Um novo MDB começou a nascer ontem no Maranhão. Depois de meses de um intenso cabo-de-guerra interno, entre as alas jovem e conservador, o braço maranhense deflagrou um amplo processo de renovação. Comandada pelo deputado estadual Roberto Costa, a ala jovem saiu amplamente majoritária na estrutura de comando do partido, com domínio do Diretório estadual e da Comissão Executiva. Num grande acordo interno, que evitou o confronto que estava desenhado, as duas alas concordaram em manter o ex-governador João Alberto na presidência da Executiva, mas a ala jovem impôs sua força e ocupou todos os cargos importantes: Roberto Costa foi eleito 1º vice-presidente, o deputado federal Hildo Rocha ficou com a 2ª vice, e o ex-deputado federal Victor Mendes foi eleito 3º vice; Remi Ribeiro será o secretário geral, tendo como adjunto Francisco Soares, e Assis Filho será o tesoureiro. Após as definições, a palavra unidade começou a dominar os discursos das duas correntes.
O desfecho da luta pelo poder dentro do MDB maranhense se deu sem a influência direta do ex-presidente José Sarney nem da ex-governadora Roseana Sarney, que permaneceram em Brasília em operação permanente para preservar pelo menos alguns espaços de poder na máquina federal. A permanência do ex-governador João Aberto na presidência se deu mediante o compromisso por ele assumido de conduzir a transição que resultará na entrega do partido a um comando da ala jovem. Na prática, João Alberto vai continuar cuidando da gestão do partido, reconhecida como exemplar, ficando o 1º vice-presidente Roberto Costa com a responsabilidade de traçar e levar adiante a orientação política do partido.
Alguns observadores se equivocaram ao minimizar as mudanças feitas ontem no MDB. Parece não terem se dado cinta de que, com maioria no Diretório e com o controle da Comissão Executiva, a ala jovem passa a ter poder de fogo para dar as cartas no partido, podendo definir uma orientação política. E começa com o fato de que o ex-governador João Alberta, mesmo tendo cultivando algumas posições conservadoras, concorda com o movimento da ala jovem e aceitou permanecer na presidência exatamente para garantir um processo de transições sem maiores traumas. Todos sabem que o ex-presidente José Sarney continuará sendo a grande referência do MDB, e que a ex-governadora Roseana Sarney, pelo cacife que ainda detém e pela liderança que ainda exerce, terá influência nos destinos da agremiação. Mas sabem também que dificilmente imporão suas orientações.
Essa nova realidade começou a se desenhar no final do ano passado, quando a ex-governadora se apresentou para substituir João Alberto no comando do partido, mas foi avisada pelas duas alas que, se quisesse assumir a presidência do partido, teria de disputar o cargo em convenção. Ressabiada com a dura derrota que sofreu nas urnas, a outrora chefe incontestável preferiu permanecer onde está. O sonoro “não” à Roseana Sarney não apenas indicou que os Sarney não mandam como mandaram no partido, mas também sinalizou que a renovação no comando partidário teria de acontecer, de um jeito ou de outro. E aconteceu ontem, com uma tensão aqui, um mal-estar ali, um nhenhenhém acolá, mas com jeito de que o processo não tem volta.
O trabalho de articulação feitio por Roberto Costa, com o apoio de Victor Mendes e Assis Filho e outros deu à ala jovem do MDB força necessária para brecar o avanço da corrente que teve o deputado Hildo Rocha como representante. Certo de que sua posição seria derrotada, Hildo Rocha não participou da convenção, mas mandou recado reivindicando a 1ª vice-presidência; o cargo, porém foi destinado a Roberto Costa, restando-lhe a 2ª vice, que ele aceitou. A solução dessa foi possível com a intermediação do deputado federal João Marcelo, que preferiu não entrar na briga e permanecer apenas como membro do Diretório estadual.
– Agora é a hora de manter a unidade do partido, abri-lo para a sociedade, trazer novos quadros, para que o MDB volta a ser um grande partido – disse o deputado Roberto Costa, com a segurança de quem vai dar as cartas na agremiação a partir de agora.
