A oportuna série de entrevistas realizadas pelo programa “Linha de Frente”, da TV Maranhense, comandado pelo apresentador Osvaldo Maya, com os pré-candidatos à Prefeitura de São Luís foi largamente relevadora do preparo de cada um, mas também deixou no ar uma densa sobra de dúvidas a respeito do que eles têm para oferecer ao eleitorado como projeto para a Capital do Maranhão. Pouco foi dito pelos 10 aspirantes que já foram entrevistados que causasse no telespectador-eleitor a impressão de que eles têm noção clara do tamanho do desafio que é comandar uma cidade de 1,2 milhão de habitantes. Nenhum lembrou, por exemplo, que São Luís que é Patrimônio Cultural da Humanidade e celeiro de uma cultura popular rica e ímpar, quase todos ignorando o potencial turístico da cidade. Poucos mostraram saber sobre o gigantesco déficit habitacional da cidade, a falta de saneamento básico, os problemas da rede educacional com mais de 200 escolas, o ainda deficiente sistema de saúde e a necessidade de investimentos graúdos em infraestrutura viária e ajustes rigorosos no sistema de mobilidade urbana. As respostas que os candidatos deram às indagações sugerem que vários deles não sabem exatamente no que estão se metendo, ou estão escondendo jogo para não queimar cartuchos antes da hora.
Eduardo Braide (Podemos), líder das preferências do eleitorado até aqui, gastou seus 12 minutos falando do apoio e dos esforços que tem feito como parlamentar para ajudar instituições ligadas a Saúde em São Luís, para avisar que não vai entrar no jogo dos adversários, e tergiversar quando foi instado a avaliar a gestão atual. Sua declaração mais forte: se eleito, vai mostrar que São Luís será uma cidade melhor depois dos primeiros 100 dias da sua gestão. Duarte Júnior (Republicanos) prometeu “um choque de gestão”, defendendo o projeto de colocar a Prefeitura para funcionar “todos os dias”, anunciando que, se eleito, trabalhará “24 horas”, e que pretende transformar os terminais de transporte coletivo em centros comerciais.
O pré-candidato do PCdoB, Rubens Júnior, mostrou que tem noção do tamanho do desafio, lastreado na experiência que viveu nos 15 meses que atuou como secretário das Cidades e Desenvolvimento Urbano, mostrando conhecer a cidade e seus problemas. Para ele, o prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT) está trabalhando bem e “vai entregar uma cidade bem melhor do que a que recebeu”. Deixou claro, sem entrar em detalhe, que sabe o que fazer. Neto Evangelista (DEM) avalia que São Luís ainda “não tem cara de capital” e que sua gestão, se eleito for, “ouvirá as pessoas”, sem precisar exatamente o que isso significa. Afirma já ter plano de Governo, que contempla os primeiros 100 dias, os primeiros seis meses e “os meses futuros”, tendo como objetivo básico forte “transformação social”, propósito que definiu quando foi secretário de Desenvolvimento Social e implantou unidades de Restaurantes Populares na cidade.
Candidato do Solidariedade, Carlos Madeira usou bem os 12 minutos da entrevista mostrando ter uma visão abrangente da cidade e seus problemas. Fez observações pertinentes sobre saúde, educação, transparência e eficiência, mas surpreendeu ao prever a criação da uma Secretaria de Segurança para reforçar a segurança pública. Disse que quer levar para a gestão municipal “o DNA da magistratura”. Jeisael Marx, candidato do PV defendeu a tese de que São Luís e a política praticada no município vão melhorar se um candidato de origem popular e humilde – no caso, ele próprio, claro – chegar ao Palácio de la Ravardière. Acredita que um prefeito que “saia do povo” terá mais liberdade para administrar a cidade que um prefeito saído de grupos políticos e partidários.
Yglésio Moises, candidato do PROS, demonstrou um bom domínio sobre a situação de São Luís, primeiro como médico que conhece a realidade da Capital. Com a experiência de quem mexeu com o Socorrão em seis meses de gestão no primeiro mandato de Edivaldo Holanda Júnior, prometeu melhorar o sistema de saúde e avançar na melhoria do sistema de transportes de massa, e sinalizou com programas nas mais diversas áreas. Adriano Sarney (PV) não apresentou um plano de ação, mas demonstrou estar informado sobre as condições financeiras da Prefeitura e sobre o orçamento para o ano que vem: R$ 3 bilhões. Prometeu que vai “ouvir as pessoas” e planejar com cuidado as ações da Prefeitura, caso venha a ser o sucessor do prefeito Edivaldo Holanda Júnior, de quem aproveitará “o que estiver funcionando bem”.
Detinha, pré-candidata do PL, demonstrou uma completa falta de conhecimento a respeito do que ela chamou de “nossa cidade”, apontando como problema de uma metrópole com mais de 1 milhão de habitantes a inexistência de uma creche na Vila Luizão, onde teria sido “muito bem recebida”. E surpreendeu ao afirmar que seu “olhar” de ex-prefeita de Centro do Guilherme, cidade com menos de 15 mil habitantes, lhe mostrará o caminho para administrar São Luís. Numa outra vertente, Hertz Dias (PSTU) avisou que, se chegar lá, vai estatizar todos os hospitais privados, as empresas de ônibus e tudo o que estiver na esfera privada, e que governará cumprindo decisões tomadas por “conselhos populares, formados por trabalhadores”, ou seja, a ditadura do proletariado.
Que sejam mais explícitos e objetivos nas próximas rodadas de entrevistas.
PONTO & CONTRAPONTO
PDT vai indicar vice de Neto Evangelista, mas nome ainda é segredo
Uma decisão está tomada na aliança que embala a pré-candidatura do deputado Neto Evangelista (DEM) à Prefeitura de São Luís: o PDT vai indicar o candidato a vice-prefeito. O principal responsável pela escolha, senador Weverton Rocha, que tem a palavra final nas decisões no arraial pedetista, ainda não deu uma palavra sobre o assunto nem emitiu qualquer sinal nesse sentido. Ouvem-se rumores nos bastidores dando conta de que alguns interessados na vaga já estão se movimentando, mas nenhum nome veio à tona. Chegou-se a especular até que a prerrogativa de indicar o vice teria sido oferecida ao prefeito Edivaldo Holanda Júnior, mas teria preferido se manter distante das articulações, optando pela liberdade de seguir outro rumo. Não há nenhum nome conhecido do PDT sendo cogitado abertamente, num indicativo de que Weverton Rocha guarda uma surpresa para fazer um anúncio de impacto. É possível que o anúncio do vice venha a ser feito somente às vésperas ou mesmo na data da convenção.
Chefes tucanos aguardam reação de Wellington do Curso à perda da vaga de candidato do PSDB
O destino do deputado Wellington do Curso nestas eleições está mesmo selado. Ele não será mesmo candidato do PSDB à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT). E não se trata de uma decisão isolada do senador Roberto Rocha, presidente e manda-chuva do partido no Maranhão, mas um entendimento da cúpula do ninho dos tucanos no estado e no plano nacional. O argumento para a rifada romper é um só: o parlamentar não combinou seu projeto com o comando partidário e tentou atropelar um acordo que fora firmado com o candidato do Podemos ainda em 2018. A expectativa dos chefes tucanos é quanto a reação de Wellington do Curso. Há na cúpula quem acredite que o deputado aceitará a situação o pacificamente, compreendendo o contexto da decisão. Há, por outro lado, quem ache que ele vai romper com Roberto Rocha e deixar o partido atirando. As duas expectativas fazem sentido, porque o deputado Wellington do Curso é imprevisível.
São Luís, 23 de Agosto de 2020.