uma Frente Parlamentar robusta em defesa do Nordeste e em apoio ao movimento dos governantes regionais.
Por ter como pauta central a criação do Consórcio Nordeste e ganhando o suporte de uma Frente Parlamentar mista, congregando deputados federais e senadores nordestinos e de outras regiões, a reunião do Fórum dos Governadores do Nordeste em São Luís terá importância política bem maior do que as realizadas até agora.
PONTO & CONTRAPONTO
Flávio Dino e Santos Cruz: o emblemático encontro do governante comunista com general do núcleo duro do Governo Bolsonaro
A imagem, registrada na última sexta-feira (8), é emblemática. Mostra o governador Flávio Dino, um líder de esquerda da nova geração, como anfitrião do ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, integrante do chamado “núcleo duro” do presidente Jair Bolsonaro, e que, em tese, representa o suprassumo da direita. Os dois pertencem a campos ideológicos opostos, o primeiro lidera um Governo que faz firme Oposição política ao Governo ao qual o segundo pertence. O governador já recebeu em audiência outros comandantes das três Forças, com quem manteve diálogos aberto, deixando-os impressionados com a cortesia do recebimento e com o nível de informação mostrado por ele.
A visita do general Santos Cruz teve um caráter bem diferente, o que a tornou emblemática. A função dele no Governo Bolsonaro é cuidar da relação do Palácio do Planalto, com poder de fogo para dizer sim ou não, fazer ou negar concessões, e, claro, manter o presidente informado acerca de quem é quem e quem quer o quê no complicadíssimo tabuleiro do xadrez de Brasília. Daí ser absolutamente lógico supor que sua vinda ao Maranhão junto com o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, teve um objetivo bem mais político do que tratar de assuntos como a BR-135, o Porto do Itaqui e o Aeroporto do Tirirical. A Coluna aposta que Santos Cruz, que já comandou tropas do Brasil a serviço da ONU no Haiti e Congo, voou para São Luís para, além de cumprir uma pauta administrativa, se informar sobre o que é e como funciona o bem-sucedido Governo do comunista Flávio Dino.
A atenção e a cortesia com que foi recebido pelo governador causaram uma impressão altamente positiva, pois em vez do comunista ranheta e agressivo, o anfitrião do general portou-se como um líder com os pés no chão, democrático e civilizado, que defende posições e não guarda ranços. Um adversário que não é inimigo e com quem o Governo central pode manter uma relação produtiva.
Sem lastro para encarar seus pares, Fábio Macedo vai se licenciar para cuidar da saúde e curar a ferida moral
Protagonista de um dos episódios mais lamentáveis do universo político do Maranhão nos últimos tempos, causado por embriaguez alcoólica, com todos os ingredientes de uma opereta de baixo nível, ocorrido em Teresina (PI), o deputado Fábio Macedo (PDT) vai se licenciar do mandato por quatro meses, período em que tentará encontrar uma relação menos indigna com as limitações de uma cirurgia bariátrica e o consumo de álcool. Além dos problemas de saúde que ele próprio afirma amargar, o parlamentar encontra-se absolutamente impossibilitado moral e eticamente de enfrentar o plenário da Assembleia Legislativa, onde todos os seus pares, sem uma única exceção, se encontram tomados pela perplexidade provocada pelos vídeos que causaram estupefação em toda a sociedade maranhense e pais afora.
O oportuno pedido de desculpas por ele feito em redes sociais e jornais pode até ter estancado a indignação, mas certamente não eliminará a impressão de que suas declarações embriagadas, como “sou gente do povo” e “sou rico”, tornaram o senhor Fábio Macedo absolutamente desprovido de autoridade pessoal e política para falar em nome do povo, propor projetos de lei ou emitir votos sobre matéria de qualquer natureza no parlamento estadual. Tal situação só lhe dá uma chance de remissão: o afastamento pelo prazo maior de 121 dias, tempo suficiente para iniciar um tratamento sério e para refletir sobre o seu futuro político, a começar pelo seu retorno ao plenário da Assembleia Legislativa.
Ao deixar a Casa para uma ausência temporária, o deputado Fábio Macedo deve desculpar-se e agradecer ao presidente Othelino Neto (PCdoB), que passou pelo constrangimento de interceder junto às autoridades policiais piauienses. O presidente, que tem se firmado como um chefe de Poder sereno e equilibrado, entrou no circuito para, pelo menos, amenizar a dramática situação em que se meteu o deputado por ter trocado tapas com o cantor de periferia Léo Cachorrão e ter sido agressivo com policiais piauienses, o que resultou na sua detenção. Não fosse a iniciativa do presidente Othelino Neto, que conversou com o secretário de Segurança do Piauí, a quem pediu desculpas pelos desatinos alcoólicos do parlamentar pedetista, Fábio Macedo certamente teria prolongada sua condição de preso na capital piauiense.
Em Tempo: A patacoada monumental do deputado Fábio Macedo produziu pelo menos um resultado positivo para a Assembleia Legislativa: o retorno temporário da ex-deputada Valéria Macedo (PDT), que reforçará o time feminino da Casa.
São Luís, 12 de Março de 2019.