O lançamento, pelo governador Flávio Dino (PCdoB), na noite de quarta-feira, na sede da Fiema, do programa “Mais Empresas”, motivou um dos embates mais produtivos e politicamente corretos desde a abertura dos trabalhos da nova Assembleia Legislativa. De um lado, o deputado Adriano Sarney (PV), fazendo o papel de oposição com competência técnica e grandeza política; de outro, o deputado Eduardo Braide (PTN), fazendo a defesa do governo com igual desenvoltura técnica e muita civilidade política. Os dois parlamentares se alternaram na tribuna por mais de uma hora, tempo em que mostraram ser possível discutir os problemas do Maranhão num patamar superior e que o confronto oposição-situação gera situações tensas, de troca de acusações fortes e ataques pesados, mas também medem forças num nível em que as diferenças são tratadas de maneira produtiva.
O deputado Adriano Sarney inicialmente criticou o fato de o governador Flávio Dino ter lançado um programa destinado a atrair empresas para o Maranhão na forma de Medida Provisória. Interpretou a atitude como uma demonstração do desprezo do chefe do Executivo pelo debate e pelas formas que, segundo entende, seriam as mais corretas, como o Projeto de Lei. No seu entendimento, lançar um programa dessa envergadura por meio de MP “é uma agressão à Assembleia Legislativa, ao próprio governo e à sociedade”, argumentando que essa forma não permite um debate mais amplo da medida. E foi mais longe: “Para mim soa estranho que um ex-juiz use Medida Provisória, um instrumento herdado do autoritarismo, da ditadura, como o Decreto Lei, que ele também gosta de usar”.
O parlamentar verde saiu da forma para o conteúdo, criticando duramente o governador Flávio Dino por recorrer ao incentivo fiscal, principalmente a não cobrança ou a redução de alíquotas de ICMS para incentivar a instalação de novas empresas no Maranhão. O problema, na sua interpretação, não é abrir mão temporariamente de impostos, mas definir esses critérios sem envolver o Poder Legislativo nessa discussão. Adriano Sarney classificou a postura do governador como autoritária e discricionária, sem justificativa, acrescentando que o Maranhão está submetido a um governo que ele não sabe se é uma ditadura, um regime comunista ou um capitalismo deformado. E mais: o programa está sendo “enfiado goela abaixo nos empresários e nesta Assembleia”.
Reconhecendo que o “Mais Empresas” é um programa importante e necessário, manifestou estranheza pelo fato de o governador não usar o Pró-Maranhão, um programa de atração de empresas montado no Governo Roseana Sarney e reconhecido, inclusive pela classe empresarial, como uma boa iniciativa do Poder Executivo. Mas levantou a suspeita de que a atitude de ignorar o Pró-Maranhão teria a ver com ranço político.
Atento a cada palavra do oposicionista, o deputado Eduardo Braide, que lidera um dos blocos de apoio ao governo, entrou com firmeza e substância na defesa do governador Flávio Dino. Primeiro, explicou que o uso da Medida Provisória para lançar o “Mais Empresas” atendeu a uma necessidade de ser mais ágil, para que as regras não se confrontem com as de projetos de lei sobre incentivos fiscais que tramitam com urgência no Congresso Nacional e que podem sufocar iniciativas de estados para atrair empresas. Depois, mostrou que o governador não impôs um pacote, porque o programa foi discutido com a classe empresarial e será discutido pela Assembleia Legislativa, que poderá propor modificações.
Braide descartou que Flávio Dino tenha deixado de lado o “Pró-Maranhão” por retaliação política, argumentando que o governador, que chegou ao poder na esteira de 65% dos votos, tem a sua maneira de interpretar a realidade e adotar medidas que entenda serem mais adequadas para desenvolver o estado econômica e socialmente. Admitiu que o Projeto de Lei seria o caminho tecnicamente mais adequado, mas foi incisivo no argumento de que, nas circunstâncias, a Medida Provisória foi a forma mais eficiente para que o programa produza resultados o mais rapidamente possível.
Assinalou também que já se dava por satisfeito diante do fato de que o oposicionista reconhecia o “Mais Empresas” como programa importante e necessário para o Maranhão, como foi o “Pró-Maranhão” no seu momento.
Chamou atenção o fato de que nenhum parlamentar interferiu no embate, o que permitiu que os dois jovens deputados formulassem, apresentassem e defendessem seus argumentos de maneira refletida e equilibrada, evitando escorregar para o confronto pessoal ou para uma troca de acusações. E o resultado, que não teve vencido nem vencedor, não poderia ser outro: Adriano Sarney e Eduardo Braide protagonizaram ontem um momento que reforçou a razão de ser da Assembleia Legislativa.
PONTOS & CONTRAPONTO
Pé de guerra I
O deputado federal Weverton Rocha (PDT) alertou, quarta-feira, para um problema que pode acabar na eclosão de um conflito de proporções e desfecho imprevisíveis. Trata-se do projeto da Funai que amplia de 41 mil para 163 mil hectares a área da reserva indígena no município de Amarante do Maranhão, no Sul do estado. Se for, de fato, ampliada nessa proporção, a reserva ocupará 70% do território municipal. O problema é que quem não é indígena não pode viver ou trabalhar nessa área, o que afetará pelo menos metade da população de Amarante, ameaçando inclusive a sede do município, que pode ter de ser destruída.
Pé de guerra II
O clima em Amarante do Maranhão é tenso. A população vive uma espécie de contagem regressiva sem saber o que vai acontecer. Tecnicamente, a ampliação da reserva indígena naquele município é justa e dificilmente será recusada pelo Congresso Nacional, a exemplo do que aconteceu há pouco mais de um ano na reserva Awá Guajá. Uma operação gigantesca envolvendo Polícia Federal e Exército retirou da reserva centenas de famílias, que tiveram de abandonar benfeitorias nas propriedades que acreditavam serem suas. Se a ampliação for confirmada, acontecerá o mesmo em Amarante, com a diferença de que a população ali está disposta a resistir. Esse alerta foi dado na Assembleia Legislativa há pelo menos quatro anos pelo deputado Antônio Pereira, num discurso contundente e bem fundamentado.
Missão frustrada
O deputado governista Levi Pontes (SD), vestiu ontem a beca de professor e tentou dar “uma aula” sobre “problemas da área de saúde” para a deputada Andrea Murad (PMDB). Subiu à tribuna, empostou a voz, assumiu ar professoral e até a chamou de “minha filha”, argumentando ter idade para ser seu pai. Do alto dos seus 40 anos de exercício da medicina, justificou a iniciativa dizendo que com a aula pretendia corrigir as distorções das suas palavras feitas pela deputada em seus explosivos discursos contra o governo. Como uma aluna disciplinada, a deputada surpreendeu o professor, explicando, ela mesma, de maneira correta, todas as distorções alegadas. Levi Pontes desistiu da missão didática.
São Luís, 30 de Abril de 2015.
Um comentário sobre “Embate de Adriano Sarney com Eduardo Braide eleva Assembleia”