Em 2023 São Luís viveu ano intenso com os embates da Câmara Municipal com o Palácio de la Ravardière

Eduardo Braide e Paulo Victor, cada um ao seu
modo, protagonizaram o ano político em São Luís

Há tempos São Luís não existia como território político efervescente, fazendo jus à sua condição de Capital e maior centro populacional e econômico do Maranhão. Houve momentos agitados durante campanhas eleitorais recentes, mas a definição das urnas colocou as diferenças numa espécie de “banho maria”. Esse ambiente se repetiu nos dois primeiros anos da gestão do prefeito Eduardo Braide (PSD), que manteve uma relação de altos e baixos com a Câmara Municipal, nada que alterasse de fato os ânimos políticos da Capital. Essa realidade, porém, mudou radicalmente em 2023 com a chegada do vereador Paulo Victor (PSDB) à presidência do parlamento municipal. Mesclando suas ações como presidente da Casa legislativa com as atitudes e iniciativas de militante de oposição, o chefe da edilidade ludovicense tirou a política na capital maranhense de uma espécie de letargia e transformou as relações do Palácio Pedro Neiva de Santana com o Palácio de la Ravardière num estado de confronto permanente. O episódio mais recente foi a aprovação de uma CPI para apurar supostas irregularidades em contratos municipais, sinalizando que nos próximos tempos essas relações serão cada vez mais tensas – pelo menos até as eleições municipais do ano que vem.

De um lado o presidente Paulo Victor, que fora eleito em fevereiro de 2021 e logo em seguida reeleito antecipadamente, mas só assumiu de fato a presidência em janeiro deste ano, adotou uma postura política agressiva de oposição ao Governo municipal, mobilizando, nessa cruzada, expressiva maioria dos integrantes da Casa, colocando o comando da Prefeitura em situação defensiva. Do outro lado, o prefeito Eduardo Braide, que vinha convivendo com a Câmara Municipal numa linha tênue de normalidade, viu a situação mudar radicalmente, quando o comando da vereança lhe declarou guerra. De lá para cá, nenhuma matéria de interesse do Palácio de la Ravardière teve tramitação fácil, com a diferença que o prefeito Eduardo Braide, que usa a razão nas decisões políticas, não passou recibos, fez de conta que nada estava acontecendo, e bem ou mal manteve produtiva sua convivência com os vereadores de São Luís.

O dado importante nesse contexto é que, por estímulo do presidente Paulo Victor, a Câmara Municipal de São Luís, onde desaguam todos os problemas, as cobranças, as inquietações e insatisfações de todos degraus da pirâmide social de São Luís, se manteve ativa, com debates e até confrontos em torno de temas às vezes promissores, às vezes marcados pela controvérsia. E nesse contexto, o prefeito se manteve inalterado, sem esboçar reação verbal, atuando politicamente nos bastidores do parlamento municipal, fazendo a negociação direta com vereadores. Essa postura foi mantida por ele que, mesmo quando foi atacado duramente – acusado de desvios, usou uma estratégia só adotada por quem faz política calculando e medindo cada passo.

Essa tensa relação tem dois vieses. O vereador Paulo Victor esbouçou, ousadamente, o projeto de se candidatar à Prefeitura de São Luís. Alimentou-o até dois meses atrás, quando se deu conta de que suas chances eram mínimas e que sua posição pessoal e a política estavam ameaçadas por ações do Ministério Público, em princípio sob o incentivo de um promotor acusado de tê-lo chantageado. Durante o tempo em que se manteve pré-candidato a prefeito, Paulo Victor foi uma fonte intensa de fatos, sacudindo o cenário político da Capital, como o evento que marcou sua filiação ao PSDB, que trouxe a São Luís ninguém menos que o tucano-símbolo Tasso Jereissati.

Por sua vez, o prefeito Eduardo Braide que, segundo especialistas em finanças públicas, administra um caixa com R$ 1,1 bilhão, se concentrou no seu programa de obras, agitando os bairros por onde passou e brindando a cidade com um Natal iluminado. Com essa movimentação, o prefeito de São Luís construiu uma reputação sólida, que o colocou como líder na corrida à reeleição, apontado como favorito nas seis pesquisas confiáveis feitas sobre a sucessão ludovicense. E com repercussão nacional, incluído na lista dos cinco prefeitos de Capital mais bem avaliados do país.