PONTO & CONTRAPONTO
Atirando a esmo, Sérgio Cabral disparou também na direção de Roseana Sarney
No seu bombástico depoimento, o mais completo e espantoso que prestou ao juiz Marcelo Bretas, chefe da Lava Jato no Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) revelou falcatruas no Governo fluminense desde quando o também emedebista Moreira Franco – preso na semana passada por outras bandalheiras – esteve no comando do Estado, passando a bola para Leonel Brizola (PDT), Marcelo Alencar (PDT),
Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho (PDT e PMDB). Já condenado a mais de 200 anos de cadeia e ainda podendo amargar mais um ou dois séculos, Sérgio Cabral revelou que começou a roubar quando presidiu a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, detalhou as operações, traçou os perfis da quadrilha ao longo do tempo, deu nome aos corruptores, aos operadores e aos corruptos, apontou dados e valores roubados em cada gestão, enfim, abriu o verbo e mostrou que o rombo nas finanças do Rio de Janeiro é bem maior do que se imaginava até agora, tendo beneficiado até Aécio Neves (PSDB) na campanha presidencial de 2014, mesmo com Michel Temer candidato a vice-presidente de Dilma Rousseff (PT). E com a autoridade de maior desviador de dinheiro público do País, fez uma declaração bombástica: tem certeza absoluta de que tais falcatruas foram feitas “em todos os estados”, lamentando não ter Operações Lava Jato nessas unidades da Federação. Como foi enfático em afirmar “todos os estados”, não fazendo nenhuma exceção, e tendo o período citado coincidido com as gestões da ex-governadora Roseana Sarney (MDB), a líder maranhense foi indiretamente alcançada pela bomba acesa por Sérgio Cabral. Com a palavra, a ex-governadora do Maranhão.
“Rebelião” de aliados na Assembleia Legislativa mostra que há algo errado na base de apoio do Governo
Todas as evidências mostram que a “rebelião” de oito integrantes da base do Governo Flávio Dino na Assembleia Legislativa, que deixaram o plenário na quinta-feira para não votar matérias de interesse do Governo, como forma de pressão para a liberação de emendas carnavalescas, foi armada com o aval do deputado federal Josimar de Maranhãozinho, que comanda o PR no Maranhão. Para começar, três dos nove “rebelados” são do PR, a começar pela deputada Detinha (PR), sua mulher, e pelo deputado Hélio Soares (PR), acompanhados pelo deputado Leonardo Sá (PR) hoje seu aliado de primeira linha e influente conselheiro. Curioso ainda que os deputados Ciro Neto e Thaíza Hortegal, ambos do PP, partido comandado no estado pelo deputado federal André Fufuca, e mais curioso ainda o fato de os deputados Helena Duailibe e Rildo Amaral pertencerem ao Solidariedade, partido chefiado no estado por Simplício Araújo, atual secretário de Estado de Indústria e Comércio. Essas curiosas coincidências levantam a suspeita de que algo errado está acontecendo na base parlamentar do governador Flávio Dino.
Emedebista maranhense pode ser secretário nacional de Esporte de Alto-Rendimento
A menos que haja uma reviravolta no roteiro executado até aqui, o economista, professor universitário e pastor pentecostal João Manoel Santos Souza, maranhense radicado em Brasília, será o novo secretário nacional de Esporte de Alto-Rendimento da Secretaria Especial, antigo Ministério dos Esportes, absorvido pelo do Ministério da Cidadania, comandado pelo deputado federal Osmar Terra (MDB). Filho do ex-governador João Alberto e filiado ao MDB, João Manoel Santos Souza, foi candidato a suplente de senador juntamente com o ex-deputado federal Clóvis Fecury na chapa de Sarney Filho (PV). A imprensa nacional afirma que se trata de um pleito do ex-presidente José Sarney (MDB), que foi acatado pelo ministro Osmar Terra e cuja consumação só depende agora do aval do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O ex-governador João Alberto informa aprova a indicação, mas esclarece que dela não participou.
São Luís, 06 de Abril de 2019.