Acabou o suspense. O senador e ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e a ex-governadora Roseana Sarney, ambos do PMDB, estão na lista do procurador geral da República, Rodrigo Junot, e por decisão do ministro-relator Teori Zawasky, do Supremo Tribunal Federal (STF), serão investigados como suspeitos de envolvimento nas falcatruas que desestruturaram a Petrobras, apuradas pela Operação Lava-Jato. Denunciados pelo ex-diretor de Abastecimento da petrolífera, Paulo Roberto Costa, chefe do esquema de corrupção, e pelo doleiro Alberto Yousseff, operador do esquema, no acordo de delação premiada, o senador e a ex-governadora serão alvos de inquéritos sob a suspeita de receber propina, lavar dinheiro e formar quadrilha.
A confirmação de que Lobão será investigado não surpreendeu, uma vez que, mesmo antes de o procurador geral Rodrigo Junot encaminhar a lista dos suspeitos ao STF, já corria nos bastidores políticos e judiciários de Brasília que ele era um dos integrantes. Já a inclusão de Roseana surpreendeu, de vez que a grande imprensa previra que ela integraria uma lista de políticos para os quais Junot recomendaria o arquivamento do inquérito, por falta de provas. Incluída na lista dos suspeitos, a ex-governadora vai agora enfrentar duas acusações na Justiça, a de que teria se beneficiado com o dinheiro da corrupção na Petrobras e a de suspeita de ter recebido propina no caso do precatório de R$ 120 milhões que seu governo acertou com Constran, em 24 parcelas, de acordo com revelação do doleiro Alberto Yousseff ao ser preso em São Luís, no Hotel Luzeiros, na madrugada de 17 de março de 2014, após ter entregue uma mala de dinheiro para um emissário da autoridade corrompida – o ex-secretário da Casa Civil, João Abreu, segundo o próprio Yousseff.
Para Lobão, a condição de suspeito é um verdadeiro desastre pessoal e político, pois impõe uma enorme nódoa na sua longa e bem sucedida carreira política, durante a qual foi deputado federal (duas vezes), governador, senador (quatro vezes), presidente do Senado e ministro de Minas e Energia. O senador se preparava para ser um dos congressistas mais atuantes nos próximos anos, tendo obtido da bancada do PMDB o compromisso de vir a ser eleito presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, a mais importante do Senado. Nós últimos dias, viu esse e outros projetos encolherem e desde ontem à noite passou a correr também o risco de enfrentar o Conselho de Ética da Casa, hoje presidido pelo senador João Aberto (PMDB), seu companheiro de partido e de jornada política. Nas conversas de bastidor, ontem, chegou-se a cogitar a possibilidade de Lobão vir a renunciar ao mandato em favor de Lobão Filho, seu 1º suplente.
Para Roseana Sarney, a inclusão na lista dos suspeitos de envolvimento nas falcatruas na Petrobras é igualmente desastrosa. Acontece alguns anos depois que ela se livrou definitivamente dos desdobramentos da operação que começou com a invasão, pela Polícia Federal, dos escritórios da Lunus, empresa que mantinha em sociedade com o marido, Jorge Murad, sob a alegação de que ela teria participado de falcatruas na Sudam. Então governadora e pré-candidata à presidência da República, Roseana viu seu futuro político desmoronar. Nada ficou provado contra ela, mas a consequência política foi devastadora: ela se elegeu senadora, mas perdeu a eleição para o Governo do Estado para Jackson Lago (PDT) em 2006.
Essa investigação, somada à do precatório, que será feita por uma das varas criminais da Justiça estadual, poderá debilitar ainda mais o seu grupo político, destroçado nas urnas em 2014. Poderá ainda mandar para o arquivo morto qualquer projeto que a ex-governadora possa estar alimentando no sentido de retornar à vida pública nos próximos tempos. Além do mais, mina de vez o prestígio pessoal e político do ex-presidente José Sarney, que agora, sem mandato nem aliados fortes, terá de enfrentar enormes obstáculos na tarefa de dar apoio à ex-governadora e ao senador.
