Numa das suas edições recentes, o jornal O Estado de S. Paulo trouxe matéria especial sobre a crise de identidade que atinge o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Em quatro páginas densas, o jornal paulista mostra que depois da derrota em 2014 os tucanos estão perdendo o rumo como oposição, abandonando teses que sempre defenderam ardorosamente e fracionando o partido em grupos que professam posições diferentes. A crise de identidade vivida pelo PSDB nacional caminha para contaminar e causar desdobramentos graves no braço maranhense do partido, cuja unidade é mantida por uma linha muito frágil, devido às diferenças que movem os grupos que o integram. Uma das consequências de um provável racha no PSDB do Maranhão poderá ser a saída de um dos seus mais importantes líderes, o deputado federal João Castelo.
Nesse contexto, os líderes do tucanato nacional veem com perplexidade e preocupação membros do PSDB tomando rumos diferentes da orientação partidária em todo o país, desenhando alianças que dificilmente levarão o partido a um rumo do seu real interesse. E um dos exemplos está no Maranhão, onde o PSDB é representado no Governo pelo vice-governador Carlos Brandão, mas sem uma aliança sólida com o restante do partido.
Uma observação cuidadosa encontra o braço maranhense do PSDB em situação quase conflituosa com as posições hoje defendidas pelo partido e que agora os segmentos mais tradicionais da legenda tentam reimplantar como princípios imutáveis. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e muitas outras vozes tucanas criticaram duramente o atual presidente do partido, senador Aécio Neves por ele insistir na tese de impeachment para a presidente Dilma Rousseff e nas críticas que ele vinha fazendo ao ajuste fiscal. Para aqueles líderes, defender impeachment de Dilma parece intenção de golpe, coisa que, em tese, o PSDB abomina. E criticar o ajuste fiscal é negar o que fez o próprio governo Fernando Henrique, que ajustou brutalmente as suas contas para equilibrar o governo e inventou e implantou o fator previdenciário.
Em meio à turbulência o partido vive uma situação de fragilidade, não dá sinais de que tenha teses a defender e procura dar a volta por cima para se firmar como uma agremiação que possa vir a disputar o poder de fato no estado. Um exemplo recente foi a filiação do ex-prefeito de São José de Ribamar, Luis Fernando Silva, que se prepara para brigar de novo pelo cargo.
No contexto geral, o PSDB maranhense encontra-se, de fato, sem poder efetivo e com o futuro incerto. Tem o vice-governador do Estado, Carlos Brandão, que se movimenta com habilidade, é prestigiado pelo governador Flávio Dino (PCdoB), mas não tem poder de fato. Preside o partido sem fazer o papel de líder, porque nas entranhas da agremiação enfrenta adversários que aguardam a oportunidade certa para tomar-lhe o comando partidário. Brandão é homem de proa de um governo tecnicamente anti-tucano, embora o governador comunista tenha realizado sua campanha com um pé no ninho.
Pesa para fragilizar ainda mais a unidade do PSDB a chamada “corrente Tocantina” do partido, comandada de Imperatriz pelo prefeito Sebastião Madeira cuja identidade partidária é genuinamente tucana. E é exatamente o projeto político de Madeira que poderá aprofundar mais ainda a crise de identidade do PSDB no Maranhão. O prefeito é candidato assumido a senador em 2018. Tem mantido um bom relacionamento com o governador Flávio Dino, mas o fato de Madeira haver apoiado a pré-candidatura de Luis Fernando Silva, com o aval da então governadora Roseana Sarney o distancia do Palácio dos Leões, onde o “núcleo duro” ligado ao governador o vê com reservas, e ele sabe disso.
Hoje, o PSDB do Maranhão tem pelo menos três correntes que o tornam uma colcha de retalhos e que dificilmente se enquadrará, unido, no perfil partidário agora desenhado pelos líderes do tucanato nacional. Essas diferenças vão se acentuar quando o partido tiver de decidir como participará da corrida para a prefeitura de São Luís, por exemplo.
PONTOS & CONTRAPONTO
Fantasma em Rosário
O jornal O Imparcial divulgou ontem, em manchete de 1ª página, a descoberta, pela Secretaria de Estado de Transparência e Controle, do resultado de uma auditoria denunciando o pagamento, pelo Governo do Estado, de R$ 4,2 milhões por um hospital de 50 leitos em Rosário. De acordo com a reportagem, o hospital simplesmente não existe. Segundo o jornal, procurado para esclarecer, o ex-secretário de Saúde, Ricardo Murad (foto), respondeu o seguinte: “Sem maiores elementos, tenho pouco a dizer, a não ser que o programa é atestado pela gerenciadora do BNDES, que detém o poder de autorizar o pagamento de faturas apresentadas pelas empresas. Essa situação não tem condição de acontecer”. Claro que esta explicação de Murad deixa muitas dúvidas no ar e certamente não convenceria um promotor de Justiça bem informado.
João Goulart
A Assembleia Legislativa aprovou ontem o Projeto de Lei Nº 110/2015, proposto pelo governador Flávio Dino que autoriza o Governo do Estado a adquirir imóveis pertencentes ao INSS na cidade de São Luís, através de doação em pagamento de dívida com o Instituto. Na mensagem, o governador explica que o pagamento dos imóveis será feito com uma dívida de R$ 9,9 que o INSS tem para com o Estado do Maranhão. O projeto prevê a aquisição de três imóveis, sendo um deles o Edifício João Goulart (foto), um espigão cuja presença fere violentamente a beleza arquitetônica da Praça Pedro II, mas que certamente será muito útil para abrigar órgãos públicos.
São Luís, 30 de Junho de 2015.