Debate: Braide faltou, mas Duarte Jr. foi bem, Flávia Alves surpreendeu e Yglésio foi a voz destoante

Duarte Jr. foi bem, Flávia Alves surpreendeu, Fábio Câmara, Franklin Douglas,
Wellington do Curso e Saulo Arcangeli deram seus recados, mas Yglésio Moises destoou

Tudo bem que a ausência estratégica do prefeito Eduard Braide (PSD), líder absoluto da corrida, segundo todas as pesquisas, reduziu a importância do evento no mínimo à metade, mas o debate de ontem entre sete dos oito candidatos à Prefeitura de São Luís, realizado pelo portal imirante.com não foi uma perda total de tempo. O desempenho eficiente e equilibrado do deputado federal Duarte Jr. (PSB), a surpreendente desenvoltura da suplente de deputado federal Flávia Alves (Solidariedade) e o esforço bem dosado do ex-vereador Fábio Câmara (PDT), assim como a campanha do professor e jornalista Franklin Douglas (PSOL) pelo voto no passe livre para estudante justificaram a iniciativa. Fora isso, o discurso repetitivo do deputado Wellington do Curso (Novo) e o sindicalismo ostensivo do professor Saulo Arcangeli (PSOL) não foram convincentes, mas também não os desmereceram. Mas nada se comparou à inacreditável participação do deputado Yglésio Moises (PRTB), que incorporado ao bolsonarismo, tentou adotar, sem sucesso, a versão ludovicense do coach paulistano Pablo Marçal, que também é do PRTB.

Ao longo de quase três horas, São Luís foi abordada na superfície, uma vez que nenhum dos candidatos se manifestou sobre a dimensão de Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, tendo o debate sido reduzido a abordagens nada profundas sobre problemas sociais, econômicos e culturais.

O socialista Duarte Jr. deu o recado dele, com respostas precisas e esclarecedoras relativas a todos os assuntos que lhe foram propostos – educação, saúde, turismo, transporte, segurança e cultura. Deixou no ar a impressão de que tem, de fato, um plano de Governo consistente, que, se eleito, poderá colocar em prática em parcerias com os governos estadual e federal. Foi contundente nas críticas ao prefeito Eduardo Braide, mas em nenhum momento descambou para a o denuncismo barato e a ofensa pessoal. Ao mesmo tempo, Duarte Jr. não caiu na armadilha das provocações, não rebatendo ataques a ele dirigidos. Saiu como entrou, com a posição de segundo colocado justificada.

Única mulher entre os candidatos, Flávia Alves foi a surpresa da noite. Com um discurso equilibrado, mas firme, ela demonstrou conhecimento – pelo menos nos aspectos técnicos – em relação a todos os assuntos que abordou. Chamaram a atenção suas manifestações nas áreas de saneamento básico, saúde, educação, segurança e políticas relacionadas à mulher. Quem só a conhecia dos curtos filmetes na TV e de falas também reduzidas no Rádio certamente se surpreendeu com a sua postura e com os conhecimentos que mostrou sobre a realidade social, econômica e administrativa de São Luís.

Se esforçando para ser simpático, sem qualquer interesse em confrontos, Fábio Câmara deu o seu recado com clareza quando falou dos problemas da cidade, levando o seu discurso para o viés social, assumindo a condição de porta-voz da periferia, dos excluídos, dos “invisíveis”, como ele próprio definiu.

Franklin Douglas cumpriu seu objetivo ao fazer uma veemente defesa do voto a favor da gratuidade do transporte coletivo para estudantes, que será indagado em plebiscito nessa eleição. Defendeu que a Prefeitura tem condições de bancar a medida, lembrando que São Luís é uma cidade rica. Ao mesmo tempo, foi voz contundente na crítica ao prefeito Eduardo Braide, se posicionou como oponente duro e incômodo do candidato Yglésio Moises, a quem chamou várias vezes de “direita fake” e “biruta de aeroporto”.

O deputado Wellington do Curso fez o que sempre fez: falou muito e repetiu o discurso inúmeras vezes. Quando o assunto foi educação, respondeu que vai construir e reformar escolas, e fazer concurso para professor, invocando aí a sua condição de empresário na área de educação. E assim foi em relação a todos os temas que abordou, definindo-se como “oposição ao prefeito, ao governador e ao presidente da República”. E Saulo Arcangeli repetiu os mantras da esquerda radical, entre eles o estatismo: defendeu a criação, pela Prefeitura, de uma companhia municipal de transporte coletivo, inclusive desapropriando os ônibus das empresas que prestam serviço à cidade.

Mas nada se comparou à participação do deputado Yglésio Moises no debate. Foi arrogante, enaltecendo os seus dotes de memória; foi desconexo, à medida que não apresentou uma proposta concreta, a não ser rasgos de “isso se resolve assim”; foi provocador, desrespeitando as regras do debate e tentando atrapalhar o candidato que estava com a palavra; e foi agressivo ao chamar o prefeito Eduardo Braide de “carcamano safado”. Ou seja, deixou no ar a impressão de foi que ao debate decidido a apresentar uma versão local do colega de partido dele em São Paulo, Pablo Marçal, que hoje amarga quase 50% de rejeição. No contraponto, foi chamado por Franklin Douglas de “biruta de aeroporto”, por sua inconstância partidária, e de “palhaço de debate”, pelos trejeitos com que tentou desequilibrar os oponentes. Quem conheceu Yglésio Moises em outros tempos foi difícil acreditar no que viu ontem.

