Depois de anos de conflitos e racha internos, PT muda comando pregando unidade e aliança com Flávio Dino

 

Zé Inácio (e) e Augusto Lobato (d) alinhados com Lula e Flávio Dino
Zé Inácio (e) e  Lobato (d) alinhados com Lula e Dino

O PT que se reúne hoje em São Luís para decidir, pelo voto de delegados escolhidos por mais de 15 mil filiados, quem vai comandá-lo a partir de agora no Maranhão é um partido muito diferente do que foi até meados de 2015, quando colocou ponto final na relação que manteve com o Grupo Sarney desde o primeiro mandato presidencial de Lula da Silva, iniciado em 2003. Em vez do partido dividido, no qual as correntes antagônicas por pouco não praticaram a autofagia, o PT de agora é um partido fragilizado pela perda do poder e pela pancadaria a que foi submetido desde o início do Mensalão e que ganhou intensidade implacável com Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014, com a prisão do doleiro Alberto Youssef, ironicamente no Hotel Luzeiros, em São Luís. Com essa eleição, preparatória ao seu 6º Congresso nacional, o PT tenta consertar os erros e as contradições por meio de um esforço gigantesco para superar as diferenças, juntar os cacos e tentar voltar a ser o partido reformista e aguerrido de outros tempos, para assim chegar ao 6º Congresso nacional, no qual deverá se depurar e definir um novo rumo.

Representantes de correntes que há muito se batem dentro do partido, o deputado Zé Inácio (Construindo um Novo Brasil – CNB) e Augusto Lobato (Campo Majoritário – CM) se batem pelo comando partidário, mas também pelo compromisso firmado de unir a agremiação. E com o objetivo de buscar apoio para a provável candidatura de Lula da Silva a presidente da República e a do governador Flávio Dino à reeleição. Se Zé Inácio foi eleito presidente, o grupo mais próximo de Lula, liderado por Raimundo Monteiro, vai continuar dando as cartas, mas com o projeto de seguir na aliança com o PCdoB. A vitória de Augusto Lobato significará a ascensão do grupo que fez oposição à aliança PT-PMDB, e com o mesmo projeto de manter incondicional o apoio ao governador Flávio Dino.

Nos anos das presidências de Lula e Dilma Rousseff, o PT maranhense vivenciou o poder, mas amargou um ”racha” que o dividiu violentamente. A chegada do PT ao poder no Maranhão, com o vice-governador Washington Oliveira como figura de proa do governo Roseana Sarney (PMDB), que abriu o governo para petistas, a divisão foi mantida. A dissidência, liderada pelo então deputado federal Domingos Dutra, Márcio Jardim e Chico Gonçalves, ligados à corrente Democracia Socialista (DS) resistiu aos apelos, acenos conciliatórios e pressões fortes feitos pelo próprio Lula e de generais petistas como José Dirceu e Antônio Palocci, entre outros, para que o PT se aliasse ao Grupo Sarney por inteiro no estado. Enquanto as forças da corrente ligada a Lula dominaram a máquina federal e ocuparam espaços na máquina estadual na aliança com PMDB, os dissidentes se mantiveram tenazmente distanciados e atuando nos segmentos de oposição.

A resistência permaneceu na presidência de Dilma Rousseff e fazendo oposição cerrada ao Grupo Sarney, tendo ganhado mais consistência quando se incorporou ao movimento que levou Flávio Dino (PCdoB) ao poder no Maranhão em 2014, ao impor uma derrota histórica ao sarneysismo. Por conta da aliança, rejeitada por muitos segmentos do PT, principalmente os mais à esquerda, como as correntes “Mensagem ao Partido” (MP), “Movimento PT” (MP), “Muda PT” (MPT), “União de Base” (UB)., o PT vivenciou o poder, é verdade, mas sofreu danos graves, como a saída do deputado federal e hoje o prefeito de Paço do Lumiar Domingos Dutra, um dos quadros mais importantes do partido, hoje no PCdoB.

