O governador Flávio Dino revelou que poderá disputar uma cadeira na Câmara Federal em 2022 se vier a ser convocado pelo PCdoB para contribuir no esforço destinado a evitar que o partido seja tragado pela cláusula de barreira. A possibilidade foi declarada por ele próprio em entrevista ao jornal O Globo, e como era de se esperar, repercutiu fortemente na seara política estadual, onde alguns políticos de peso aguardam sua decisão para definirem seus rumos na corrida às urnas.
O governador não esconde sua preferência pela candidatura ao Senado, mas tem dito que, dependendo das circunstâncias e do cenário de 2022, poderá ser candidato a presidente da República por uma grande frente que reúna o centro e a esquerda, a vice-presidente, a Senador ou, agora, à Câmara Federal. Cada uma dessas opções, é factível, em maior ou menor grau, mas qualquer avaliação cuidadosa e isenta, que leve em conta a situação do governador e as sutilezas da política, conduz naturalmente à conclusão de que o mandato eletivo mais adequado a Flávio Dino é, de longe, o de senador. E ele próprio admite isso ao declarar, na entrevista, que “o plano mais forte hoje é a candidatura ao Senado, porque depende só de mim”.
Se, por conveniência partidária, Flávio Dino decidir abrir mão de ser um dos 81 senadores para se tornar um dos 513 deputados federais, o PCdoB poderá sair do Maranhão com uma minibancada federal. Nessa hipótese, como candidato a deputado federal, Flávio Dino fará uma campanha focando na necessidade de fortalecer o PCdoB, dando contribuição decisiva para evitar que o partido saia das urnas condenado a desaparecer do mapa partidário ou, num desfecho mais cruel, venha a se tornar um pária partidário. O governador tem força eleitoral suficiente para sair das urnas com duas ou três centenas de milhares de votos, e assim puxar pelo menos mais dois candidatos além dos atuais deputados federais Márcio Jerry e Rubens Júnior, que concorrerão à reeleição.
Com a eventual candidatura a deputado federal, Flávio Dino liberará assim a vaga de candidato a senador, fazendo com que algumas posições no tabuleiro da política maranhense sofram alterações expressivas. Nos bastidores, correm rumores segundo os quais o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), pode se habilitar à vaga de candidato do partido. Também se comenta que, sem Flávio Dino candidato, a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) poderá entrar na disputa pelo mandato senatorial, bem como o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSDB). Isso sem contar outros nomes, entre os quais Hilton Gonçalo (PMN), prefeito reeleito de Santa Rita, o empresário e ex-suplente de senador Lobão Filho, que estaria migrando do MDB para o PSL, e o atual dono da vaga, senador Roberto Rocha (PSDB), que pode optar pela tentativa de renovar o mandato. Se pelo menos parte dessas especulações fosse confirmada, a disputa pela vaga senatorial seria uma das mais agitadas dos últimos tempos.
Ao admitir concorrer à Câmara Federal para ajudar a salvar o PCdoB, o governador sabe que dará um passo muito perigoso, já que como candidato proporcional enfrentará dificuldades para liderar a grande aliança por ele montada na corrida às urnas. Nesse contexto, quem for o candidato do seu grupo à sua sucessão no Palácio dos Leões poderá também enfrentar dificuldades, à medida que o principal líder da aliança não integrará a chapa majoritária. Isso não significa dizer que, concorrendo a deputado federal, o governador terá comprometido o seu tamanho político. Os passos que deu até aqui na sua trajetória são indicadores precisos de que o atual governador do Maranhão já é um nome de abrangência nacional, com personalidade muito bem definida, o que lhe dá grande estatura política.
Se olhado pela posição que alcançou como chefe de um Governo bem-sucedido, como líder de uma grande aliança partidária no estado, como articulador de uma frente partidária reunindo o centro e a esquerda para enfrentar o bolsonarismo, e como uma das firmes e equilibradas vozes da Oposição ao Governo de extrema direita do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Flávio Dino tem condições de realizar um mandato destacado tanto na Câmara Federal quanto o Senado da República.
PONTO & CONTRAPONTO
Interinidade de 10 dias Carlos Brandão amplia sua experiência no comando da máquina estadual
O vice-governador Carlos Brandão (Republicanos) assumiu ontem o Governo do Estado para uma interinidade de 10 dias, período em que o governador Flávio Dino (PCdoB) estará de férias, como ocorre todos os anos. Ontem, ele reuniu o secretariado e deu as coordenadas da sua gestão nesse período. Avisou que manterá o Governo funcionando no mesmo ritmo e apontou algumas prioridades para esse período.
O governador interino destacou que o combate ao novo coronavírus é a maior das prioridades, principalmente por conta do risco de que o número de infectados aumente em razão do relaxamento. Ao mesmo tempo, assinalou que vai intensificar os preparativos para o processo de vacinação no Maranhão, já planejado pelo governador Flávio Dino.
Carlos Brandão não terá qualquer dificuldade para comandar o estado nesse período. Primeiro porque em seis anos como vice assumiu várias vezes o comando do Governo sem cometer um deslize ou um equívoco. Depois, porque conhece bem a máquina estadual e acompanha todos os programas e projetos em curso no estado.
A interinidade iniciada ontem é mais um estágio importante para o desafio de assumir o Governo definitivamente com a desincompatibilização do governador Flávio Dino em abril do ano que vem.
Marcial Lima deixa o discurso crítico e de cobrança para ser líder do Governo municipal
O vereador Marcial Lima (Podemos) será o líder do Governo na Câmara Municipal de São Luís. O anúncio foi feito ontem, via Twitter, pelo prefeito Eduardo Braide (Podemos). A escolha se explica pelo fato de que o parlamentar é do partido do prefeito e foi um dos aliados mais ativos durante os dois turnos da campanha.
Ao aceitar a tarefa de ser o porta-voz do Governo na Câmara Municipal, o vereador Marcial Lima dá uma guinada forte na sua carreira parlamentar. Explica-se: jornalista, repórter da TV Mirante e da Rádio Mirante FM, Marcial Lima entrou na política embalado pelo trabalho jornalístico voltado para os problemas da cidade, sobretudo os que afetam os bairros e as comunidades periféricas, com incursões também na seara policial. Eleito em 2016, fez um mandato baseado no lastro jornalístico, o que lhe deu base para a reeleição em 2020.
Como líder, seu discurso vai mudar radicalmente, pois sairá da condição de crítico dos problemas para se tornar o principal defensor do Governo municipal, ou seja, deixa a condição de “pedra” para se tornar defensor da “vidraça”. Deve ter medido e pesado com precisão os prós e contras da condição de líder. Se o fez, chegou, claro, à conclusão de que é um bom caminho parlamentar. Mas se aceitou seduzido pelo prestígio, ainda tem tempo de medir e pesar, para não correr riscos.
São Luís, 06 de Janeiro de 2021.