Foi tenso ontem o dia nos bastidores do PMDB do Maranhão, por causa da iminência da entrega, pelo procurador geral de Justiça, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), da lista de políticos que, segundo ele, devem ser investigados por suposto envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Na bolsa de especulações capitaneada pela revista Veja, entre eles estariam o senador Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia, e a ex-governadora Roseana Sarney. Lobão passou o dia trabalhando normalmente no seu gabinete no Senado, onde recebeu várias visitas de colegas, entre eles o senador João Alberto, enquanto Roseana Sarney encontra-se residindo temporariamente em Miami (EUA).
– Estou tranquilo, nada tenho com isso – declarou o senador Lobão à coluna, em contato feito no final da manhã.
O nome do ex-ministro de Minas e Energia foi incluído em listas especulativas divulgadas por diversos jornais nas últimas duas semanas. A última citação foi feita pela revista Veja de 25 de fevereiro que incluiu também a ex-governadora Roseana Sarney e vários outros senadores, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Ciro Nogueira (PP-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e Fernando Collor de Mello (PTB-AL), ex-presidente da República cassado por corrupção.
Numa rápida conversa, Lobão atribuiu a especulação com seu nome ao fato de ter sido ministro de Minas e Energia, a quem a Petrobras está organicamente subordinada. O ministro preside o Conselho superior da empresa, mas não participa diretamente da sua administração, e a explicação para isso é o grau elevado de complexidade das atividades da gigante petrolífera. Ele disse que não vê sentido ser incluído na lista de políticos a serem investigados como supostos beneficiários de desvios na Petrobras, segundo o entendimento do procurador geral da República, com base em depoimentos de envolvidos diretamente na corrupção, mas acrescentou que se seu nome vier a constar da tal relação, ele vai demonstrar na Justiça que sendo injustiçado.
Uma observação feita pelo senador pemedebista e ex-ministro de Minas e Energia faz todo sentido: o que será pedido pelo procurador geral da República ao STF é que a mais alta Corte de Justiça do país instaure inquéritos para investigar suspeitas. Tecnicamente, inquérito é investigação, ou seja, a Justiça, se julgar consistentes os argumentos da Procuradoria Geral de Justiça, determinará ou não o prosseguimento da investigação. Isso significa dizer que, se autorizada pelo STF, a investigação dará aos suspeitos de se defenderem, podendo concluir pela culpa ou pela inocência dos investigados, dependendo do caso.
Nos bastidores do PMDB, a tensão se elevou muito ontem, no final da tarde. A coluna conversou com algumas fontes próximas ao grupo, que disseram não estar “bem informadas” a respeito do assunto, mas admitiram haver um clima de preocupação. Primeiro por causa das especulações segundo as quais a ex-governadora seria incluída na lista do procurador geral da República para ser investigada, e segundo por conta da decisão do juiz da Operação Lava-Jato, Sergio Moro, de enviar para a Justiça do Maranhão inquérito que investiga a suspeita de que o precatório pago pelo Governo do Estado à Constran, no valor de R$ 120 milhões, parcelado em 24 vezes, teria sido acertado mediante pagamento de propina a autoridades do governo do Maranhão, segundo o doleiro Alberto Yousseff, preso em São Luís, no Hotel Luzeiros, na madrugada de 17 de março 2014.
Nos bastidores do grupo há quem aposte que o senador Edison Lobão e a ex-governadora Roseana Sarney não constarão da lista de do procurador geral da República. Pode ser. Lobão é um político experiente, que já enfrentou situações as mais diversas na vida pública, não constando desvios na sua sólida e alentada trajetória. Foi governador, presidente do Senado e do Congresso Nacional e ministro de Minas e Energia por cinco anos, não tendo sido registrado nesse período fato que lhe manchasse a biografia política. A ex-governadora já sabe o que é ser acusada em operações desse tipo com o Caso Lunus e tem o suporte experiente do pai, ex-presidente da República José Sarney, que conhece o caminho das pedras e sabe se movimentar em cenários como esse. Tanto que ao primeiro sinal de que poderia enfrentar problemas contratou o conhecido criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, para adotar medidas preventivas.