No mais, o debate do portal imirante.com, bem conduzido pela jornalista Carla Lima, serviu para dar uma ideia de quem são e o que pensam sete dos oitos candidatos à Prefeitura de São Luís.

PONTO & CONTRAPONTO

Alcântara: Lula cria território quilombola e garante expansão do CLA; Brandão lança Iema na região

Lula da Silva (centro), Carlos Brandão (esquerda) na entrega de títulos
de propriedade a líderes quilombolas

Um território de 78,1 mil hectares para garantir a permanência das 3.350 famílias quilombolas, cujos antepassados se instalaram há mais de um século, e 9,5 mil hectares para o programa de expansão do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Foi esse o histórico acordo validado ontem em Alcântara pelo presidente Lula da Silva (PT) e as lideranças quilombolas da região e com o aval político e institucional do Governo do Maranhão. De quebra, o governador Carlos Brandão (PSB) assinou, ali mesmo, ordem de serviço para a construção de uma Unidade Plena do Instituto Estadual de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão – o Iema Pleno Quilombola de Alcântara.

O grande acordo entre a União, representada pelo Ministério da Defesa, e as comunidades quilombolas ganha forte dimensão histórica, uma vez que, além de resolver uma pendência de mais de 40 anos, dá solução definitiva a dois problemas de extrema importância. O primeiro: liquida de vez a pendência em relação ao espaço das mais de três mil famílias no município, com a criação do Território Quilombola de Alcântara. O segundo: assegura espaço suficiente para a expansão do CLA, que já começava a ficar inadequado para a evolução prevista para os próximos anos com o avanço da nova e definitiva corrida espacial.

O presidente Lula da Silva tinha assumido o compromisso de solucionar o problema durante a campanha. E agora se sabe que ele colocou a solução do problema territorial de Alcântara na sua lista de prioridades, exatamente pela visão social do seu Governo e pela posição de Alcântara no mapa dos pontos da terra apropriados para o lançamento de foguetes. Nesse período, embora o Estado não tenha envolvimento direto na pendência territorial, por se tratar de terras da União, o governador Carlos Brandão participou das negociações que resultaram no acordo.

A implantação do Iema Pleno Quilombola se destina a abrir caminho para que os jovens das comunidades quilombolas de Alcântara tenham acesso a uma formação técnica, numa relação direta com a natureza do Centro de Lançamento.

Empolgado com o acordo e em contato direto com quilombolas que o aplaudiam, o presidente Lula da Silva declarou: “A história de Alcântara mudou e a história do povo de Alcântara vai mudar. Agora que nós conseguimos regularizar as centenas de comunidades, temos a obrigação de dar sequência à titularização assinada hoje”.

Na mesma toada, o governador Carlos Brandão se manifestou: “O lançamento de foguetes é um projeto importante para desenvolvimento do nosso país e do mundo, mas aqui não podemos apenas ver foguetes subindo e a comunidade sem participar desse projeto”. E acrescentou: “É motivo de muita alegria saber que o Brasil e o mundo estão voltados para Alcântara”.

Dino defende uso de créditos extraordinários contra incêndios comparando situação a uma guerra

Flávio Dino compara as queimadas
no Brasil a uma situação de guerra

Depois de ter sido atacado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o mais ativo porta-voz da direita liberal e do chamado “mercado”, pelo fato de haver determinado que o Governo Federal usasse recursos extraordinários necessários, sem considerar o teto fiscal, na luta contra os incêndios que devastam biomas em todas as regiões do país, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, disse ontem que o combate aos incêndios deve ser comparado a uma guerra. Durante uma audiência de conciliação entre governadores e representantes das regiões da Amazônia e do Pantanal, mais afetadas pelos incêndios, o ministro assinalou que se os fluxos de destruição ambiental não forem revertidos, os dois biomas, bem como a população e o país “estarão ameaçados”. E acrescentou: “Estamos cuidando da fauna, flora, da vida e da economia brasileira”.

O ministro Flavio Dino defendeu sua decisão de determinar o uso de créditos extraordinários para combater os incêndios sem submeter esses créditos ao teto fiscal. E afirmou que nunca viu “na história dos povos alguém parar guerra por causa de teto fiscal”. O ministro comparou a situação a um cenário de invasão de guerra com a tomada de cidades por fumaças causadas pelos incêndios.

— Fiquei espantado porque parece, nos últimos dias, que eu que inventei o crédito extraordinário. Quem inventou foi a Constituição. Há uma outra falácia sobre o alcance de metas fiscais em razão do crédito extraordinário. Convido a uma reflexão coletiva, porque quando nós analisamos a Constituição, estamos versando sobre crédito extraordinário visando atender guerras, comoção interna e calamidade pública. Eu nunca vi na história dos povos alguém parar uma guerra por teto fiscal. Ninguém conhece. E quando se trata de evitar a invasão das nossas cidades por fumaça, que pessoas morram, que a fauna e flora pereçam há essa ideia de que teto extraordinário são jungidos. (Com informações de O Globo)

São Luís, 20 de Setembro de 2024.

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