De todas as iniciativas que pretenderam, nos últimos tempos, preservar a teia que move São Luís na seara das manifestações populares, o Projeto de Lei Nº 105/2018, proposto pelo deputado Roberto Costa (MDB) e aprovado unanimemente, segunda-feira (28), pela Assembleia Legislativa, tornando-as Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Maranhão, é uma das mais arrojadas, completas e bem-vindas. A intenção e o objetivo são simples e diretos, sem floreios e vão no âmago de uma realidade concreta, que se expõe ao longo de cada ano: criar as condições legais para que se mantenham vivos manifestações carnavalescas (Turma do Quinto, Bicho Terra Fuzileiros da Fuzarca e Máquina de Descascar Alho), juninas (Bumba Boi da Madre Deus e Boizinho Barrica, Grupo Piaçaba), religiosas (São Sebastião, São João, São Pedro, São Roque, São Pantaleão), e símbolos seculares como a Casa das Minas e a Casa de Nagô, provavelmente os mais autênticos centros de religião afro existente no Maranhão.
No seu projeto, o deputado Roberto Costa dá à Madre Deus a dimensão de região cultural ao complexo de bairros ali existente, por ele batizado de “Grande Madre Deus” – Goiabal, Fonte do Bispo, Lira, Belira, Codozinho, Macaúba, entre outros menores, mas cuja pujança cultural é reflexo direto do que acontece há quase dois séculos na Madre Deus. Nascido e criado nas ruas do Lira, onde mantém suas raízes familiares e as suas referências culturais e religiosas, Roberto Costa sabe exatamente o que fez ao propor o projeto, que ganhará força definitiva de lei quando for sancionado pelo governador Flávio Dino (PCdoB). Vem percebendo que, por mais forte e sólido que seja, o lastro cultural corre riscos. Sua conservação instituída em lei estadual abre caminho para que muitas outras iniciativas complementares e efetivas garantam a preservação futura.
Berço de craques da música e da poesia como César Teixeira, Cristóvão Alô Brasil, Patativa, Francisco Bulcão, José Pereira Godão, Mestre Sapo e muitos outros, que embalam a Turma do Quinto, os Fuzileiros da Fuzarca, o Bicho Terra e outros grupos com sambas geniais a cada carnaval, a Madre Deus, que nasceu da boêmia de operários e pescadores e que se transformou em festas que mobilizam multidões em fevereiro, junho e dezembro, pontilhadas por manifestações religiosas ao longo do ano, com novenas, ladainhas e terços, alimenta a mais pura e completa tradução da cultura popular do Maranhão. Sua condição de celeiro pode ser constatada No barracão do Quinto, na modesta sede dos Fuzileiros, nas ações da Casa Barrica e no complexo cultural Ceprama, implantado na antiga Companhia de Fiação e Tecelagem Cânhamo, um dos símbolos do poderoso complexo de produção têxtil de São Luís e hoje o grande palco das manifestações madrelinas depois das suas ruas.
A futura Lei, se bem assimilada e praticada, pode ser um caminho de importância decisiva para o futuro do espírito cultural da Madre Deus. Isso porque é sabido que numa realidade como a do Maranhão, o braço do Estado é de importância capital para manter vivas as tradições. Mas é fundamental que a sua valorização tenha como suporte um diploma legal que lhe confira status eterno. A Lei imaginada e tornada realidade pelo deputado Roberto Costa alcança essa condição, pois oficializa o espirito cultural da “Grande Madre Deus” como um bem de todos, como o Tambor de Crioula é patrimônio imaterial do Brasil e São Luís é Patrimônio Cultural da Humanidade.
Com a iniciativa, o deputado Roberto Costa sela definitivamente a sua relação com as fortes e ímpares tradições do bairro onde nasceu, cresceu e se tornou político militante, com a incomparável personalidade cultural de São Luís e com as diferenças que dão ao Maranhão uma realidade cultural única.
PONTO & CONTRAPONTO
José Reinaldo muda o tom e PSDB pode acertar o passo em torno de Roberto Rocha
Se no primeiro momento causaram reação incomodada do ex-governador e deputado federal José Reinaldo Tavares, a bombástica declaração, publicada em primeira mão por esta Coluna, com que ex-prefeito de Imperatriz e secretário geral do PSDB do Maranhão Sebastião Madeira colocou em xeque a pré-candidatura dele ao Senado, por conta do apoio ostensivo que vinha dando ao projeto de candidatura do deputado Eduardo Braide (PMN) ao Governo do Estado, alcançou, no segundo momento, o objetivo pretendido pela cúpula estadual do PSDB. Depois de externar a sua irritação, o ex-governador fez uma leitura mais atenta da situação e mudou de ânimo, passando a defender a unidade do partido em torno do candidato oficial do PSDB, senador Roberto Rocha. Com sua larga experiência política, que fez dele o grande protagonista da virada de 2006, quando comandou as forças que derrotaram Roseana Sarney (PMDB) elegendo Jackson Lago (PDT), José Reinaldo parece ter entendido que a realidade agora é outra, bem diferente, e na qual ele é personagem importante e respeitada, mas sem condições de reencarnar o protagonismo que encarnou uma década atrás, quando era governador e tinha poder de fogo para comandar uma mobilização, como de farto aconteceu. Agora, resta-lhe usar o seu prestígio para enfrentar a dificílima guerra por meio da qual pretende encerrar sua carreira como senador da República. Esse redirecionamento político pode salvar as suas relações com a cúpula do PSDB, que o quer como candidato ao Senado, mas engajado no projeto político do partido, que inclui a candidatura de Roberto Rocha ao Governo do Estado e a do ex-governador Geraldo Alckmin a presidente da República.
PT faz pressão para emplacar Jardim na vaga de Eliziane ao Senado
São cada vez mais fortes os rumores de que o PT está pressionando para ter a segunda vaga de candidato a senador na aliança comandada pelo governador Flávio Dino. O partido estaria fechando questão em torno de Márcio Jardim para ocupar a vaga já entregue à deputada federal Eliziane Gama (PPS). O QG governista nada disse até agora sobre o assunto, mas a sua movimentação até aqui é no sentido de manter a deputada como a candidata do grupo. Eliziane Gama, por seu turno, vem intensificando sua pré-campanha, percorrendo todas as regiões do estado e consolidando seu projeto eleitoral no meio evangélico, onde já conta com o apoio das principais lideranças. Ex-secretário de Esportes, Márcio Jardim é a aposta que o PT faz para emplacar um candidato na chapa majoritária do governador Flávio Dino. Já Eliziane Gama, além de um mandato de deputada federal bem cumprido e lastreado por 140 mil votos em 2014, aparece nas pesquisas com um potencial de peso para entrar na briga pelo Senado. É verdade que a pressão do PT ainda não foi sentida de todo no comando político governista, mas dessa aliança acreditam que essa história ainda vai dar o que falar antes das convenções.
São Luís, 31 de Maio de 2018.