.Quando foram às urnas, em 2014, como candidatos ao parlamento, vários deputados hoje eleitos tinham um projeto mais audacioso: disputar o cargo de prefeito nas suas bases eleitorais mais importantes. E passado o primeiro mês de funcionamento da nova Assembleia Legislativa, evidenciam-se sinais fortes de que boa parte da legislatura 2015/2016 será voltada para um amplo debate, alguns com ares de confronto, entre adversários, tendo como pano de fundo as eleições municipais do ano que vem. Essa guerra, cuja deflagração era esperada para o segundo semestre deste ano, foi deflagrada ontem, numa dura troca de acusações entre os deputados interessados, direta e indiretamente, na Prefeitura de Bacabal: Roberto Costa (PMDB), Carlinhos Florêncio (PHS), Rigo Teles (PV) e Vinícius Louro (PR).
Somados os ataques e as defesas, os quatro deputados, em especial os dois primeiros, passaram pelo menos três horas na tribuna. Os ânimos não chegaram a esquentar de maneira a se tornarem incontroláveis, mas a troca de acusações entre Roberto Costa e Carlinhos Florêncio foi dura, num indicativo inequívoco de que eles caminham para se tornar candidatos à Prefeitura de Bacabal, e que até a campanha eleitoral ainda trocarão muita munição verbal, transformando a tribuna do Palácio Manoel Bequimão num palanque ao mesmo tempo agitado e privilegiado. Rigo Teles e Vinícius Louro entraram – e deverão permanecer – no confronto Costa-Florêncio como coadjuvantes, mas fazendo sua parte como parlamentares bem votados naquele município. E o tempo dirá ao lado de quem cada um se posicionará.
A centelha da deflagração foi um pedido de Carlinhos Florêncio para ser incluído numa comissão parlamentar que irá a Bacabal verificar o andamento de uma obra de drenagem e outros problemas na cidade, organizada a pedido de Roberto Costa. No seu discurso inicial, Florêncio, que raramente se manifesta, disparou uma série de acusações contra Costa, entre elas a de que o pemedebista cobra agora do Governo Flávio Dino, que tem pouco mais de dois meses, o que não cobrou do Governo Roseana Sarney (PMDB) em quatro anos. E concluiu dizendo que só agora Costa estaria “olhando para Bacabal”.
Incontinenti, Roberto Costa foi à tribuna e rebateu, um por um, os ataques de Carlinhos Florêncio, e emendou com um rosário de acusações ao deputado do PHS, entre elas a de que no mandato passado “ele simplesmente nada fez por Bacabal, tanto é verdade que sua votação lá caiu de 11 mil para quatro mil votos”. Costa foi mais longe e desafiou Florêncio a mostrar o que fez por Bacabal, apresentar as emendas com recursos que levou para o município, e prosseguiu dizendo: “Ele não pode responder, porque ele nada fez, não tem emendas para Bacabal”. Costa acusou Florêncio de estar tentando se reabilitar em Bacabal, para lançar a si próprio ou o seu filho, o vereador Florêncio Neto, candidato a prefeito.
Houve ainda tréplica e a participação dois deputados, Vinícius Louro, que falou dos problemas da cidade, e Rigo Teles, que sem muita ênfase acusou Roberto Costa de se posicionar contra o atual prefeito bacabalense, José Alberto (PMDB), mas não foi além disso.
