Causou forte repercussão nos canais virtuais de informação o post do governador Flávio Dino (PCdoB) clamando pelo fim do que ele batizou de “Marcha da Insensatez”, que no momento move as forças políticas em confronto no País, de modo a construir um saudável ambiente de diálogo, para ele a única via capaz de trazer de volta a estabilidade política, e, com ela, a retomada do processo econômico. Escreveu o governador: “Quando a Marcha da Insensatez for contida, espero que haja amplo e sereno diálogo nacional. O Brasil precisa de paz, não dessa guerra sem fim”. Dono de sólida formação acadêmica e cultural, o mandatário maranhense foi buscar inspiração em um clássico da historiografia universal moderna, “A Marcha da Insensatez: de Troia ao Vietnã”, da historiadora norte-americana Barbara W. Tuchman, para demonstrar que, historicamente, todas as vezes que a razão foi deixada de lado por força da insensatez, o resultado foi desastroso para os povos vitimados por decisões insensatas dos seus líderes. Defende o governador o uso da razão para a construção de um ambiente de paz e diálogo, sem que ninguém seja obrigado a abrir mão das suas convicções.
Por muitos considerados um dos estudos de fatos históricos mais bem elaborados dos últimos tempos, o livro de Barbara W. Tuchman, que chegou ao Brasil em meados de 1985, quando o País interrompia a marcha insensata da ditadura, mostra como líderes cegamente movidos pelos mais diversos motivos não enxergaram as evidências nem deram ouvidos a vozes sensatas e mantiveram decisões e posturas equivocadas, que resultaram em tragédias, derrocadas políticas, cismas e até extinção de impérios. E foi buscar em quatro marcos históricos as consequências da insensatez: a derrocada de Troia causada por um gigantesco cavalo de madeira ofertado por seus inimigos espartanos; as loucuras de seis papas que resultaram na divisão da Igreja Católica com o surgimento da reforma protestante; o inexplicável erro estratégico que levou a Inglaterra a perder, pela força das armas, a América do Norte, sua mais importante colônia; e, finalmente, o monumental tropeço dos Estados Unidos ao envolver-se, de maneira total e absurda, numa guerra criminosa, desumana e desigual contra uma banda do Vietnã.
Tuchman demonstra, numa espécie de crônica de severo viés analítico, que, um a um, os erros que escolheu como exemplo poderiam ter sido evitados se os governantes tivessem ouvido a voz da razão. E começa indagando: como os troianos, um povo desenvolvido da Grécia Antiga, aceitaram de presente um cavalo de madeira, doado por seus adversários, que no momento cercavam a cidade-estado com seus exércitos, com todos os sinais e evidências de que tratava-se de um ardil? Como explicar que seis papas – entre eles um depravado, um infiel, um assassino, um guerreiro, saqueador e um político equivocado – ignoraram alertas e permitiram a divisão da Igreja, então a organização mais importante e poderosa de todo o planeta? No caso da Inglaterra, até hoje não se conseguiu uma explicação plausível para que a coroa britânica dedicasse à sua riquíssima colônia norte-americana um tratamento de força, quando a elite do futuro Estados Unidos queria ser tratada como igual, permitindo assim a perda astronômica com a guerra da independência. No caso do envolvimento dos EUA na guerra do Vietnã, os analistas da superpotência batem cabeça e não conseguem entender por que, mesmo no auge da Guerra Fria, os líderes norte-americanos, a começar pelo maior deles, John Kennedy, entraram no atoleiro vietnamita tão determinados a pagar um preço histórico tão elevado.
Quando chama o momento político brasileiro de “Marcha da Insensatez”, o governador do Maranhão o interpreta como uma situação de altíssimo risco para a ordem democrática do País. Ele não vê sentido no fato de que, por maior que seja o grau de tensão, as forças em conflito não produzam um clima que lhes permita instalar uma mesa de negociações. O radicalismo, principalmente da oposição, que aposta todas as suas fichas na derrubada da presidente da República por meio de um processo de impeachment gravemente polêmico, é a causa maior da crise, exatamente pelo fato de que não faz concessões. O mesmo fator movimenta forças governista. E isso, em resumo, é insensatez, cuja marcha deve ser contida.
Nas páginas iniciais do seu estudo, Barbara W. Tuchman afirma que a insensatez é o repúdio da razão e quase sempre conduz a resultados contraproducentes. E depois de analisar os grandes fatos históricos por ela causados, a historiadora conclui que a insensatez é a loucura política, e por isso jamais deveria reger as grandes decisões. É o que sustenta o discurso do governador Flávio Dino, para quem a “marcha da insensatez” no Brasil do momento deve ser contida pelo império da razão, que no caso ganha a forma de um amplo diálogo, por meio do qual forças antagônicas travem o bom combate das ideias e, assim encontrem meios para traçar novos rumos para o Brasil e sua saudável democracia.
PONTO & CONTRAPONTO
Tensão disfarçada em Balsas
Foi de descontração aparente o clima nas festas de inauguração do 4º Batalhão da Policia Militar e a Avenida Contorno, ontem, em Balsas. Os atos reuniram o governador Flavio Dino, o prefeito Luiz Rocha Filho (PSB), o Rochinha, o senador Roberto Rocha (PSB), o deputado federal Weverton Rocha (PDT) e Márcio Honaiser, que comanda a Secretaria Estadual de Agricultura, também filiado ao PDT. Não é segredo que ali o confronto entre o PDT e o PSB já está em curso, e pelo menos até aqui o governador Flávio Dino ficará distante da refrega política e eleitoral. Não é segredo para ninguém que o PCdoB, partido do governador, aliou-se ao PDT, em torno da candidatura do pedetista Dr. Erik, que por muito pouco não venceu a eleição em 2012. Do outro lado está o prefeito Rochinha, candidato à reeleição e deve enfrentar o mesmo adversário. Todos os observadores da política balsense avaliam que será uma disputa voto a voto, com muita pancadaria verbal. Balsas é uma cidade estratégica para os planos do senador Roberto Rocha, que perdera parte expressiva do seu poder político. Do outro lado está o deputado federal Weverton Rocha disposto a colocar o PDT na Prefeitura de Balsas, ainda que tenha de atropelar daí por que é corrente no meio político que se o governador Flávio Dino não assumir neutralidade total em relação á corrida eleitoral em Balsas, apoiará o candidato a ser apoiado por seu partido, Dr. Erik (PDT).
Para onde foi?
Terminou ontem à meia-noite o prazo para mudança de partido. O caso mais emblemático é o da deputada federal Eliziane Gama. Ela deixou o PPS para ingressar na Rede Sustentabilidade, a aventura partidária de Marina Silva, à frente da qual se prepara para disputar a Prefeitura de São Luís na condição de campeã nas pesquisas entre os pré-candidatos. Havia a expectativa de que Eliziane Gama confirmaria hoje sua permanência na Rede ou retornaria aos quadros do PPS, de onde nunc a deveria ter saído, na avaliação de alguns. Até às 11h45m de ontem ainda não havia confirmação da decisão da deputada, o que pareceu com sua permanência na Rede, o que para muitos terá sido um erro monumental.
São Luís, 03 de Abril de 2016.