A distorcida e, na visão de muitos, inaceitável orientação ideológica que vem norteando os passos do PTB, um partido que nasceu na centro-esquerda, o está transformando numa agremiação de extrema-direita, porta-voz do que há de mais radicalmente conservador no contexto partidário-ideológico nacional. O mais nítido exemplo dessa assombrosa guinada, concebida e posta em prática pelo seu presidente, ex-deputado federal Roberto Jefferson, está acontecendo exatamente no Maranhão. A reviravolta começou no ano passado, com a destituição do deputado federal Pedro Lucas Fernandes da presidência regional, que foi entregue à deputada Mical Damasceno, ontem tornada chefe nacional do PTB Mulher, substituída no comando estadual pelo deputado federal Josivaldo JP, que saiu do Podemos. As manobras, comandadas pela presidente nacional temporária Graciela Nienov, uma espécie versão feminina de Roberto Jefferson – que está preso por atos antidemocráticos –, ignoraram ostensivamente o prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim, pré-candidato a governador e o mais expressivo nome do partido hoje no Maranhão.
As mudanças, feitas pelo comando nacional petebista com o objetivo de varrer resistências e colocar o partido inteiramente à serviço do bolsonarismo, atiraram o velho e outrora influente PTB no limbo da política estadual. O ponto a assinalar é a inexpressividade política e eleitoral dos atuais dirigentes do partido, o agora presidente deputado federal Josivaldo JP e a deputada estadual Mical Damasceno, que nada sabem sobre o trabalhismo que inspirou surgimento do partiddo.
O comerciante Josivaldo JP se tornou deputado federal com apenas 23.113 votos recebidos em 2018, concorrendo pelo PHS numa aliança que incluiu o PMN liderado por Eduardo Braide, que saiu das urnas com nada menos que 189.843 votos. Com a sua votação, Josivaldo JP jamais teria condições de ascender à Câmara Federal, mas a eleição de Eduardo Braide para a Prefeitura de São Luís lhe abriu a “porta da esperança”. Ficou tão entusiasmado que se filiou ao Podemos seguindo Eduardo Braide. Na Câmara, se alinhou automaticamente a banda bolsonarista, cumprindo sem discutir as orientações do Palácio do Planalto, o que o tornou um defensor de proa do Governo Bolsonaro. Essa posição causou desconforto no Podemos e a sua permanência no partido se tornou impossível depois da escolha do ex-ministro Sérgio Moro como candidato à presidência da República.
O convite para se filiar ao PTB e assumir o comando do partido no Maranhão foi uma espécie de tábua de salvação e, vale anotar, uma saída por cima diante da situação em que se encontrava no Podemos. O comando do PTB avalia que lucrou ganhando um deputado federal e colocando um bolsonarista roxo à frente do PTB maranhense.
A deputada Mical Damasceno foi eleita em 2018 para a Assembleia Legislativa pelo PTB com módicos 30.693 votos, notabilizando-se pelo agressivo discurso que mistura ação parlamentar com práticas evangélicas – ela costuma cantar louvores na tribuna, por exemplo. Nessa linha, revelou-se um quadro da direita radical, que a levou naturalmente para as fileiras do bolsonarismo. Eleita na aliança liderada pelo governador Flávio Dino (PSB), ela se manteve por meses como aliada do Palácio dos Leões, do qual se distanciou aos poucos para assumir a linha bolsonarista radical pregada pelo comando nacional do PTB. E não deu outra: Mical Damasceno foi alçada ao comando do PTB do Maranhão com a destituição do deputado federal Pedro Lucas Fernandes, eleito em 2018 com 111.538 votos, por haver ele se posicionado contra projetos do Governo. O comando do PTB Mulher foi um prêmio de consolação pela destituição da presidência estadual.
É surpreendente ver um partido que já teve nos seus quadros nomes como Epitácio Cafeteira, Cesário Coimbra, Manoel Ribeiro, Pedro Fernandes e Pedro Lucas Fernandes, todos de grande expressão política e denso suporte eleitoral, estar hoje reduzido ao deputado federal Josivaldo JP e à deputada Mical Damasceno, os quais, somados, representam menos de 55 mil votos. E ainda esnobe um prefeito reeleito, e que está entre os quatro pré-candidatos assumidos ao Governo do Estado.
PONTO & CONTRAPONTO
Othelino Neto propõe Passaporte da Vacina no estado
Se a Assembleia Legislativa aprovar o Projeto de Lei Nº 001/2022, proposto ontem pelo seu presidente, deputado Othelino Neto (PCdoB), o Maranhão vai dar mais um passo civilizado na luta coletiva contra a Covid-19. O PL institui o Passaporte da Vacina, ou seja, a obrigatoriedade de apresentação do comprovante de imunização para acesso a bares, restaurantes, hotéis, pousadas, academias e eventos coletivos de maneira geral.
O PL institui que o documento físico ou eletrônico comprovando a vacinação deve ser exigido pelos estabelecimentos a todos os cidadãos que, de acordo com a sua idade, já estejam autorizados a tomar o imunizante contra o coronavírus. Aqueles que, por motivos médicos, não podem tomar qualquer tipo de imunizante deverão comprovar essa condição para ter acesso aos estabelecimentos ou eventos. Mais: caberá aos responsáveis pelos estabelecimentos a cobrança do Passaporte da Vacina, que pode ser emitido pela autoridade sanitária de cada município ou pelo Governo Federal por meio da plataforma ConecteSUS, do Ministério da Saúde.
Os argumentos do presidente da Assembleia Legislativa são indiscutíveis: resguardar a saúde dos maranhenses e incentivar a vacinação diante do aumento do número de casos de contaminação pela variante Ômicron do coronavírus.
– A vacinação é que tem contribuído para que não tenhamos casos graves de Covid-19 e mais internações nas unidades de saúde. Por isso, a exigência do Passaporte da Vacina para acesso aos estabelecimentos e eventos que reúnam grande público é fundamental, principalmente para estimular aqueles que ainda não se vacinaram a buscarem a imunização – justificou o deputado Othelino Neto.
O PL deve ser votado no início de Fevereiro.
Livre do novo coronavírus, Dino retoma rotina administrativa e articulações políticas
Após vencer o coronavírus, o governador Flávio Dino está de volta à rotina de trabalho administrativo e às tratativas políticas. Administrativamente, deve cumprir por enquanto uma agenda mais leve de audiências e despachos presenciais, não devendo retomar de imediato sua programação de inaugurações nas mais diferentes regiões do estado. Politicamente, vai continuar conversando sobre a sucessão estadual e sua candidatura ao Senado, e no plano nacional, defendendo uma ampla aliança em torno do ex-presidente Lula (PT), ao mesmo tempo em que continuará exercendo sua visão crítica em relação ao Governo Bolsonaro e a atos do próprio presidente da República. No plano estadual, o compromisso mais importante do governador está agendado para o dia 31 de Janeiro, quando reunirá os partidos da aliança que lidera para bater definitivamente o martelo sobre quem será o candidato governista à sua sucessão, o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) ou o senador Weverton Rocha (PDT). Até lá, o chefe do Executivo estadual intensificará as conversas em busca de uma candidatura de consenso.
São Luís, 14 de Janeiro de 2022.