Em meio à agitação que já toma conta do meio político por causa das eleições gerais de Outubro, o braço maranhense do PT está desde ontem sob nova direção. No seu discurso de posse, o novo presidente, Francimar Melo, pregou a unidade do partido, apostando que essa agregação poderá ocorrer em torno de um projeto, que ele não definiu. O mote da fala do novo chefe do PT no Maranhão visou, em primeiro lugar, desfazer o mal-estar que vem há semanas dominando o partido. Motivo: por força de um acordo firmado há dois anos, quando da eleição do comando estadual do PT, o candidato mais votado, Augusto Lobato, que vinha dirigindo a legenda, foi obrigado a interromper seu mandato e passar o bastão presidencial para Francimar Melo, o terceiro colocado naquela disputa e que se tornara seu vice por força do tal acerto. Augusto Lobato protestou afirmando que pelo acordo permaneceria na presidência até Março, mas a Executiva nacional bateu martelo e determinou que Francimar Melo seria empossado no início de Janeiro. A ordem da Executiva nacional foi cumprida ontem, num ato sem a presença de boa parte das lideranças destacadas do partido, e no qual o presidente virou vice e o vice virou presidente.
O novo comando assume no momento em que o PT tem decisões fundamentais a serem tomadas visando sua participação nas eleições. Em relação à eleição presidencial, o PT maranhense está desafiado a criar as condições para a consolidação da candidatura do ex-presidente Lula da Silva no estado. No âmbito estadual, o partido tem de buscar um caminho com as seguintes opções: lançar candidato a governador e a senador ou participar de uma aliança com o PDT em torno do projeto de candidatura do senador Weverton Rocha, indicando o vice, ou com o PSDB – podendo vir a ser também o PSB – em torno da candidatura do vice-governador Carlos Brandão, também indicando o vice, e apoiar a candidatura do governador Flávio Dino ao Senado, independentemente do candidato a governador que vier a apoiar. E o desafio maior: evitar problemas que dificultem o envolvimento do ex-presidente Lula da Silva nessa equação.
O problema é que o PT do Maranhão é um partido dividido em três correntes que alimentam enormes dificuldades para conviver. Uma liderada por Augusto Lobato, que reúne setores mais pragmáticos do petismo, como o deputado federal Zé Carlos Araújo, mais identificada com Lula da Silva e que está apoiando a pré-candidatura do vice-governador Carlos Brandão; outra, representada por Francimar Melo, o novo presidente, fortemente ligada ao ex-vereador de São Luís Honorato Fernandes, que já declarou apoio à pré-candidatura do senador Weverton Rocha; e a terceira, também formada por petistas de raiz, como o professor Francisco Gonçalves e Márcio Jardim, que apoiaram o lançamento da pré-candidatura do secretário Felipe Camarão, que não vingou.
Mesmo dividido, às vezes com inclinações autofágicas, o PT maranhense, como em todo o País, tem dois trunfos para essas eleições. O primeiro é a candidatura do ex-presidente Lula da Silva, que tem força para mobilizar o partido e atrair o apoio de aliados à esquerda e ao centro. E o segundo é o tempo de TV e de rádio que dispõe para turbinar a campanha de qualquer aliança. Os dois fatores tornam o PT o aliado dos sonhos de todos os partidos.
No caso maranhense, porém, a divisão interna é tão forte que pode resultar em prejuízo para o próprio partido, ainda que Lula da Silva vença no estado com vantagem larga. A ausência de várias personalidades do PT no ato de posse sinalizou com clareza que a unidade pregada pelo novo presidente é um objetivo difícil de ser alcançado no Maranhão. Resta saber se o presidente Francimar Melo autoridade e liderança suficientes para que seu apelo por unidade tenha resposta efetiva do partido.
PONTO & CONTRAPONTO
Coronavírus alcança Dino, mas o encontra devidamente imunizado
O governador Flávio Dino (PSB) testou positivo para Covid-19, conforme ele próprio anunciou ontem em suas redes sociais. Tranquilizou o Governo, os aliados e a população maranhense afirmando que está bem, praticamente assintomático. Mas, como manda o bom senso e a responsabilidade de chefe de Estado, comunicou que cumprirá quarentena em casa, de onde trabalhará de modo remoto. O governador está devidamente vacinado, e ter sido contagiado pelo coronavírus é fato que deve ser levado em conta por todos os maranhenses, notadamente os que teimam em esnobar a pandemia e praticar o negacionismo.
O governador enfrenta o novo coronavírus na condição de um dos chefes de Estado que mais se empenharam na luta contra a Covid-19. Logo nos primeiros momentos da pandemia, em fevereiro de 2020, sua atuação intensa e bem articulada, com decisões acertadas e arrojadas – como a histórica compra de respiradores na China e trazidos para o Brasil numa operação cinematográfica – foi decisiva para que o Maranhão chagasse aqui como estado que proporcionalmente perdeu menos vidas para o novo coronavírus.
Felizmente o novo coronavírus o alcançou já imunizado, o que garante que, caso se manifestem, os sintomas serão leves, de modo que logo, logo, o governador esteja liberado para retomar a maratona de despachos, audiências, viagens ao interior, inaugurações, e às intensas articulações políticas.
Braide acompanha com atenção os movimentos de Moro
A resposta do ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) a informação publicada no UOL e segundo a qual forças que o apoiam estariam pressionando-o para obter um mandato, “seja ele qual for”, para garantir foro privilegiado na hipótese de constatação de conflito de interesse no seu contrato com a consultoria norte-americana Alvarez & Marsal venha a prosperar, deixou seus apoiadores em estado de alerta. Sérgio Moro descartou uma eventual candidatura ao Senado e reafirmou sua pré-candidatura a presidente da República.
A resposta de Sérgio Moro deve ter ecoado no Palácio de la Ravardière, onde o prefeito Eduardo Braide, que comanda o Podemos no Maranhão, acompanha atentamente os movimentos do ex-ministro da Justiça. Dali, o prefeito de São Luís analisa o cenário da corrida ao Palácio do Planalto, aguardando o momento de firmar e anunciar sua posição anunciar como, não sendo candidato, atuará na campanha eleitoral.
Até agora, Eduardo Braide manteve silêncio coerente e cuidadoso a respeito de quem apoiará na guerra pelo voto para governador e para presidente. Como é quase certo de que seu partido não terá candidato ao Palácio dos Leões, a expectativa é a de que ele se posicione pela candidatura do senador Weverton Rocha (PDT), que o apoiou contra o deputado Duarte Jr. no segundo turno da disputa em São Luís. No caso da corrida presidencial, Eduardo Braide apoiará naturalmente Sérgio Moro, caso ele se consolide como candidato do Podemos, o que para muitos parece ser favas contadas.
Eduardo Braide, porém, é um político pragmático, que dificilmente dá um passo antes da hora. E no caso do projeto presidencial do seu partido, ele se encontra em conferência permanente com o comando do Podemos, para se posicionar publicamente no momento adequado. E quem o conhece não duvida: se Sérgio Moro for candidato a presidente para valer, o prefeito de São Luís será linha de frente na sua campanha no Maranhão.
São Luís, 04 de Janeiro de 2022.