Algumas situações criadas pelo resultado das eleições municipais estão dando o que falar no meio político do Maranhão. A forte onda de especulações está atingindo em cheio o senador Roberto Rocha, cujo partido por ele comandado, o PSDB, só elegeu dois dos 217 prefeitos maranhenses, o pior desempenho da história do partido no estado, fato que pode resultar na saída do parlamentar do ninho dos tucanos. Outra situação muito comentada diz respeito à senadora Eliziane Gama, que viu seu partido ser praticamente varrido da esfera municipal com a eleição de um único prefeito. Tem chamado a atenção também o fato de o Podemos ter elegido apenas um prefeito no Maranhão, exatamente o da Capital, Eduardo Braide. São três situações absolutamente distintas, mas que levam a uma conclusão pouco saudável em matéria de fortalecimento do cenário político: a falta de importância dos partidos políticos.
Todas as avaliações isentas concordam que o senador Roberto Rocha saiu das urnas politicamente muito enfraquecido por conta do desempenho do seu partido, o PSDB. Nas eleições municipais de 2016, os tucanos, então comandados pelo vice-governador Carlos Brandão, elegeram nada menos que 29 prefeitos, só perdendo para o PCdoB, que fez 46. Depois daquele pleito, numa grande articulação, que envolveu o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato a presidente da República, Roberto Rocha deixou o PSB e retornou ao PSDB, depois de assegurar que teria o controle total do partido no Maranhão. O resultado foi desastroso. Primeiro o partido foi varrido da bancada maranhense na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa em 2018, e agora amargou a eleição de apenas dois prefeitos, alguns vices e uma penca tímida de vereadores espalhados pelo estado. As especulações de agora sugerem que ao perder o posto de líder dos tucanos no Senado em Fevereiro, o senador Roberto Rocha deve deixar o ninho, para um destino partidário incerto.
A senadora Eliziane Gama por sua vez, quase experimentou a estranha situação de única representante do seu partido, o Cidadania, em todas as esferas de representação. Sem deputados federais nem estaduais e quase ninguém em Câmaras Municipais, o Cidadania elegeu apenas um prefeito no Maranhão, exatamente o mesmo resultado das eleições municipais de 2016. Vale destacar o caso do Cidadania, cujo desempenho pífio aconteceu exatamente no momento em que Eliziane Gama ainda surfava na onda do milhão de votos que recebeu em 2018 e faz um bom trabalho parlamentar no Senado, o que, em tese, seria combustível suficiente para turbinar o Cidadania na corrida municipal, o que obviamente não ocorreu, tornando uma legenda sem norte na esquerda. O resultado é que, mesmo justa e corretamente prestigiada como senadora, Eliziane Gama foi um fracasso retumbante nas eleições municipais.
O pleito municipal produziu uma situação esdrúxula justamente em São Luís, o maior e mais importante centro político e eleitoral do Maranhão: a eleição de Eduardo Braide, cujo partido, o Podemos, não obteve sucesso em nenhum outro município, o que o faz uma agremiação nanica. É verdade que o Podemos ganhou reforço com a eleição de cinco vereadores na Capital, mas é improvável que ele venha a ganhar peso nos próximos tempos. Isso porque, fora Jackson Lago (PDT), todos os prefeitos de São Luís de 1985 para cá – Gardênia Gonçalves (PDS), Conceição Andrade (PSB), Tadeu Palácio (PDT) e João Castelo (PSDB) – saíram partidariamente enfraquecidos dos seus mandatos, o que vai acontecer também com Edivaldo Holanda Jr., cuja omissão ajudou o comando do PDT partido a entregar São Luís numa bandeja a um adversário. Eduardo Braide pode quebrar essa sina, mas também corre o risco de ser alcançado por ela.
Esses fatos, aos quais vários outros se somam, demonstram claramente que o Maranhão vive no momento uma realidade política complexa que poderá produzir mudanças radicais dentro dos três partidos.
PONTO & CONTRAPONTO
Braide vai à Assembleia e recebe apoio de Othelino Neto e aval de 22 deputados
Mais do que um gesto de cortesia, a visita do prefeito eleito de São Luís, Eduardo Braide (Podemos), à Assembleia Legislativa, ontem, foi um fato político importante. Primeiro pela iniciativa de voltar à Casa onde atuou por oito anos como um dos seus quadros mais produtivos, e segundo pela maneira politicamente correta com que foi recebido pelo presidente Othelino Neto (PCdoB). E pela receptividade dos 21 deputados presentes à sessão, entre eles Felipe dos Pneus (Republicanos) e Rigo Teles (PL), respectivos prefeitos eleitos de Santa Inês e Barra do Corda, e Yglésio Moises (PROS), que foi seu adversário na disputa, e Marco Aurélio (PCdoB), que ficou em segundo na briga pela Prefeitura de Imperatriz.
Eduardo Braide mostrou pragmatismo político ao visitar uma Casa onde tem adversários partidários e ideológicos. Com isso, fez um gesto de quem não quer briga e de apoio para colocar em prática o seu plano de ação. Ele sabe que, mesmo sem uma ação que tenha como foco a Prefeitura de São Luís, o apoio informal de deputados estaduais é importante, tanto no campo político quanto na seara institucional.
Othelino Neto lembrou que Eduardo Braide iniciou sua trajetória política na Assembleia Legislativa, onde atuou por dois mandatos e de onde saiu para ser deputado federal. O presidente da Assembleia Legislativa assinalou também que São Luís, por ser a Capital do Maranhão, merece uma atenção especial do Parlamento estadual. “Seja muito bem-vindo a esta Casa. Tenha a certeza de que o senhor contará com o apoio e a solidariedade dos 42 parlamentares, independentemente de suas preferências políticas e partidárias, para que possa conduzir bem a nossa capital. Afinal de contas, aqui residem mais de um milhão de maranhenses, portanto, é preciso ter uma atenção especial de toda a Assembleia”, frisou Othelino.
Após conversar informalmente com o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Braide registrou: “Agradeço a recepção dos colegas da Assembleia Legislativa, em nome do presidente da Casa, deputado Othelino Neto. É um prazer retornar aqui, pois durante oito anos fui deputado estadual nesse Parlamento, onde muito trabalhei em benefício da população do Maranhão. Agora, retorno a esta Casa como prefeito eleito de São Luís. Estamos cumprindo aquilo que nós sempre dissemos durante a campanha, que é manter o diálogo e o bom relacionamento institucional com todas as instâncias de poder”.
Eduardo Braide saiu do Plenário Nagib Haickel e do Palácio Manoel Beckman certo de que deu um passo político correto e com a convicção de que tem interlocutores no Poder Legislativo.
Político acham que Operação Descalabro pode sepultar a carreira de Josimar de Maranhãozinho
A Operação Descalabro, por meio da qual a Polícia Federal desbaratou esquema de desvio de dinheiro de emendas destinadas à Saúde e colocou o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (foto)(PL) na posição de principal suspeito de chefiá-lo, situação agravada por causa dos mais de R$ 3 milhões em espécie encontrados em endereços do parlamentar, instalou um fosso pantanoso entre o parlamentar e o futuro dele na política.
No meio político, a impressão dominante é a de que Josimar de Maranhãozinho pode até escapar da degola judicial, mas nunca será o mesmo no cenário da política estadual. E se o que foi dito pelo Ministério Público Federal para justificar a Operação Descalabro viver a ser confirmado, como está parecendo, o chefe do PL no Maranhão deve refazer as contas e se preparar para aposentadoria política precoce. Vale aguardar.
São Luís, 16 de Dezembro de 2020.
Quem planta colhe!