A oposição pressionou e conseguiu reverter a maioria que no início da semana passada estava desenhada na bancada maranhense para votar contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A ciranda das articulações demonstrou que as forças do governo estavam mesmo isoladas na Câmara Federal, tanto que nem reforços importantes – como o do governador Flávio Dino (PCdoB), por exemplo – foram suficientes para reverter a tendência que começou a se materializar já da terça-feira, num movimento agressivo que culminou com o empate (9 a 9) na noite de sexta-feira. O governador retornou a São Luís naquela noite certo de que havia, pelo menos, equilibrado o jogo, tendo convencido o deputado José Reinaldo Tavares (PSB) a contrariar o seu partido e votar contra o impeachment. No final, 10 deputados votaram pelo impeachment e oito deram votos contrários. Um placar equilibrado, bem disputado, se levado em conta o que aconteceu na maioria dos estados.
O voto que quebrou o empate e sacramentou a vitória do “sim” na bancada maranhense foi o do deputado José Reinaldo. A começar pela maneira como ele o justificou; primeiro pedindo desculpas ao seu amigo e aliado governador Flávio Dino, que tentou convencê-lo a apoiar a presidente Dilma Rousseff. O ex-governador, no entanto, sacou do colete situações por que passou durante o governo do presidente Lula. A primeira foi o “massacre” que sofreu devido ao isolamento a que seu governo foi submetido pelo Palácio do Planalto, fruto da pressão feita pela então senadora Roseana Sarney (PMDB). Naquele momento, José Reinaldo fez tudo o que esteve ao seu alcance para estabelecer um canal com o Governo, mas todas as suas tentativas foram minadas pelo poder de fogo dos senadores José Sarney (PMDB) e Roseana Sarney – os dois tinham poder até para proibir a vinda de ministros ao Maranhão. O deputado trouxe à tona o processo no qual a cúpula do Grupo Sarney, com o beneplácito do PT, minou e derrubou o governador Jackson Lago (PDT) em abril de 2009, com base em denúncias à Justiça Eleitoral. “Só eu sei o que sofri, e não posso esquecer tudo isso e votar contra o impeachment fazendo de conta que nada aconteceu”, disse José Reinaldo à Coluna no final da manhã, quando ainda estava sob forte pressão.
Ao votar a favor do impeachment, José Reinaldo na verdade confirmou uma tendência clara, que vinha desenhando nos artigos que publica às terças-feiras no Jornal Pequeno. Ele admite que chegou perto de sucumbir aos apelos do governador e amigo Flávio Dino, mas as cicatrizes que ficaram das suas relações com o PT durante o seu governo (2001 a 2006) falaram mais alto, impedindo-o de atender ao amigo governador.
No mais, os votos da bancada seguiram caminhos os mais diferentes. Os que votaram pelo impeachment tiveram as seguintes motivações: Eliziane Gama (PPS) votou pelo impeachment seguindo a orientação do seu partido; João Castelo (PSDB) jamais poderia contrariar a posição do tucanato; André Fufuca (PP) jogou no time do presidente Eduardo Cunha e ainda ganhou o comando do PP no Maranhão; Sarney Filho justificou o voto como sendo uma orientação, mas ele votaria pelo impeachment de qualquer maneira, dados os laços que mantém com o PSDB; Victor Mendes (PSD) seguiu a orientação do seu partido, mas o que corre nos bastidores é que ele cedeu às pressões que recebera de Roseana Sarney, com quem teria tido uma discussão dura; Cléber Verde (PRB) entrou na “onda” do PRB, mas na verdade seguiu orientação de Eduardo Cunha, a quem é muito ligado; e Juscelino Filho ganhou o comando estadual do DEM, saindo do quase anonimato para o centro das decisões.
Já os que votaram contra o impeachment o fizeram pelos seguintes motivos: Weverton Rocha (PDT), que lidera seu partido na Câmara, respeitou fielmente a posição pedetista de brigar pelo mandato presidencial; Rubens Jr. (PCdoB) seguiu à risca a orientação do PCdoB, reforçando sua atuação – que foi intensa -, com a orientação do governador Flávio Dino; João Marcelo (PMDB) votou com a presidente contrariando orientação do seu partido, por não concordar com os argumentos que embasam a acusação; Pedro Fernandes (PTB) foi claro: não aceita a acusação e avalia que o processo afronta a Constituição e caracteriza um golpe; Júnior Marreca (PEN) firmou posição contra o impeachment invocando princípios políticos que não aceitam a destituição da presidente pelo Congresso, que na sua avaliação “precisa se limpar primeiro”; Aluísio Mendes (PTN) também bateu na tecla da inconsistência da denúncia e disse que sua consciência não o deixou concordar com a acusação; Waldir Maranhão (PP) pediu desculpas a Eduardo Cunha, a quem chamou de “meu comandante”, e disse que votava contra o impeachment para defender a democracia. Zé Carlos (PT) repetiu o discurso dos aliados da presidente Dilma Rousseff denunciando o “golpe”.
Ao final da votação, ficou claro que muitos desdobramentos estão a caminho e impactarão a bancada até que o processo seja concluído pelo Senado, que condenará ou absorverá a presidente da República.
PONTO & CONTRAPONTO
Agora a guerra é no Senado
Começou ontem mesmo a batalha decisiva do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que acontecerá primeiro nos bastidores e depois no plenário do Senado da República. Nesse confronto final das forças pró e contra o mandato da presidente da República estarão envolvidos 81 senadores, sendo três deles maranhenses; João Alberto (PMDB), Edison Lobão (PMDB) e Roberto Rocha (PSB). Na bancada do Maranhão, a presidente Dilma Rousseff deve ganhar por dois votos contra um, placar que dificilmente será alterado. E mais do que isso, as chamadas forças externas não terão influência sobre os votos dos senadores pemedebistas, que por razões diferentes são fechados com a presidente da República, independentemente do que o restante dos senadores vier a decidir. Já o voto do senador socialista será dado por pressão do partido.
São Luís, 18 de Abril de 2016.