Se os números do Ibope, divulgados ontem à noite pela TV Mirante, estiverem corretos, a corrida para a Prefeitura de São Luís deu uma guinada radical na direção da imprevisibilidade. Eles confirmam a tendência de polarização entre o prefeito Edivaldo Jr. (PDT), está na frente com 37% na preferência do eleitorado, e Wellington do Curso (PP), que chegou a 31% sem ninguém para ameaçá-lo, já que o terceiro colocado, Eliziane Gama (PPS), despencou de vez e agora tem apenas 10% das intenções de voto, na mais espetacular inversão de posições que se tem notícia em disputas recentes para a Prefeitura de São Luís. Segundo a pesquisa, Eduardo Braide (PMN) tem 3%, Fábio Câmara (PMDB), alcançou 3%, Rose Sales (PMB) apareceu com 2% e Zéluiz Lago (PPL), Valdeny Barros (PSOL) e Claudia Durans totalizam 3%. Esse quadro de percentuais indica ser praticamente inevitável a realização de um segundo turno, no qual Wellington do Curso venceria a Edivaldo Jr. com 44% contra 42% dos votos. A pesquisa do Ibope, cuja margem de erro é de três pontos percentuais, acendeu a luz amarela no QG do prefeito Edivaldo Jr., que vinha se movimentando com relativa facilidade depois de tirar Eliziane Gama do páreo, e deve causar uma reorientação geral na estratégia de campanha.
Poucas vezes uma corrida eleitoral para o Palácio de la Ravardière produziu tantas surpresas no sobe e desce dos candidatos. Há quatro meses, poucos se arriscaram a prever que Eliziane Gama, então com 50% das intenções de voto, portanto franca favorita, não seria eleita já no primeiro turno ou, pelo menos, seria a adversária do prefeito Edivaldo Jr. numa segunda rodada. De lá para cá, Eliziane entrou em queda livre, ao mesmo tempo dramática e espetacular, que a trouxe para instáveis 10%, com sério risco de cair ainda mais, que na margem de erro pode significar até 13% ou até 7%. Situado na segunda colocação, Edivaldo Jr. iniciou um processo de crescimento seguro, que o trouxe ao patamar de 37%, assumindo a liderança com uma margem de ganho que seria relativamente segura não fosse o “fator” Wellington do Curso, que de azarão sem futuro, construiu uma trajetória situando-se entre Edivaldo Jr. e Eliziane Gama, produzindo dois efeitos determinantes para o futuro da disputa. O primeiro: tornou-se uma séria ameaça ao prefeito Edivaldo Jr.; segundo: tirou Eliziane Gama do páreo, deixando-a praticamente sem condições de esboçar qualquer reação.
A escalada de Edivaldo Jr. e de Wellington do Curso nada tem a ver uma com a outra. O prefeito se credenciou para pleitear o segundo mandato. Já o candidato do PP entrou na briga sem lenço e sem documento, num movimento cujo objetivo era se manter ativo no cenário político, provavelmente avaliando que uma participação nessa guerra no município lhe daria suporte para pleitear a reeleição de deputado estadual. Edivaldo Jr. faz uma campanha dinâmica, fazendo caminhadas e carreatas e exibindo na TV uma campanha inteligente, de balanço de gestão, e fazendo propostas para um segundo mandato. Wellington do Curso começou sem norte bem definido, mas focado no que ele entendeu serem deficiências do governo municipal, seguiu em frente, ajustando o tom e acrescentando contundência em cada ataque ao prefeito Edivaldo Jr., pagando, ao mesmo tempo, preço alto pela ousadia.
A corrida à Prefeitura de São Luís não chegou ao final e, neste momento, ninguém pode ainda cantar vitória. Faltam ainda duas semanas de campanha, e nesse período dos eventos que costumam ter influência decisiva nas disputas em São Luís: os debates na TV – dois estão programados, um no dia 27 na TV Difusora e outro no dia 29 na TV Mirante. Esses dois embates verbais serão uma espécie de tira-teima entre o prefeito e o candidato do PP, que além de se enfrentarem, terão de dar conta também dos outros dois debatedores, no caso Eliziane Gama e o Fábio Câmara (PMDB), que será o quarto nome dos debates por conta da força do seu partido na Câmara Federal. Os dois irão para os estúdios com faca nos dentes. Fazer ou dizer besteira diante das câmeras, ao vivo e a cores, pode representar uma sentença dura.
Em tempo: o Ibope ouviu 805 eleitores entre os dias 10 e 13 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral da Maranhão (TRE-MA) sob o número MA-00239/2016.