O pano de fundo do confronto é óbvio: os deputados Roberto Costa e Carlinhos Florêncio são candidatíssimo à Prefeitura de Bacabal. Roberto Costa como representante do grupo liderado no município pelo senador João Alberto (PMDB) e que tem tido participação decisiva no processo político naquele município desde as eleições de 1988, quando o próprio João Aberto se licenciou do cargo de vice-governador para disputar e vencer a eleição num confronto com o seu maior adversário na época: o deputado estadual Bete Lago, ex-pemedebista então filiado ao PDT. De lá para cá, o grupo de João Alberto teve altos e baixos: venceu em 1992 com Jocimar Alves (PMDB); em 96 foi eleito Zé Vieira, que se reelegeu em 2000; em 2004 foi eleito Raimundo Lisboa (PDT), que se reelegeu em 2008. Somente em 2012 o grupo voltou ao comando com a eleição de José Alberto (PMDB). Um dos deputados mais ativos da sua geração, Roberto Costa preside o PMDB de São Luís, foi candidato a vice-prefeito da capital em 2008 na chapa do candidato Ricardo Murad; se elegeu deputado em 2010 com 45 mil votos, para se tornar um dos homens de proa do Governo Roseana Sarney, de quem foi secretário dos Esportes e Juventude, e depois um dos principais líderes da bancada governista. Se reelegeu em 2014 com 57 mil votos.
Carlinhos Florêncio, por seu turno, entrou na política como candidato a deputado estadual em 2010, se elegendo com 33 mil votos, com o apoio da região do Médio Mearim, tendo Bacabal como sua principal base. Membro de uma tradicional família de empresários, que se notabilizou atuando no ramo dos transportes, com a Empresa Florêncio, e que hoje atua em várias frentes, como o comércio, a agricultura, a pecuária e o setor hospitalar, Carlinhos Florêncio teve uma atuação discreta, mas politicamente eficiente, no seu primeiro mandato parlamentar, reelegendo-se em 2014 com 42 mil votos.
Além da sua função legislativa formal, o parlamento estadual é um fórum legítimo e especial para se debater problemas municipais. A rigor, isso já acontece na Casa de Manoel Bequimão, uma vez que mais da metade dos discursos ali pronunciados até agora teve como tema agruras municipais. Um exemplo: nesses primeiros 40 dias de funcionamento da Assembleia Legislativa na nova legislatura, mais de duas dezenas de discursos foram feitos sobre os problemas de São Luís – dois deles, feitos pelo deputado Edivaldo Holanda (PST) em defesa da gestão do prefeito Edivaldo Jr. (PST), consumiram quase quatro horas de tribuna. Edivaldo Holanda tenta turbinar a caminhada do filho para a reeleição.
O confronto entre Roberto Costa e Carlinhos Florêncio mirando a Prefeitura de Bacabal é apenas o primeiro de uma série que certamente eclodirá a partir de agora.
Em tempo: se a briga pela Prefeitura de Bacabal, nono município do estado com 103 mil habitantes começa com esse nível de confronto, dá para imaginar o que vem por aí em relação a São Luís, Imperatriz, Timon, Caxias, São José de Ribamar, Codó e Paço do Lumiar, entre outros.
PONTOS & CONTRAPONTO
Lobão fala I
O senador Edison Lobão (PMDB) rompeu ontem o silêncio que vinha mantendo em relação à inclusão do seu nome na lista de suspeitos de envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobras e que serão investigados pelo Supremo Tribunal Federal a partir de uma lista encaminhada àquela Corte de Justiça pelo procurador geral da República, Rodrigo Junot. A manifestação ocorreu na tribuna do Senado, no início da noite, e Lobão foi enfático: “Hoje ocupo essa tribuna para repudiar com toda veemência, com toda indignação, a tentativa de envolvimento de meu nome, sem nenhuma prova, no escândalo de corrupção que abala a nossa maior empresa estatal, a Petrobras”. No seu rápido discurso, feito após a bancada do PMDB ter confirmado sua escolha para presidir a Comissão de Assuntos Sociais do Senado, o senador e ex-ministro de Minas e Energia foi enfático ao negar qualquer envolvimento seu no esquema de corrupção da Petrobras e disse que nada tem a temer.
