O Tribunal de Justiça elege hoje, pelo voto secreto dos 27 desembargadores, os seus próximos dirigentes. Serão eleitos o presidente, o vice-presidente e o corregedor geral da Justiça. São candidatos naturais os três desembargadores mais antigos, no caso, Nelma Sarney, José Joaquim Figueiredo dos Anjos e Marcelo Carvalho. Em meio à movimentação nos bastidores típica desse momento de decisão no Poder Judiciário, uma eleição já está definida, a do desembargador Marcelo Carvalho para o cargo de corregedor geral da Justiça, uma vez que ele declarou não ter interesse em ser presidente nem vice-presidente. A presidência será, portanto, disputada por Nelma Sarney e José Joaquim Figueiredo. Os dois já declararam não ter interesse no cargo de vice-presidente, e como as desembargadoras Anildes Cruz e Maria da Graça Duarte, que são os membros imediatamente mais antigos do TJ, não podem mais concorrer, e o próximo mais antigo, desembargador Paulo Velten, avisou não ter interesse, o cargo de número dois na hierarquia do Judiciário deve ficar com o desembargador Lourival Serejo, o sétimo na lista dos mais antigos, que se declarou candidato. Em resumo: antes de acontecer, a eleição já tem duas escolhas praticamente definidas, restando a presidente.
Esse roteiro não foge muito do que costuma acontecer nas eleições no Tribunal de Justiça. Mas tem uma diferença essencial, que vem alterando os ânimos nos gabinetes do Poder Judiciário. É que, diferentemente de outros pleitos, mesmo aqueles mais acirrados, o de hoje foi contaminado por um processo torto e inusitado de politização, com a atuação de claks virtuais a favor de um e de outro candidato. A desembargadora Nelma Celeste Souza Silva Sarney Costa vem sendo carimbada como “candidata do José Sarney”, enquanto o desembargador José Joaquim Figueiredo é apontado como “candidato apoiado pelo governador Flávio Dino” (PCdoB). Por conta dessa interferência da política, a disputa vem arranhando a imagem de Poder autônomo e independente do Judiciário.
A desembargadora Nelma Sarney paga o preço de pertencer à família Sarney por ser casada com Ronald Sarney, irmão de José Sarney. Desde que ingresso na magistratura por concurso público, essa condição familiar pode até tê-la ajudado de alguma maneira, mas o que é notório é que funciona como uma espécie de estigma, que em muitos aspectos minimiza os méritos funcionais da magistrada e joga sobre ela a suspeita de favorecimento. Por conta dessa relação familiar, tudo o que envolve a desembargadora ganha dimensão superlativa. Isso explica o fato de que de alguns meses para cá, Nelma Sarney – que já foi corregedora geral de Justiça e presidiu a Justiça Eleitoral – tenha sido alvo de intensos e afiados petardos na blogosfera: ações no CNJ, suspeita de praticar atos de desvio de conduta e outros itens. Ela nega tudo, diz que está sendo perseguida e garante que nada abalou seu ânimo de disputar o cargo com a certeza de que será eleita, embora a situação política e eleitoral seja bem mais complicada do que é admitido à sua volta.
A mesma situação envolve o desembargador José Joaquim Figueiredo, um servidor dedicado com três décadas de magistratura, e preparo suficiente para disputar o cargo e, em caso de vitória, comandar o Judiciário com segurança. Até entrar na disputa pela presidência do Judiciário, o desembargador José Joaquim Figueiredo era conhecido como um juiz dedicado, bem preparado, com uma carreira linear e bem sucedida. Sua candidatura a presidente o tornou, de uma hora para outra, “candidato do Flávio Dino”, condição muito provavelmente a ele imposta à sua revelia, e mais do que isso, sua honorabilidade foi questionada até com a exposição de familiares. Indignado, disse a amigos que vai buscar reparo na Justiça. E foi dormir nesta terça-feira com a certeza de que é o favorito na disputa.
Os desembargadores candidatos e seus colegas eleitores encerraram seus expedientes de ontem preocupados com os rumos que esse processo tomou e com os desdobramentos que poderão advir se os ânimos forem acirrados. Isso porque o Judiciário é movido pela cultura-tradição de que seus problemas são resolvidos dentro dos seus muros, não sendo admitida interferência. Os rumos da disputa que se encerra hoje contrariam frontalmente essa tradição.
PONTO & CONTRAPONTO
Roberto Rocha desembarca hoje no PSDB para ser candidato a governador contra Flávio Dino
O senador Roberto Rocha desembarca hoje no PSDB, como uma espécie de filho “largado” que retorna às suas origens. De acordo com a expectativa do ex-prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, um dos responsáveis pela operação, o retorno do parlamentar ao ninho acontecerá em grande estilo, com a presença de boa parte da cúpula partidária, pelo menos três governadores, senadores, deputados estaduais e prefeitos de cidades importantes do Maranhão e do País. Roberto Rocha reingressa no PSDB depois de um longo e conturbado período no PSB, onde ao pesar de tudo foi deputado federal, vice-prefeito de São Luís e senador da República. Também nesse período, o parlamentar construiu e destruiu pontes, ampliou seu raio de ação, mas ao mesmo tempo viu crescer uma massa respeitável de adversários. Em meio a essa trajetória agitada, Roberto Rocha tomando decisões ousadas, todas com o objetivo de ampliar o seu raio de ação política com o objetivo de se viabilizar como uma “terceira via” no cenário político do Maranhão, hoje limitado a duas forças, o Grupo Sarney e a aliança liderada pelo governador Flávio Dino. Protagonista de movimentos controversos, que ora turbinam sua caminhada e ora parecem travá-la, Roberto Rocha parece estar dando a guinada certa, a começar pelo fato de que chega ao partido dos tucanos com a garantia de que será candidato ao Governo do Estado com as bênçãos da cúpula nacional do tucanato.
José Reinaldo e Sarney Filho ainda não resolveram sua situação partidária
Dois candidatos assumidos ao Senado ainda não definiram sua situação partidária. O ex-governador e deputado federal José Reinaldo Tavares não decidiu ainda se permanecerá no PSB ou se migrará para outro partido, como o DEM, por exemplo. José Reinaldo está em confronto aberto com a cúpula do PSB por não concordar com posições definidas pelo partido em relação a matéria em tramitação na Câmara Federal e no Congresso Nacional. O ex-governador tinha uma relação de muita proximidade com o ex-governador Eduardo Campos, o que lhe assegurava manter certas posições dentro do PSB. Com a morte de Campos, o partido está dando uma forte guinada à esquerda, na qual o ex-governador não se encaixa. Nesse contexto, dificilmente ele permanecerá no partido, devendo migrar para uma legenda de centro-direita. O deputado federal Sarney Filho, hoje ministro do Meio Ambiente, se movimenta para deixar o PV. Ele vem há tempos em conflito com o partido, que ajudou a fundar nos anos 90 do século passado. Especulou-se que Sarney Filho poderia assumir o comando do DEM no Maranhão, mas essa possibilidade foi descartada. Depois foi dito que ele entraria no PSD, e essa alternativa está sendo mantida até agora, já que nem a direção do partido nem o ministro a descartou. Fala-se até na possibilidade de Sarney Filho se filiar ao PMDB. Os dois parlamentares têm prazo até fevereiro para resolver se saem ou se ficam nos seus atuais partidos.
São Luís, 03 de Outubro de 2017.