A chegada do novo coronavírus ao Maranhão e seu alastramento pelo interior, se por um lado mergulhou os partidos políticos na incerteza em relação às eleições municipais, criando um clima de desânimo em época de pré-campanha, por outro injetou gás em prefeitos de grandes municípios e candidatos à reeleição. Alguns andavam mal das pernas na caminhada para as urnas e viram na pandemia a oportunidade de mostrar serviço e fortalecer seu projeto para renovar o mandato. Outros, que já se movimentavam com boa avaliação, estão aproveitando a guerra à Covid-19 para ampliar ainda mais o seu lastro de favoritismo. Esses movimentos são claramente observados nos prefeitos de Imperatriz, Assis Ramos (DEM), de Caxias, Fábio Gentil (Republicanos), de São José de Ribamar, Eudes Sampaio (PTB), de Paço do Lumiar, que vivem situações diferentes, mas enquadradas no cenário político e eleitoral que está sendo discretamente desenhado em meio à crise sanitária que afeta duramente o Maranhão e o resto do mundo.
O caso mais emblemático envolve o prefeito de Imperatriz, Assis Ramos, delegado de Polícia que chegou ao comando do segundo maior e mais importante município do Maranhão como um sopro de renovação, mas que perdeu consistência, prestígio político e apoio eleitoral ao longo de uma administração sem maior brilho. As primeiras pesquisas sobre a corrida eleitoral o mostraram em 3º lugar, bem atrás do deputado estadual Marco Aurélio (PCdoB) e do ex-prefeito Ildon Marques (PSB), e seriamente ameaçado pelo ex-prefeito Sebastião Madeira (PSDB). A pandemia impôs freio à corrida eleitoral, dando a Assis Ramos fôlego para atrair os holofotes com medidas de combate ao coronavírus. Adversários seus dizem que ele está perdendo a guerra para a covid-19 e sem chances de reeleição, enquanto aliados voltaram a acreditar na possibilidade de uma reviravolta que o faça apostar na reeleição.
O prefeito de Caxias, Fábio Gentil, que já vinha com avaliação altamente positiva e liderando a corrida à reeleição, tem encarado a pandemia com eficiência administrativa. Foi cuidadoso nas medidas de isolamento social, tomou as providências possíveis no campo da estrutura hospitalar, e até o momento não cometeu qualquer derrapagem. Político forjado e com larga militância na famosa escola caxiense, cuja principal característica é o embate duro e implacável, Fábio Gentil sabe o que faz na condução da crise sanitária e onde pisa na estrada que leva às urnas caxienses. Tem como adversário o deputado estadual Adelmo Soares, lançado pelo PCdoB com o suporte político e eleitoral do Grupo Coutinho, que também pisou de leve no freio da pré-campanha. Quem conhece o tabuleiro da política caxiense arrisca a previsão de que o prefeito Fábio Gentil sairá da crise política e eleitoralmente mais forte.
Embalado há tempos na corrida à reeleição, agora no comando da poderosa estrutura política alimentada pelo ex-prefeito Luís Fernando Silva, o prefeito Eudes Sampaio está encarando o coronavírus em São José de Ribamar com a disposição e a visibilidade de quem está, de fato, a caminho das urnas. Todas as providências que tem tomado para combater a pandemia é divulgada com ênfase, sempre com ele à frente. As pesquisas de intenção de voto o colocam em vantagem segura em relação ao seu principal adversário, o ex-deputado Jota Pinto (PDT), que não exibiu até agora poder de fogo para entrar na briga. Outros adversários, como os Cutrim, pelo menos até agora não exibem disposição para entrar na briga. O contexto, mesmo com a crise, é inteiramente favorável ao prefeito Eudes Sampaio.
Vários outros prefeitos de grandes municípios, como o de Pinheiro, Luciano Genésio (Progressistas), o de Bacabal, Edvan Brandão (PSC), de Codó, Francisco Nagib (PDT), e de Chapadinha, Magno Bacelar (PV), enfrentam situação idêntica, com a diferença que esses enfrentam adversários fortes, com sangue nos olhos e faca nos dentes, dispostos a jogar tudo para destroná-los. Os resultados das suas ações contra o novo coronavírus poderão embalá-los ou inibir suas marchas em direção às urnas.
PONTO & CONTRAPONTO
Maranhão vai dar o primeiro passo para reabrir a economia e voltar à vida normal
O Maranhão se prepara para dar mais um passo no sentido de voltar à normalidade em meio ao sufoco causado pela invasão do novo coronavírus. Esse movimento, que será decisivo porque indica que a pandemia ainda vai dar muito trabalho, mas já está sob controle na Ilha de Upaon Açu, foi anunciado ontem pelo governador Flávio Dino (PCdoB).
O processo de distensão, que deve durar 45 dias, vai começar na segunda-feira (25) com a reabertura de pequenas empresas comerciais de base familiar. O funcionamento será permitido com a adoção de rígido protocolo que prevê uso de máscara e distanciamento social.
Sempre deixando claro que não se trata de “liberou geral”, o governador Flávio Dino anunciou também que outras empresas poderão reabrir no dia 1º de junho, desde que apresentem protocolo de funcionamento. Esses protocolos devem ser acertados com as Secretarias de Indústria e Comércio e de Direitos Humanos, que os encaminharão à Casa Civil, onde serão submetidos ao crivo de equipe técnica da Secretaria de Saúde.
Com essas medidas, que foram tomadas com base nos indicadores de que, respeitados os protocolos e as regras gerais ainda vigentes, as atividades econômicas poderão ser retomadas integralmente até o início de Julho. Mas com o alerta de que ninguém pode baixar a guarda para a covid-19.
Adiamento do Enem é decisão justa contra a desigualdade escolar
Sensata, sob todos os aspectos, a decisão do MEC de adiar o Enem por até 60 dias. Seria uma injustiça imperdoável manter o calendário com o aprofundamento do abismo que separa estudantes da rede pública dos da rede privada. Essa distância foi agravada quando as escolas foram fechadas em março por causa da pandemia do novo coronavírus. Os estudantes da rede privada, usando lap tops, tabletes e celulares poderosos, mantiveram o calendário escolar com atividades escolares diárias via internet. Esse benefício não alcança um terço dos estudantes da rede pública, que esses equipamentos, portanto sem orientação, buscam atualização nos mais diversos canais de informação, sem que isso resolva a grave desigualdade na preparação desses estudantes, que já é grave em situação normal. Com o adiamento, o estudante da rede privada leva vantagem do mesmo jeito, com a diferença de que o aluno sem recursos da escola pública ganha tempo para pelo menos completar sua formação escolar.
São Luís, 21 de Maio de 2020.