A pancada: “Bolsonaro ataca (Flávio) Dino e diz que chefes comunistas geralmente são gordos” (UOL Notícias).
A rebordosa: “Piada, além de sem graça, repetida. Compatível com a notória escassez de neurônios do indivíduo. Ao bisonho e fracassado ´piadista`, faço uma conclamação: Vai trabalhar”.
A pancada e a devida rebordosa têm sido as únicas formas de comunicação presidente Jair Bolsonaro (PL)-governador Flávio Dino (PSB) e são reveladoras da enorme distância que separa os dois chefes de Estado em matéria de educação, cultura, formação política e postura institucional. Uma análise isenta de todos os posts do presidente da República em relação ao governador do Maranhão revelará a intenção clara de ataque agressivo dirigido a um inimigo que não merece respeito. No contraponto, os postes do governador do Maranhão alvejam o presidente da República de maneira dura, implacável, mas quase sempre pelo viés crítico relacionado com gestão, derrapagens administrativas, agressividade política e escorregões éticos.
É óbvio que quando aponta o governador Flávio Dino como um “chefe comunista gordo”, o presidente não está fazendo uma mera analogia física. Radical de direita, tenta, sem sucesso, usar a ironia para desmerecer a esquerda. Suas palavras, porém, só conseguem externar uma agressividade seca, ostensiva, destinada a ofender a pessoa e não o político. E tem sido assim, como ficou cristalizado no espantoso documento de 2019, quando, momentos antes de uma reunião com governadores no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro soprou no ouvido do então ministro da Casa Civil, Onix Lorenzoni, sem se dar conta que o microfone estava aberto: “Esse Flávio Dino é o pior dos governadores de paraíba. Não tem que dar nada para esse cara”.
Os três anos de “convivência” revelaram um quadro que muitos bolsonaristas reconhecem e concordam: o presidente Jair Bolsonaro não é páreo para o governador Flávio Dino num debate aberto, franco e civilizado sobre o Brasil e seus problemas sociais, políticos, econômicos e culturais. Seu nível de informação é primário, que não lhe permite avançar além do óbvio numa conversa que exija conhecimentos. E quando chega ao seu limite, o que acontece rapidamente numa discussão sobre qualquer tema que o presidente da República tem a obrigação de dominar, ele sempre tangencia e parte para a agressão e para o xingamento. O capitão mandato para a reserva por insubordinação conseguiu unir o seu temperamento agressivo e impulsivo com a sua notória ignorância cultural para armar uma estratégia, que aprimorou nas conversas com apoiadores no “Cercadinho” da saída do Palácio da Alvorada, via de regra usando jornalistas como alvos de agressões. Um debate entre os dois o deixaria fora de eixo em muito pouco tempo.
Situado politicamente na oposição, o governador Flávio Dino tem sido um crítico implacável do presidente Jair Bolsonaro e do seu Governo, disparando petardos robustos e ferinos sobre gestos, posturas, medidas e decisões do chefe da Nação que considera equivocados, contrários aos interesses da maioria. O elenco de exemplos é vasto, mas com uma diferença essencial em relação à maneira como o presidente atua: ainda que aqui e ali o adjetive duramente – na rebordosa de ontem o chamou de “bisonho” -, o governador do Maranhão não agride o presidente com termos impróprios ou chulos. Tudo o que escreve e divulga nas suas redes sociais se encaixa no contexto. A rebordosa de ontem do governador à pancada desferida pelo presidente foi uma reação na medida certa a uma agressão gratuita e preconceituosa, absolutamente desnecessária, portanto.
Esse embate vai continuar por, pelo menos, mais um ano, devendo ser intensificado nos próximos meses, quando a campanha eleitoral estimulará confrontos dessa natureza. E a julgar pelo que prenunciam as pesquisas, o bateu-levou será certamente protagonizado por um Jair Bolsonaro muito mais agressivo diante do risco anunciado de ser mandado para casa, e um Flávio Dino candidato a senador apontado como favorito. E depois, cedo ou tarde, a história vai documentar que, inspirado nos ensinamentos do coronel-torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, o presidente Jair Bolsonaro foi agressivo e primário com o governador Flávio Dino, que nas suas reações demonstrou a face dura de um político civilizado, mas “sem jamais perder a ternura”, como ensinou o revolucionário Che Guevara.
PONTO & CONTRAPONTO
Racha no Cidadania sobre corrida sucessória ainda não foi resolvido
Os movimentos da senadora Eliziane Gama para mudar o posicionamento do seu partido, o Cidadania, em relação à corrida sucessória estadual ainda não produziram qualquer resultado. O cenário é o seguinte: tão logo a senadora se posicionou a favor do projeto de candidatura do senador Weverton Rocha (PDT), a Executiva estadual do partido, presidida pelo pastor Eliel Gama, seu irmão, declarou alinhamento à pré-candidatura do vice-governador Carlos Brandão (PSDB). O racha instalou uma crise no partido, mas revelou que a senadora é minoria no comando partidário, ainda que seja, de longe, a grande estrela da agremiação. O fato é que a reação da senadora, ameaçando inclusive, pedir a intervenção da Executiva nacional na secção maranhense, não foi suficiente para mudar o quadro. Com o cuidado de evitar desgaste com um pedido de intervenção, que exporia a fragilidade da sua liderança, a senadora Eliziane Gama decidiu buscar outros caminhos para reverter a situação. Enquanto isso, ela mantém sua escolha reafirmando apoio ao colega Weverton Rocha, enquanto o presidente Eliel Gama reafirma o apoio do partido a Carlos Brandão. Há quem diga que em breve conseguirão superar a crise com um acordo bem amarrado. Há, porém, quem diga que não.
Separação não acaba parceria política do ex-casal Tema
A separação do casal Tema não desmanchará – pelo menos por enquanto – a parceria política da deputada Daniela Tema (DEM) com o ex-prefeito de Tuntum, Cleomar Tema (PSB). Com o cartel de um bom mandato exercido na Assembleia Legislativa, onde debateu temas atuais, principalmente relacionados com saúde e mulher, a deputada Daniela Tema se movimenta em busca de um novo mandato. Conta com o apoio do ex-marido, prefeito de Tuntum por cinco vezes, e líder político influente na região do Médio Sertão, onde a parlamentar tem a sua principal base de atuação. Cleomar Tema é também um dos coordenadores da pré-campanha do vice-governador Carlos Brandão (PSDB). Disputar mandato parlamentar estadual é sempre difícil, mas a informação corrente no meio político é a de que a deputada Daniela Tema tem autoridade para pedir votos para sua reeleição.
São Luís, 12 de Janeiro de 2022.