A abertura de inquérito contra os dois é mais uma pancada no grupo político que lideram, cuja estatura encolherá ainda mais, dando ao governador Flávio Dino (PCdoB) a oportunidade nada desprezível de robustecer ainda mais a base política que dá suporte ao seu governo. Isso porque é fácil antever que, independente do que vier a acontecer daqui para frente, a suspeita que sombreia os dois vai ser transformada em chumbo grosso a ser disparado contra eles próprios.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Promessa de filho
No ano passado, durante a campanha eleitoral, numa conversa com jornalistas, o então candidato a governador pelo PMDB, Lobão Filho, fez uma promessa quase que solene. Diante dos primeiros rumores na imprensa nacional de que o então ministro Edison Lobão (Minas e Energia) teria sido citado por Alberto Yousseff como beneficiário de dinheiro de corrupção na Petrobras, Lobão Filho declarou que se eleito governador ou como senador, se alguma coisa de errado fosse provada contra seu pai, ele renunciaria ao mandato. Se fosse eleito governador, estaria agora, nos primeiros meses de mandato, correndo o risco de renunciar.
Situação delicada
A confirmação de que o senador Edison Lobão está na lista dos suspeitos de ter se beneficiado da propina na Petrobras colocou o senador João Alberto numa situação de extrema delicadeza. Explica-se: corre nos bastidores do Senado que membros de outros partidos, principalmente dos de oposição, estariam articulando para levar os nove denunciados – Edison Lobão, Renan Calheiros (PMDB), Fernando Collor (PTB-AL), Raimundo Lira (PP-AL), Humberto Costa (PT-PE) e Jorge Viana (PT-AC) e Antônio Anastazia (PSDB-MG), Lindbergh Farias (PT-RJ), Waldir Raupp (PMDB-RO)- ao Conselho de Ética da Casa, presidido exatamente pelo senador João Alberto.
Agito no ninho
Os ditos e desmentidos que movimentaram o PSDB nos últimos dias indicam que o partido vive uma guerra interna em São Luís. O novo presidente do ninho na Capital, o suplente de senador Pinto Itamaraty, estaria inclinado a apoiar uma aliança com o PTC para indicar – de preferência ele próprio – o candidato à vice do prefeito Edivaldo Jr.. O projeto de Pinto, porém, desagrada profundamente o deputado federal João Castelo, que ainda não engoliu a derrota em 2012 e quer o PSDB na contramão da candidatura do prefeito à reeleição. Castelo acha que o PSDB deve lançar candidato próprio à Prefeitura de São Luís, mas enfrenta um problema: o partido não tem nome de peso para entrar na disputa.
Pela Refinaria Premium I
Líderes da Associação Comercial do Maranhão (ACM) e da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema) foram quinta-feira à Assembleia Legislativa pedir ao presidente da Casa, deputado Humberto Coutinho (PDT), que mobilize o parlamento estadual para ampliar o coro em favor do projeto da Refinaria Premium I, em Bacabeira, cancelado pela Petrobras. Luísa Rezende, presidente da ACM, entregou a Humberto Coutinho um documento pedindo a mobilização. “Nós estamos aqui pra pedir a contribuição do nosso presidente da Assembleia e de toda a bancada estadual para que possam apoiar o projeto e trazer novamente para o Maranhão. A interrupção da Refinaria só prejudica a nossa categoria”, explicou. O presidente da Assembleia Legislativa lhes informou que a Casa está mobilizada, inclusive com a formação da Frente Parlamentar Estadual pela Refinaria Premium.
Tentando de tudo
O ex-prefeito de Porto Franco, Deoclídes Macedo (PDT), está usando todos os recursos jurídicos possíveis para reverter a decisão do presidente do TSE, ministro Dias Toffoli, que cassou liminarmente a decisão do TRE/MA e devolveu o mandato de deputado federal Alberto Filho. Mas tudo indica que ele e Julião Amin continuarão como suplentes.
São Luís, 26 de Março de 2015