Ato de campanha em São Luís entusiasma Fernando Haddad e reforça o cacife do governador Flávio Dino na esquerda

 

Fernando Haddad e Flávio Dino entre Márcio Jerry (e), Weverton Rocha, Bira do Pindaré diante da multidão no Anil, no ato realizado após a caminhada no bairro

Mais do que um mero ato de campanha do segundo turno da corrida ao Palácio do Planalto, a caminhada que o candidato do PT, Fernando Haddad, acompanhado do governador reeleito Flávio Dino (PCdoB), fez neste domingo em São Luís, mais precisamente no Anil, foi uma reafirmação de posições nesse momento decisivo para o Brasil. Nos discursos que fizeram na concentração, Fernando Haddad e Flávio Dino reafirmaram enfaticamente o posicionamento da esquerda brasileira em favor das instituições democráticas vigentes hoje no País, e repetiram as duras críticas que têm feito às inclinações autoritárias do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, a quem acusaram de “se esconder” na facada de que foi vítima para fugir do debate direto, “olhos nos olhos”. Fernando Haddad desafiou várias vezes Jair Bolsonaro num cara-a-cara em rede nacional, sendo apoiado por Flávio Dino, para quem a eleição sem esse debate será “uma fraude”.

A caminhada reuniu milhares de pessoas, entre militantes do PT, partidários do governador Flávio Dino e pessoas do povo, que fizeram questão de manifestar seu apoio ao candidato da aliança PT/PCdoB. O entusiasmo dos manifestantes foi tamanho que estimulou Fernando Haddad a declarar que o Maranhão terá “um amigo de fé” no Palácio do Planalto a partir de 1º de Janeiro se ele for eleito. O estado de ânimo da multidão fez lembrar que, no Maranhão, Fernando Haddad venceu o primeiro turno com 61% dos votos contra 39% do candidato do PSL. E no seu discurso, Fernando Haddad garantiu que o valor do Bolsa Família será aumentado em 20%. Na sequência, o governador Flávio Dino reafirmou seu apoio ao petista e  declarou: “Aqui no Maranhão nós vamos dar uma surra no soldado covarde, no fascismo, na ditadura e defender a democracia”.

Depois do ato, Fernando Haddad – que estava acompanhado da presidente nacional do PT, senadora Gleise Hoffmman (PR) – e o governador Flávio Dino concederam uma longa entrevista coletiva, na qual o presidenciável falou sobre seu plano de Governo, a campanha, os conflitos, as suspeitas de armação pelas redes sociais, e fez reiteradas declarações de defesa da democracia, que para ele estará em risco se Jair Bolsonaro for eleito. Isso porque, segundo o petista, “ele  (Bolsonaro) não honra a farda que já vestiu, tanto que teve que sair do Exército”. Em tom e ênfase idênticos, o governador Flávio Dino externou a mesma preocupação, deixando claro que o Maranhão será um bastião de resistência a qualquer tentativa de alterar a estrutura institucional num eventual governo de Jair Bolsonaro. Lembrou que no Brasil colonial o Maranhão foi o primeiro reduto a se rebelar contra a Coroa portuguesa na Revolta de Beckman em 1684. “Aqui não tem vez para ele”, assinalou o governador.

A passagem de Fernando Haddad por São Luís, ontem, cumpriu uma etapa da campanha, como fora programado. Mas, diferentemente do que tem acontecido em outros estados, o ato em São Luís confirmou a importância política do governador Flávio Dino no campo da esquerda e no cenário nacional. Em suas manifestações, o governador sempre foi além da disputa presidencial em si, enveredando por temas como a defesa do estado democrático de direito, fazendo alertas sobre os riscos que a  democracia brasileira está correndo. Pregou a união da esquerda com o centro para fazer frente ao fortalecimento do estado democrático de  direito, que vem conseguindo mobilizar todos os  segmentos. Nesse contexto, Flávio Dino tem se firmado como uma das principais vozes do campo democrático, sinalizando que cedo ou tarde testará seu prestígio nas urnas nacionais. A reação dos aliados, como a de Fernando Haddad, por exemplo, só reforçam essa tendência.