Lobão fala II
Também no seu discurso, o senador Edison Lobão foi incisivo ao afirmar que não indicou nenhum dos diretores da Petrobras envolvidos no esquema de corrupção. Observou que no seu depoimento o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, teria dito que ele, Lobão, como membro da cúpula do PMDB, confirmara sua indicação em 2006. O senador disse ter sido isso impossível, por que naquele ano ele ainda não pertencia ao PMDB, o que só aconteceu em 9 de setembro de 2007, quando ele se filiou ao partido: “Nenhum foi nomeado por mim ou indicado por mim. Um dos delatores teria dito que, como integrante da cúpula do PMDB eu sacramentara em 2006 o apoio à manutenção do sr. Paulo Roberto Costa na diretoria da empresa. É mentira! Em 2006 eu sequer era filiado ao PMDB, o que só vim a fazer no dia 9 de setembro de 2007!”. Lobão se disse confiante de que nada surgirá contra ele.
Dois a favor, uma nem tanto
Os três deputados maranhenses que integram a CPI da Petrobras – Aluísio Mendes (PSDC), Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS) se manifestaram ontem na reunião em que a Comissão ouviu o depoimento do presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que voltou a desqualificar a lista de suspeitos do procurador geral da República, Rodrigo Junot, e declarando-se vitima de injustiça. Aluísio Mendes elogiou rasgadamente a iniciativa de Cunha, e declarou: “Presidente, o senhor sai desta comissão muito maior do que entrou”. Weverton Rocha elogiou o presidente da Câmara e declarou: “Os culpados têm de ser punidos”. E Eliziane Gama foi mais comedida nos elogios, tratou Eduardo Cunha sem jogar-lhe confete, e lembrou que uma investigação está em curso. Na contramão dos que elogiaram e declararam apoio incondicional ao presidente da Câmara Federal, a deputada do PPS disse que Eduardo Cunha terá de provar que é inocente.
Cobrança à OAB
O líder do movimento de oposição “Ordem e Mudança 2015”, advogado Charles Dias, que se lançou pré-candidato a presidente da Seccional da OAB no Maranhão, divulgou ontem nota em que critica duramente a atual diretoria da instituição, que no seu entendimento deveria se manifestar em relação ao esquema de corrupção na Petrobras. Diz o comunicado do movimento sobre o assunto: “A OAB-MA não poderia se omitir de posicionar-se publicamente sobre o “maior caso de corrupção da história do Brasil”, como tem sido classificado o Petrolão pelos órgãos de imprensa nacional e internacional. É inadmissível que a OAB permaneça inerte, calada e de braços cruzados diante de tantos achaques ao modelo republicano, democrático e de império da Lei, a sinalizar que o saque à sociedade de economia mista seja um simples crime, mormente porque os (supostos) beneficiários são detentores de mandatos eletivos ou indicações políticas”. Na sua cobrança, Charles Dias insinua que a não manifestação da seccional maranhense tem a ver com o fato de que os suspeitos são o senador Edison Lobão (PMDB), a ex-governadora Roseana Sarney e o deputado federal Waldir Maranhão (PP).
Saiu do sério
A deputada Andrea Murad (PMDB) conseguiu ontem o que vinha tentando há tempos: tirar o líder do Governo, deputado Rogério Cafeteira (PSC), do sério, levando-o a protagonizar um gesto de indelicadeza. A deputada cobrara, mais uma vez, explicações do líder para uma compra de leite especial sem licitação, para atender a uma emergência, e o fato de a licitação para regularizar a compra do produto ter sido marcada para o dia 15, um domingo. Demonstrando ter perdido a paciência, Rogério Cafeteira foi à tribuna e dali sugeriu que a parlamentar, quando for comprar perfumes e maquiagem, adquira produtos que “tenha óleo de peroba” na sua composição. A reação do líder foi vista como uma grosseria, principalmente por tratar-se de uma deputada, e a alguns minutos da realização de uma sessão especial dedicada às mulheres. O episódio fez com que muitos do que o assistiram interpretassem a reação do deputado do PSC como inadequada para um líder de Governo. Outros avaliam que a deputada conseguiu o que queria: fustigar o governo.
São Luís, 12 de Março de 2015.