Eclodiu ontem, com estridência, a crise anunciada no PMDB do Maranhão. E como vinha sendo rascunhado desde antes das eleições de 2014, o pomo da discórdia chama-se Ricardo Murad. Ele vem se movimentando para dar as cartas dentro do partido, mas tem sido mantido distante do comando partidário pela ação decidida do senador João Alberto, que tem o controle da agremiação no plano estadual, e do deputado estadual Roberto Costa, que comanda o braço de São Luís. No meio da crise, a ex-governadora Roseana Sarney, líder maior do partido, move-se ora a favor de Murad, mais pelos laços de família do que por coerência partidária, ora do lado do comando do PMDB, que é eficiente e sempre foi leal ao grupo.
A crise chegou ao seu ápice ontem, na Assembleia Legislativa, com a reação do deputado Roberto Costa a declarações da deputada Andrea Murad. Ela disse, numa entrevista, que Roberto Costa devia “procurar o seu lugar” e deixar a decisão “para os líderes”. Costa poupou a deputada, mas foi na jugular de Ricardo Murad: “A história dele mostra que a palavra dele não vale uma moeda de real furada”. E foi mais longe: “Ricardo Murad não tem legitimidade política nem eleitoral. Ele é um desagregador. Ele não respeita ninguém”. E acrescentou: “Ele traiu o grupo, traiu aqueles que sempre lhe deram a mão. Por isso sua palavra não vale nada”. E fechou: “Não aceito, não admito e não vou deixar que o senhor Ricardo Murad paute o PMDB. E tem mais: o convite para ele deixar o PMDB está feito”.
A “guerra” interna vem de longe. O ex-deputado Ricardo Murad, depois de ter tentado algumas vezes, sem sucesso, tomar o comando pemedebista, decidiu agora dar as cartas no PMDB de São Luís e, nesse embalo, sair candidato a prefeito da Capital no ano que vem. O comando do PMDB se fechou para ele nos dois planos, escudado no argumento de que o ex-deputado não soma, só desagrega. E justifica sua posição trazendo à tona a trajetória partidária do Murad no PFL, PDT, PSB e agora no PMDB, por onde deixou um rastro de crises, tendo inclusive passado um longo período como inimigo político do Grupo Sarney.
Os sinais da confusão surgiram quando a deputada estadual Andrea Murad, filha e porta-voz política de Ricardo Murad, passou a criticar e da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa, comandada pelo deputado Roberto Costa, posição de oposição radical ao atual governo. À medida que Costa foi reagindo, a parlamentar ampliou a crítica para a esfera partidária, deixando claro que a intenção de Ricardo Murad era fazer com que a bancada pemedebista se submetesse à sua orientação. Além de Roberto Costa, os deputados Nina Melo e Max Barros deixaram claro que não entrariam no jogo do ex-secretário de Saúde.
A reação negativa do comando e da bancada estadual do PMDB às investidas de Ricardo Murad aumentou o clima de discórdia instalado no partido desde antes das eleições, quando membros do grupo o acusaram de usar a poderosa máquina da Secretaria Estadual de Saúde para favorecer as candidaturas de Andrea Murad e Souza Neto (PTN), seu genro. Desde que a Assembleia Legislativa foi instalada, Andrea Murad vem fazendo ataques sistemáticos ao governador Flávio Dino, principalmente na área da saúde, numa estratégia clara do ex-secretário Ricardo Murad de tentar inibir a gana com que o novo governo investiga sua gestão na Secretaria de Saúde com o propósito quase explícito de destruí-lo como homem público.
A crise ganhou mais intensidade depois que a ex-governadora Roseana Sarney retornou dos EUA. De um lado, Murad pressionando para dar as cartas no PMDB, do outro o comando do partido pronto para uma guerra, se necessário. Fiel da balança, a ex-governadora tentou convencer João Alberto e Roberto Costa a cederem espaço para Ricardo Murad no partido. Não conseguiu. Chegou a cogitar assumir a presidência do PMDB, mas logo percebeu que cometeria um erro tremendo. No momento, sabe que só imporá a vontade de Ricardo Murad se quebrar o PMDB, mas sabe também que isso será liquidar o maior, mais organizado e mais bem aparelhado partido político do Maranhão.
PONTOS & CONTRAPONTO
UFMA em momento de decisão I
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) vai hoje às urnas para eleger reitor e vice-reitor. Concorrem ao cargo de reitor Nair Portela, professora de Enfermagem, com mestrado e doutorado e larga experiência na gestão universitária, tanto que atualmente dirige o prestigiado Centro de Saúde da instituição; Antonio Gonçalves, médico e professor com mestrado e doutorado do Centro de Saúde e que atualmente preside a Apruma, braço sindical de professores e servidores; Antonio Oliveira, mestre e doutor em Física, atual vice-reitor da UFMA; e Sofiani Labidi, professor do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia. Apenas dois candidatos disputam a cadeira de vice-reitor: Marise Marçalina, do Departamento de Educação, e Fernando Carvalho, professor de Química e atual Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação.
UFMA em momento de decisão II
Visto de maneira estanque e superficial, o processo eleitoral que movimentará hoje a UFMA será mais um cumprimento de ritual sucessório para atender às normas que regem a instituição. Mas observado por um viés mais atento, o processo eleitoral pode seguramente ser interpretado como um marco. Isso porque o que está em jogo não é somente a escolha de um reitor e de um vice-reitor, mas a continuação ou não do modelo de gestão que marcou os oito anos do reitorado do professor Natalino Salgado. Antes dele a UFMA era uma instituição, no seu reitorado, ela se transformou e se agigantou: 96 cursos de graduação, nove campi, 1.650 professores, 25 mil alunos mais dezenas de cursos de pós-graduação, especialização, extensão, entre outros, que agregam mais 25 mil alunos. O que vem agora pode brecar esse movimento e estabilizar a instituição, levar a um retrocesso ou prosseguir ampliando suas estruturas.
UFMA em momento de decisão III
A candidata Nair Portela está na corrida defendendo as mudanças que ocorreram e continuam ocorrendo e que ela pretende ampliar, consolidando o modelo pragmático e de resultados do reitor Natalino Salgado, que a apoia, com o aval do PCdoB e do PT. O candidato Antonio Gonçalves é exatamente o contrapeso, representando um modelo de “democratização” da instituição defendido pelo PSOL, do qual é militante, e pelo PSTU, que o tem como candidato em aliança com o seu partido. Antonio Oliveira e Sofiani Labidi são candidatos com projetos próprios sem grandes grupos de apoio. Todas as pesquisas apontam preferência da maioria por Nair Portela.
Bomba na Câmara
Em meio à votação da reforma política, ontem, na Câmara Federal, o deputado Sarney Filho (foto), que lidera a bancada do PV, apresentou uma proposta bombástica: uma proposta de emenda à Constituição aumentando em dois anos o mandato dos atuais prefeitos e vereadores, para, assim, garantir a coincidência dos mandatos a partir das eleições de 2018. Se aprovada a proposta – que ninguém estava querendo apresentar -, todos os projetos de candidatura em andamento vão para o arquivo por mais 700 dias.
São Luís, 26 de Maio de 2015.
O PMDB acabou no Maranhão, está sendo lavado a jato. Ira seguir o mesmo destino do PDT, quando houve discordia, Jackson Tadeu e o mesmo filme, com novos atores.