Seja eleito ou não, o candidato do PT saiu mais uma vez de São Luís com a certeza de que tem um aliado forte e determinado no comando político do Maranhão e de que não será surpresa se sair das urnas maranhenses com mais uma vitória.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Visita de José Reinaldo para declarar apoio a Bolsonaro reforça cacife de Maura Jorge

Maura Jorge recebe José Reinaldo: encontro pode transformá-la numa ponte se Jair Bolsonaro for eleito presidente

Foi de forte simbolismo político, a visita que o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSDB) fez à ex-candidata do PSL ao Governo do Estado, Maura Jorge, para declarar seu apoio à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). Sexto colocado na corrida para o Senado, e magoado com as trombadas e escorregões que protagonizou no último ano e pelos quais aponta responsáveis, José Reinaldo, além de estar buscando um espaço político nos próximos tempos, fez o que parece ser uma tendência: transformar a ex-prefeita de Lago da Pedra na principal via de acesso ao eventual Governo do candidato do PSL. Apontada por muitos como foco de crise e de não ter tato nem credibilidade para tanto, Maura Jorge, entre um tropeço e outro, vai aos poucos deixando, por exemplo, o presidente estadual do PSL, vereador por São Luís Chico Carvalho, para trás. Na semana passada esteve em Brasília, onde conversou com a cúpula que dá suporte a Jair Bolsonaro, e foi recebida com festas no Aeroporto do Tirirical ao retornar a São Luís – se a manifestação foi armada, não se sabe ainda, mas que funcionou nas redes sociais, funcionou. A visita do ex-governador José Reinaldo pode ter funcionado como uma espécie de senha para que outros políticos, ávidos de uma aproximação com o favorito na corrida presidencial, a procure como o canal por meio do qual os interessados possam chegar aos núcleos bolsonarianos de poder em Brasília. Se, Bolsonaro for eleito, Maura Jorge terá esse poder de fogo possível, sinalizado com a visita de José Reinaldo. Isso só se saberá se a eleição for consumada. Em caso afirmativo, ninguém duvida de que, se tiver habilidade como teve ousadia ao se candidatar ao Governo, Maura Jorge poderá ganhar musculatura como Oposição no Maranhão.

Por força de liminar a habeas corpus, Ricardo Murad deixa a prisão

Ricardo Murad chegando à sede da Polícia Federal no Maranhão para se entregar na manhã de quinta-feira

O ex-deputado estadual Ricardo Murad (PRP) deixou a prisão na noite de sábado, beneficiado por medida liminar concedida pela desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso, que acolheu habeas corpus impetrado pela defesa do ex-parlamentar, que é suspeito de comandar um esquema de corrupção na Secretaria de Estado da Saúde. Ricardo Murad fora preso na manhã de quinta-feira, em mais uma fase da Operação Sermão dos Peixes, que investiga o suposto desvio de centenas de milhões de reais de recursos do Sistema Estadual de Saúde no último Governo de Roseana Sarney (2011/2014).

Ricardo Murad, no início deste ano, foi levado coercitivamente para prestar depoimento na Polícia Federal, passando mais de 10 horas sendo ouvido por delegados federais. Na prisão de quinta-feira, que tinha caráter temporário com prazo de cinco dias, o ex-deputado não foi encontrado pelos policiais em casa, mas horas depois se apresentou na sede da PF, sem a presença dos seus advogados, onde foi informado que estava preso. Em seguida, foi submetido a um longo interrogatório. Ainda na quinta-feira, seus advogados impetraram um habeas corpus com o objetivo de libertá-lo. A desembargadora Maria do Carmo Cardoso acatou o pedido da defesa e mandou soltá-lo.

A prisão de Ricardo Murad teve forte impacto no cenário político do Maranhão, principalmente porque agravou ainda mais a situação política dele, que acabou de sair de uma eleição sem conseguir eleger-se deputado federal e vendo a filha, deputada Andrea Murad (PRP), não conseguir se reeleger, consumando um revés que começou com a desistência do genro, deputado Souza Neto (PRP), de tentar mais um mandato na Assembleia Legislativa. Uma situação radicalmente diferente de 2014, quando ele, então deputado estadual licenciado e todo-poderoso secretário de Estado da Saúde, responsável absoluto pela implantação do Saúde é Vida, o mais ambicioso e caro programa do último Governo de Roseana Sarney, que previa a construção de 72 hospitais. A posição lhe deu poder de fogo para eleger a filha e o genro para a Assembleia Legislativa – um caso inédito, que chamou a atenção pelo seu grau de ousadia.

Ainda que de caráter temporário, a prisão complicou muito a sua situação política, que dificilmente será a mesma a partir de agora, ainda que se considere o fato de Ricardo Murad ser um político inteligente, audacioso e hábil, virtudes que certamente o teriam levado muito longe não fosse a sua notória falta de noção de limite.

São Luís, 21 de Outubro de 2018.

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