PONTO & CONTRAPONTO
E s p e c i a l
Documentário sobre Haroldo Tavares motiva candidatos a prefeito
É pouco provável que algum evento ocorrido durante a campanha para a Prefeitura de São Luís tenha sido tão interessante e produtivo para os candidatos a prefeito do que a exibição, ontem, do documentário “Haroldo, o que ousou sonhar”, por meio do qual o produtor e diretor Joaquim Haickel resgatou a trajetória do genial engenheiro maranhense formado na Europa e dotado de uma bagagem cultural erudita Haroldo Tavares, que revolucionou a estrutura urbana e a cultura popular de São Luís entre o final dos anos 60 e meados dos anos 70 do século passado, quando foi secretário de Viação e Obras Públicas do Governo José Sarney e, em seguida, prefeito de São Luís no Governo Pedro Neiva. Iniciativa do presidente da Academia Maranhenses de Letras, Benedito Buzar, o evento aconteceu no auditório da instituição cultural com a presença de Eliziane Gama, Wellington do Curso, Fábio Câmara, Zéluiz Lago, Eduardo Braide, Rose Sales e Valdeny Barros – Edivaldo Jr. e Claudia Durans ignoraram o convite .
Os aspirantes ao assento principal do Palácio de la Ravardière assistiram a uma verdadeira aula sobre como deve atuar o prefeito de uma cidade do tamanho e da importância como São Luís. Viram a atuação de um gigante precursor do planejamento, que enxergava muito na frente do seu tempo e que foi chamado de visionário em alguns momentos, mas que se eternizou como um realizador sem par. O filme de 90 minutos mostra o Haroldo Tavares real, o gestor sem barreiras, o técnico excepcional e o chefe municipal vibrante, apolítico, obcecado pelo trabalho e pela ideia – para ele uma espécie de princípio – de dar sentido social mais amplo possível ás obras públicas, e que brigava tanto por suas ideias e projetos e que não admitia fracassos.
Haroldo Tavares iniciou sua curta e brilhante trajetória pública aos 33 anos, como secretário de Viação e Obras, convidado pelo então governador José Sarney, então um jovem de 35 anos e líder maior daquela geração que rompeu com o atraso e abriu os caminhos para colocar o Maranhão na modernidade, e que lhe deu carta branca para agir. Daí nasceram ações fundamentais, como a barragem do Bacanga e, depois, o Anel Viário, já como prefeito no Governo Pedro Neiva – duas obras sem as quais São Luís seria uma cidade de trânsito caótico.
Haroldo Tavares deixaria ainda um legado imensurável na área da cultura popular. Como prefeito, ele derrubou as cercas do preconceito e garantiu, por exemplo, que o Bumba-Boi, então um folguedo que só brincava em bairros, se apresentasse em áreas do centro da cidade e assumisse, de fato, a manifestação-símbolo da cultura popular do Maranhão. E na esteira do Boi avançaram o tambor de crioula, Divino, dança do coco e outras manifestações. Ao conceber o Anel Viário de São Luís, conciliou perfeitamente dois objetivos: descongestionar o trânsito e preservar o Centro Histórico.
Rico em imagens da época em que Haroldo Tavares atuou como secretário e como prefeito no desafio de concretizar as obras de infraestrutura que transformaram São Luís numa cidade que, após séculos de estagnação, arremedos e puxadinhos, entrou definitivamente no conceito moderno de planejamento urbano, o documentário ganha peso com depoimento e impressões de quem conviveu com ele e participou da sua rápida, mas definitiva participação na vida da cidade, como José Sarney, que lhe abriu as portas e o incentivou, e membros de sua equipe e apoiadores, como Américo Azevedo Neto, Jaime Santana, Luis Raimundo Azevedo, Bento Moreira Lima, Benedito Buzar e Haroldo Randeau (?). E o forte e comovente depoimento do próprio Haroldo Tavares, já doente, mas firme e lúcido.
Os candidatos a prefeito a que foram à Academia não esconderam seu contentamento por participar de um evento em que beberam lições de planejamento urbano na fonte mais decente e produtiva. Tanto que todos fizeram questão de agradecer a iniciativa. E muito provavelmente cada um saiu da Casa de Antonio Lobo planejando se tornar um Haroldo Tavares para a São Luís do presente.
Em tempo: registrar que na direção do documentário “Haroldo, o que ousou sonhar”, Joaquim Haickel contou com o apoio de Luiz Fernando Silva e João Ubaldo Moraes, todos craques na arte de produzir e organizar imagens.
São Luís, 14 de Setembro de 2016.