Mesmo tendo conseguido a importante declaração de apoio do presidente nacional e candidato do PSDB a presidente da República Geraldo Alckmin, o ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares ainda terá de fazer alguns movimentos bem pensados para debelar de vez a crise que o envolve no ninho dos tucanos, para garantir a vaga de candidato s senador pelo partido. Do alto da sua experiência e do prestígio que desfruta dentro e fora do grupo a que pertence, o ex-governador precisa acertar os seus ponteiros com o presidente regional do PSDB e candidato do partido ao Governo do Estado, senador Roberto Rocha, e com o secretário geral do partido, Sebastião Madeira, e enquadrar-se na agenda do partido de agora por diante. Os hematomas que ficaram dos embates travados recentemente dentro da agremiação por conta dos desvios de rota, causados por seu projeto de estimular o deputado estadual Eduardo Braide (PMN) a lançar-se candidato a governador, ainda estão visíveis, e não será uma declaração de apoio de Geraldo Alckmin que os fará desaparecer. A crise intestina do PSDB maranhense só será resolvida com muita conversa e a construção da clássica postura do um por todos e todos por um.
Não há qualquer discordância em relação ao fato inquestionável de que o ex-governador José Reinaldo foi o grande articulador e avalista do movimento que derrotou o Grupo Sarney na histórica eleição de 2006, na qual o ex-prefeito de São Luís Jackson Lago (PDT) venceu a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) na disputa pelo Governo do Estado, seja merecedor de todas as atenções e concessões no campo político que está no poder e seus ex-aliados. Essa história o tornaria candidato natural a senador por qualquer partido ou grupo que fez parte daquele movimento, que se consolidou em 2014 com a eleição do governador Flávio Dino (PCdoB), também apoiada pelo ex-governador.
Ocorre que e política as coisas mudam com muita velocidade e a fila anda com a mesma intensidade, e quem não se antena perde o timing e fica para trás. E foi exatamente o que aconteceu agora com o ex-governador. Ele não articulou bem a candidatura, permaneceu muito tempo amarrado na indefinição partidária e achou que, independente de qualquer circunstância, teria garantida uma vaga de candidato a senador na chapa majoritária liderada pelo governador Flávio Dino. Não se deu conta de que políticos arrojados e partidariamente bem articulados, como os deputados federais Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS), têm pressa e não perderiam o bonde da história abrindo mão dos seus projetos por consideração ao ex-governador, pois sabem que a política é uma atividade extremamente pragmática e não comporta tal postura. E mesmo alertado por aliados de primeira hora, como o prefeito de Tuntum e presidente da Famem Cleomar Tema (PSB), que chegou a organizar um grande movimento de prefeitos para apoiá-lo, o ex-governador alimentou, movido às vezes por mera teimosia, uma inexplicável indefinição partidária. E não interpretou corretamente os sinais que lhe firam dirigidos pelo governador Flávio Dino.
A decisão de incentivar o deputado estadual Eduardo Braide (PMN) a se lançar candidato a governador quando o partido que o acolheu, o PSDB, já tinha candidato ao Governo escolhido, deixou atônito o meio político, como era previsível, e abriu uma crise dos diabos dentro do ninho dos tucanos, que vinha conseguindo se ajustar depois de romper com o governador Flávio Dino. Para o presidente e candidato tucano ao Governo, senador Roberto Rocha, e o secretário geral Sebastião Madeira, é inadmissível aceitar tal situação dentro do partido, ainda que o pivô de tal crise seja o ex-governador José Reinaldo Tavares. A reação da cúpula tucana aos movimentos do neotucano se deu exatamente na medida do estrago que a iniciativa causaria ao projeto do partido.
José Reinaldo finalmente se deu conta de que estava mergulhando no isolamento, tentou em vão alguns lances para reverter a crise. Não funcionou. Bateu, finalmente, às portas de Geraldo Alkmin, seu amigo, que lhe deu a última chance apoiando-o na disputa pela vaga de candidato a senador. A atitude do presidente nacional do PSDB não garante a vaga de candidato ao ex-governador, que terá de disputá-la com o deputado federal Waldir Maranhão, o que torna o desfecho dessa opereta rigorosamente imprevisível.
PONTO & CONTRAPONTO
Márcio Jardim joga ultima cartada para ser candidato a senador na aliança dinista
Daqui até o dia 28, quando ocorrerem as convenções dos partidos que formam a aliança que liderará na corrida eleitoral, o governador Flávio Dino será obrigado a conviver com lances de provocação saídos das entranhas do PT. O mais recente foi o manifesto lançado pelo ex-secretário estadual de Esportes, Márcio Jardim, que reafirmou sua pressão para que o PT o lance candidato a senador. Com o cacife de militante petista de primeira linha – juntamente com Domingos Dutra, hoje no PCdoB e prefeito de Paço do Lumiar, e Francisco Gonçalves, que continua petista e comanda a Secretaria de Combate à Pobreza e Mobilização Social – Márcio Jardim é embalado ainda pelo argumento de que foi um dos líderes da banda petista que se rebelou à decisão da cúpula nacional do partido de aliar-se ao Grupo Sarney no Maranhão. Seu pleito conta com o apoio da maioria dos petistas maranhenses, mas esbarra numa estratégia equivocada do PT para se posicionar sobre essas questões quando a situação já caminhava para uma definição. Ao contrário do PDT, que se posicionou sobre a candidatura de Weverton Rocha desde o primeiro ano do Governo Flávio Dino, posição seguida pelo PPS em relação ao projeto senatorial de Eliziane Gama, o PT avaliou que o ex-presidente Lula da Silva permaneceria livre e seria candidato a presidente sem maiores problemas, o que influiria decisivamente nas condições do seu ingresso na aliança dinista. A condenação e a prisão do ex-presidente mudou tudo, obrigando o partido a se movimentar num jogo de pressões.
Rumores: Domingos Dutra poderá apoiar Sarney Filho em Paço do Lumiar
São fortes os rumores de que o prefeito de Paço do Lumiar, Domingos Dutra (PCdoB), autodeclarado o “maior adversário político” da família Sarney, estaria alinhavando uma situação por meio da qual apoiaria as candidaturas do deputado federal Weverton Rocha (PDT) e do ex-ministro do Meio Ambiente Sarney Filho (PV) ao Senado. Se tal equação político-eleitoral for mesmo montada, será a mais surpreendente dos últimos tempos no Maranhão, e demonstrará que a política não tem mesmo limites, é pura e simples circunstância. Independente dos fatores determinantes, é fato que Sarney Filho tem base polpitica forte em Paço do Lumiar, onde investe emendas e recursos que consegue na peregrinação ministerial. Tanto que chamou atenção o faro de que, meses após assumir a Prefeitura de Paço do Lumiar, Domingos Dutra foi ao Ministério do Meio Ambiente em busca de recursos, tendo sido recebido pelo então ministro Sarney Filho numa audiência que começou de maneira desajeitada e terminou em clima de total descontração, com uma série de projetos alinhavados. Como diria o célebre político maranhense Lister Caldas, raposa felpuda criada no Paço do Lumiar, “quem viver, verá”.
São Luís, 19 de Junho de 2018.