O governador Flávio Dino (PCdoB) começa a emitir sinais bem claros de que o projeto político dele vai muito além de um ou dois mandatos de governador do Maranhão. A desenvoltura com que o chefe do governo do Maranhão vem participando de movimentos de peso dá, se não a medida exata, indicações bem nítidas de que ele opera para ocupar um espaço expressivo no cenário político regional e, por via de desdobramento, no plano nacional. Dois eventos ocorridos na semana que passou – a manifestação dos nove governadores nordestinos de apoio à presidente Dilma Rousseff e a realização em São Luís de encontro nacional da Associação de Juízes Federais – são reveladores de que o horizonte político do governador vai além das fronteiras do Maranhão.
Na quarta-feira (25), nove governadores entregaram à presidente Dilma Rousseff, em Brasília, uma carta na qual declaram apoio total à governabilidade, defendem o governo da presidente da República, reafirmam compromisso inabalável com o pleno estado democrático de direito e repudiam qualquer movimento que sugira um retrocesso político e institucional no país. Ao mesmo tempo, os governadores avaliam como preocupante a situação do país e recomendam a definição de uma nova agenda política e econômica como caminho para o Brasil sair da crise.
O governador do Maranhão foi, se não o principal, um dos principais articuladores do movimento que levou os chefes de Estado nordestinos ao Palácio do Planalto. Isso porque ele tem construído pontes com seus colegas da região, defendendo que eles precisam estar articulados. Dino também tem se colocado como interlocutor de alguns governadores com o Governo Federal. Isso quer dizer que, ao contrário do que alguns adversários andaram soprando nos bastidores, ele já teria superado o clima não muito ameno resultante da campanha eleitoral, pelo fato de ter aberto espaço no Maranhão para o tucano Aécio Neves e também para o socialista Eduardo Campos. De acordo com fonte com trânsito no novo governo, o torcer de nariz da presidente Dilma em relação a Dino fora fruto de intrigas, e por isso não se sustentou. Agora, o entrosamento do Palácio dos Leões com o Palácio do Planalto é intenso e, segundo a mesma fonte, “produtivo”.
Ao articular os governadores para dar suporte político à presidente Dilma, o governador Flávio Dino tece uma ampla rede de canais de conversação política, formada por ninguém menos que governadores, na maioria políticos jovens, que também buscam se fortalecer nesse cenário. De todos eles, Dino é o que tem maior visibilidade nacional, dada sua atuação como juiz federal e presidente da Associação dos Juízes Federais, como deputado federal e como presidente da Embratur, imagem muito fortalecida como o líder político que quebrou a hegemonia do Grupo Sarney no Maranhão com uma vitória eleitoral retumbante, com ampla repercussão em todo o país. Hoje, o governador do Maranhão é figura frequente no noticiário político nacional, tendo os registros de imprensa sempre favoráveis.
Não foi por acaso que a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) realizou seu encontro em São Luís. Poderia tê-lo feito em qualquer outra cidade brasileira, mas optou por se reunir na Capital do Maranhão motivada pelo governador Flávio Dino, que quando magistrado foi um dos mais ativos presidentes da entidade, e que, mesmo tendo deixado a magistratura federal em 2006, para ingressar de vez na política, manteve sólidos laços com a categoria e com a entidade. O encontro deu-lhe a oportunidade de declarar apoio incondicional à Carta de São Luís, documento final do encontro no qual os magistrados federais se posicionaram em relação a uma série de temas do momento, como reforma política, melhorias no Judiciário, garantias constitucionais para a magistratura e combate à corrupção. Com essas manifestações, o governador alimenta seu discurso e sua existência política no plano nacional.
Flávio Dino sabe que tem uma estrada pela frente e que poderá trilhá-la para dar sequência a um projeto político ousado e desafiador. Mas sabe também que o primeiro e mais complicado desafio está em casa, que é cumprir os compromissos que assumiu com os maranhenses de dar solução para os seus problemas mais complexos e angustiantes. A essas alturas, já deve ter plena consciência de que a tarefa não será fácil, mas pode também ter chegado à conclusão de que a transformação é possível e viável.
Os próximos passos revelarão o seu rumo.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Sabe das coisas
O deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) tem sido um dos integrantes mais ouvidos por seus colegas de bancada federal que participam da base de apoio do governador Flávio Dino. Motivo: o ex-governador conhece como poucos os caminhos de Brasília, onde já foi ministro dos Transportes, diretor-geral do DNOS, presidente da Novacap e outros cargos menos visíveis, mas muito influentes. Para um amigo dele, mesmo considerando que Brasília mudou muito desde que ele foi ministro, o fato de ele ter sido governador por cinco anos o manteve atualizado sobre as entranhas do poder no Planalto Central.
Marco histórico
O deputado federal Pedro Fernandes (PTB) gostou da reunião de prefeitos com a bancada federal realizada pela Famem, sexta-feira, em Imperatriz. Observou que foi o primeiro encontro dessa natureza realizada na Região Tocantina, o que, em sua opinião, contribuiu para aproximar prefeitos e parlamentares, possibilitando assim a unificação de um discurso em favor dos municípios. Para Fernandes, que é um dos parlamentares mais ativos e tarimbados do Maranhão, o encontro pode ser visto como “um marco” na história política do estado.
Chapa quente I
Muito comentado na Assembleia Legislativa e fora dela o desafio feito pelo deputado Souza Neto (PTN) ao deputado Othelino Neto (PCdoB). Trata-se do seguinte: respondendo a discurso em que Othelino Neto acusou o ex-secretário estadual de Saúde, Ricardo Murad, de cometer desvios no exercício do cargo, Souza Neto o desafiou a mostrar documentos e avisou que tão logo os apresente, ele apresentará na tribuna provas documentais de que o deputado comunista também teria cometido irregularidades graves quando foi secretário estadual de Meio Ambiente.
Chapa quente II
O tom usado pelo deputado Souza Neto foi o que ele parece mesmo disposto a travar um embate pesado com o deputado Othelino Neto. O clima ficou tão pesado que a turma-do-deixa-disso, que percebeu a tensão no ar, estaria se movimentando para acalmar os ânimos e fazer de conta que nada aconteceu. Parece, no entanto, que essa estratégia não vai funcionar, porque Souza Neto vai continuar disparando chumbo grosso contra o governo, o que, cedo ou tarde, levará Othelino Neto a reagir em defesa do Palácio dos Leões.
Para apaziguar
Há quem diga que o clima de confronto entre os deputados Souza Neto e Othelino Neto só não pegará fogo se o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT), interceder pedindo calma.
São Luís, 28 de Março de 2015.