Cada um ao seu modo, os grupos liderados hoje por Zé Inácio e por Augusto Lobato mantiveram coerência, à medida que tanto os seguidores da orientação do comando nacional quanto os que não a seguiram   pregaram sempre a unidade partidária. E esse ponto de afinidade se revela agora, quando as duas correntes se batem numa disputa dura, mas civilizada, sem ataques nem agressões e enfatizando o discurso segundo o qual um PT coeso, apesar das divergências internas, pode dar a volta por cima. E as duas correntes já afinaram o discurso segundo o qual no Maranhão o caminho é a aliança com o movimento liderado por Flávio Dino, de preferência com um petista como vice na chapa na qual o governador buscará a reeleição.

 PONTO & CONTRAPONTO

Flávio Dino estimula a união do PT e terá o partido como seu aliado firme na corrida à reeleição

Flávio Dino ajuda a unir o PT e terá seu apoio integral em 2018
Flávio Dino ajuda a unir o PT e terá seu apoio integral em 2018

O governador Flávio Dino e o seu projeto de poder têm forte influência nas decisões que o PT tomará no processo em que definirá hoje sua nova direção. Ex-membro militante do partido, Flávio Dino teve uma relação tumultuada com o PT durante o período em que o partido esteve aliado ao PMDB no Maranhão. Em 2010, quando disputou o Governo do Estado pela primeira vez, o então candidato do PCdoB se movimentou intensamente para ter o PT nas suas fileiras de apoio. Conseguiu que a maioria do partido decidisse por apoiá-lo, mas essa decisão foi sufocada pelo comando nacional, que desautorizou a aliança com o PCdoB e obrigou a direção estadual a aliar-se ao Grupo Sarney em apoio à candidatura de Roseana Sarney (PMDB), tendo como contrapartida a candidatura do presidente estadual do partido a vice-governador. O resultado foi um racha no partido, com o afastamento dos segmentos mais à esquerda. Agora, Flávio Dino reverte o cenário daquele período e consegue atrair o PT por inteiro ao seu movimento. Com o apoio dos ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff e da atual direção nacional do partido, as duas correntes que disputam o comando do PT no Maranhão já declararam apoio ao Governo Flávio Dino e ao projeto de reeleição do governador. O apoio ao governador é tão enfático que o PT já trabalha com a possibilidade de emplacar o candidato a vice-governador em 2018, principalmente se Lula da Silva for candidato a presidente. E é na condição de candidato do partido que ele participará do ato de abertura do Congresso estadual petista.

Roseana Sarney faz mistério sobre se será ou não candidata ao Governo em 2018

Roseana Sarney ainda não decidiu se será ou não candidata ao Governo
Roseana Sarney ainda não decidiu se será ou não candidata ao Governo

É misteriosa a posição da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) em relação à possibilidade de ela própria ser candidata ao Governo do Estado no pleito do ano que vem. Enquanto aliados seus dão declarações enfáticas de que ela será candidata, prevendo inclusive a sua vitória nas urnas, ela se mantém em silêncio. Ao mesmo tempo, fontes que privaram com a ex-governadora recentemente revelam que ouviram dela declarações enfáticas de que não quer e não será candidata, preferindo manter a aposentadoria por ela anunciada quando deixou o Palácio dos Leões no ultimo dia de 2014. De acordo com um relato de um empresário que participou de uma roda em que ela estava presente, recentemente em Brasília, a ex-governadora teria declarado, com todas as letras, que não tem interesse de ser candidata, argumentando que já governou o estado por mais de 13 anos, que está cansada da vida pública e que seu projeto pessoal é participar da política, mas sem disputar votos. Mas também deixou no ar que dependendo das circunstâncias poderá rever essa posição. Na avaliação de um político com acesso à ex-governadora, Roseana Sarney só decidirá se será ou não candidata no final deste ano, “ou depois do carnaval de 2018”.

São Luís. 12 de Maio de 2017.

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