 A grande verdade é que 2023 vai entrar para a crônica política de São Luís como o ano em que, depois de algum tempo sem novidade, a Capital do Maranhão vivenciou a política com saudável intensidade.

PONTO & CONTRAPONTO

Pesquisas indicam que Braide e Duarte Jr. vão repetir a disputa de 2020

Eduardo Braide e Duarte Jr. devem
repetir a disputa de 2020 na Capital

São Luís fecha 2023 indicando que a guerra pela sucessão no comando da Prefeitura em 2024 será travada, de fato, entre o prefeito Eduardo Braide (PSD), que é candidato irreversível à reeleição, e o deputado federal Duarte Jr. (PSB), que está em ritmo intenso de pré-campanha. Os seus mais de 600 mil eleitores caminham para repetir a disputa de 2020, quando os dois foram para o segundo turno e nele o então deputado federal Eduardo Braide, filiado ao PMN, levou a melhor sobre o então deputado estadual Duarte Jr., que concorreu pelo Republicanos.

Essa tendência vem sendo confirmada nas várias pesquisas feitas até aqui sobre a sucessão na Capital. Nelas, o prefeito Eduardo Braide aparece na liderança, tendo o deputado federal Duarte Jr. em segundo como seu principal adversário. Na média, Eduardo Braide tem 10 pontos percentuais de vantagem, um indicativo de que a corrida deve ser resolvida em dois turnos, o que torna o desfecho imprevisível.

É nesse ambiente que outros pré-candidatos se movimentam. O deputado estadual Neto Evangelista (União Brasil), que vem aparecendo em terceiro lugar nas pesquisas, aguarda o momento certo para bater martelo confirmando ou não o seu projeto de candidatura. Também nesse jogo está o ex-prefeito Edivaldo Jr. (sem partido), quarto colocado nas pesquisas, mas que ainda não disse claramente se será ou não candidato.

Num pelotão sem chance estão os deputados estaduais Yglésio Moises (PSB, mas tentando migrar para outra legenda) e Wellington do Curso (PSC), que parecem dispostos a serem candidatos de qualquer maneira, valendo-se da velha estratégia de se manter em evidência para as eleições gerais de 2026, quando tentarão renovar seus mandatos na Assembleia Legislativa.

E não está descartada também a entrada em cena da trinca da esquerda radical (PSOL, PSTU e PCB) e de algum rebento da direita igualmente radical, como um representante do Novo.

A previsão é a de que a corrida à Prefeitura da Capital vai pegar fogo depois do Reinado de Momo, com a chegada das águas de março.

Político com raiz em São Luís, Roberto Costa pode ser prefeito de Bacabal

Roberto Rocha: de
São Luís para Bacabal

O tabuleiro político de São Luís poderá perder um dos seus quadros mais ativos, o deputado estadual Roberto Costa (MDB), que poderá ser candidato à Prefeitura de Bacabal, um dos dez maiores e mais importantes municípios do Maranhão, repetindo o projeto de 2016. A diferença é que, agora, Roberto Costa desponta como líder incontestável nas pesquisas sobre a corrida à Prefeitura bacabalense, com mais de 40 pontos percentuais sobre o segundo colocado.

Roberto Costa é ludovicense da gema, já tendo inclusive sido candidato a vice-prefeito da Capital na década passada, mas a luta pela sobrevivência política o levou a Bacabal, base maior do seu mentor político, o ex-governador João Alberto (MDB). Seu prestígio em Bacabal se consolidou de tal modo que o parlamentar se lançou candidato a prefeito e protagonizou uma forte disputa com o ex-prefeito Zé Vieira, que saiu vencedor.

Embora atuando fortemente para manter ali uma base sólida para se manter na Assembleia Legislativa, Roberto Costa continuou trabalhando duro por Bacabal, numa produtiva parceria com o prefeito Edvan Brandão, a quem apoiou desde o primeiro momento. Sua atuação ganhou dimensão maior durante as enchentes deste ano, que colocaram parte de Bacabal debaixo as águas do Rio Mearim.

Vivendo um momento político excepcional como um dos mais importantes articuladores da Assembleia Legislativa, o deputado Roberto Costa vive o dilema de permanecer como está apostando em 2026, ou aproveitar a maré a ele favorável e disputar a Prefeitura de Bacabal com chances reais de ser eleito.

São Luís, 26 de Dezembro de 2023.

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