Além do desgaste pessoal causado pela tensa expectativa, os políticos atingidos pela bolsa de especulações já sofrem desgaste político sério, que jamais serão inteiramente reparados, mesmo que venham a ser inocentados ao final do processo de investigação.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Alberto Filho ganha no TSE
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promoveu impôs ontem uma reviravolta na composição da bancada do Maranhão na Câmara federal. Em decisão unânime, a mais alta corte eleitoral do país desfez a decisão do Tribunal regional Eleitoral (TRE/MA) que cassou o diploma de Alberto Filho, reeleito deputado federal pelo PMDB. Com a decisão, Julião Amin (PDT), que foi diplomado em seu lugar volta à condição de suplente, tirando da Câmara dos Deputados o ex-prefeito Deoclídes Macedo, que com a decisão agora desfeita tivera seus votos validados e assumira o mandato. Na sua decisão, o TSE determinou que o TRE/MA diplome Alberto Filho como titular do mandato. A reviravolta na Justiça Eleitoral foi festejada pela cúpula do PMDB e mal recebida pelo PDT, que além de perder um deputado federal, ficará numa situação desconfortável no primeiro escalão do Governo do Estado, já que Julião Amin foi nomeado secretario para abrir caminho para o ex-prefeito de Porto Franco. Mas atenção: Deoclídes Macedo poderá recorrer, mas só depois que o TRE/MA diplomar Alberto Filho.
Ofensiva de Edivaldo Jr.
O segundo discurso-relatório do deputado Edivaldo Holanda (PTC) dando conta das ações da gestão da Prefeitura de São Luís, pronunciado ontem na Assembleia Legislativa, é parte de uma estratégia colocada em curso pelo prefeito Edivaldo Júnior (PTC) para reverter a imagem não muito positiva da sua gestão. As informações dadas pelo deputado Edivaldo Holanda aos deputados e aos telespectadores da TV Assembleia mostram que a gestão municipal está em movimento, que pode ganhar intensidade agora com as parcerias com o Governo do Estado. Misto de aliado e pai do prefeito, o experiente parlamentar usou nas duas manifestações todo o seu talento discursivo para dizer que “São Luís está cada vez melhor”. Tudo bem, mas quem tem de dizer isso é a população, e essa ainda não se manifestou nessa direção.
Operação confirmada
Na edição de ontem, a coluna registrou a informação segundo a qual uma cuidadosa operação em curso visa reunir as mais diferentes alas do PT no Maranhão, de modo que o partido volte a uma situação de unidade com o objetivo de participar das eleições municipais do ano que vem com candidatos a prefeito no maior número possível de municípios, a começar por São Luís. Ontem, duas fontes do partido confirmaram a informação e explicaram que se trata de uma iniciativa de líderes petistas locais referendada por nomes graúdos do comando nacional do partido. Um dos propósitos é atrair de volta para o partido figuras expressivas como o ex-deputado federal Domingos Dutra, hoje no SD, e Bira do Pindaré, que se reelegeu deputado estadual pelo PSB.
Com muita sede?
Observadores e até mesmo políticos ligados à deputada federal Eliziane Gama (PPS) estão preocupados com o desempenho dela na CPI da Petrobras. Uns acham que ela está avançando como quem vai com muita sede ao pote; outros temem que a exposição excessiva possa prejudicar o seu projeto de disputar a prefeitura de São Luís no ano que vem. Esses últimos avaliam que se ela for bem sucedida nas suas intervenções, poderá obter ganhos na corrida eleitoral, mas se tropeçar correrá o risco de perder pontos no eleitorado. Mas, pelo que se vê, ela própria não está preocupada com isso, pelo menos até aqui. Desde que foi indicada pelo PPS para representa-lo na CPI, a deputada maranhense vem se movimentando com um certo frenesi. Demonstra que sabe o que está fazendo e onde quer chegar.
Provar o contrário
Luís Fernando Silva desencadeou uma operação judicial para contestar a decisão do Ministério Público de suspender-lhe os direitos políticos por causa de rasuras administrativas na sua gestão como prefeito de São José de Ribamar. O e-homem-forte do Governo de Roseana Sarney e ex-pré-candidato a governador por ela apoiado se prepara para tentar voltar ao comando da cidade do Padroeiro, já que o atual prefeito, Gil Cutrim, não pode se candidatar, uma vez que já foi reeleito. Luis Fernando garante que está tranquilo e que vai mostrar que a ação contra ele não procede.
São Luis, 03 de Março de 2015