A decisão da Polícia Federal (PF) de pedir à Justiça mais 60 dias para investigar a suposta doação, em 2010, no valor de R$ 2 milhões, feita pelos chefões do esquema de corrupção na Petrobras, a pedido do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, à campanha da então governadora Roseana Sarney (PMDB) à reeleição, está dando o que falar nos bastidores da Operação Lava Jato. O pedido assanhou os advogados de Roseana e Lobão, que consideram desnecessária a concessão de mais prazo para a PF aprofundar a investigação, alegando que a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, com base nas investigações da PF, já estaria suficientemente esclarecida e nada provou contra os dois.
O ponto mais polêmico é que além de pedir mais tempo, a PF quer colocar de novo cara a cara o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef. Isso porque até aqui Paulo Roberto Costa mantém a versão segundo a qual, atendendo a orientação do ministro Edison Lobão, autorizou o doleiro Alberto Youssef que entregasse R$ 2 milhões, em dinheiro vivo, à governadora Roseana Sarney, para financiar sua candidatura à reeleição. Lobão nega peremptoriamente que tenha dado tal orientação a Paulo Roberto Costa; Roseana jura de pés juntos que tal acerto não existiu e que ela não recebeu nenhum centavo do esquema; e o doleiro declarou em vários depoimentos que não fez esse repasse, versão que manteve na acareação com o ex-diretor da Petrobras.
Até agora, depois de muitos depoimentos, cruzamento de dados e acareações, a denúncia contra Roseana e Lobão na Operação Lava Jato encontra-se na estaca zero. Isso porque só existe de concreto a declaração de Paulo Roberto Costa afirmando que autorizou Youssef a fazer o repasse, mas sem apresentar qualquer dado ou informação que comprove sua versão. Contra o que disse e reafirmou o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef afirmou e reafirmou que não recebeu tal orientação de Costa e que não fez repasse financeiro à governadora Roseana Sarney em 2010. A declaração do doleiro reforça a defesa de Roseana Sarney e Edison Lobão, que batem nas mesmas teclas, ela dizendo que não recebeu dinheiro do esquema da Petrobras, ele afirmando enfaticamente que não deu tal orientação ao ex-diretor da petroleira.
A negação reafirmada de Alberto Youssef colocou a PF e o Ministério Público Federal numa espécie de saia justa, já que sem a confirmação do repasse ou alguma prova material de que ele foi feito, não há como manter Roseana e Lobão sob investigação. O pedido de mais dois meses de prazo para a investigação, com a possibilidade de nova acareação, é uma espécie de cartada decisiva da PF, que espera que em novo encontro direto, o doleiro reveja sua versão e confirme a do ex-diretor da Petrobras. Caso contrário, dificilmente o Supremo abrirá processo contra a ex-governadora e o ex-ministro e atual senador pelo PMDB.
O pedido da PF de mais tempo se baseia no argumento segundo o qual “a investigação reclama, na busca da verdade, uma acareação entre Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, que pode implicar a harmonia ou o distanciamento das versões por eles apresentadas, sob o compromisso de dizer a verdade”, segundo o documento que fundamenta o pedido de mais prazo. O problema é que os dois deram e mantiveram suas versões em depoimentos comuns, em depoimentos sob o regime de delação premiada – que não admite mentiras – e na única acareação entre o doleiro e o ex-diretor da Petrobras. Se agora, em nova acareação, Alberto Youssef mudar sua versão, esta será imediatamente colocada sob suspeita.
Não se diga que, mesmo sem confirmação de que o dinheiro foi entregue, Roseana Sarney e Edison Lobão estão em situação folgada no contexto da Lava Jato. Ao contrário, a pressão sobre os dois permanece intensa, e o pedido de mais prazo demonstra que a PF está determinada a reverter a situação favorável a eles.
São Luís, 10 de Julho de 2015.